«Tentaram arrancar a vedação»: histórias e aventuras do dérbi

8 meses atrás 50

Pegar no carro e arrancar pela A22. São 70 quilómetros pela frente. 70 quilómetros que separam dois emblemas históricos em Portugal, mas que também unem uma história de rivalidade eterna. Chegou a altura do reencontro. Chegou a altura do Portimonense receber o Farense.

Esta será a 69ª vez que se encontram. A 13ª na Primeira Liga. Um duelo carregado de história. Um duelo que opõe os grandes representantes do Algarve na primeira divisão. Um dérbi à moda antiga.

Uma história tão antiga que nos leva a 1983. 28 de agosto. Tempo de verão que recorda o calor algarvio e o primeiro encontro entre Portimonense e Farense na Primeira Liga, após vários duelos em divisões inferiores.

16h00. Sol aguerrido, ambiente quente - quer em campo, quer fora dele. Primeira jornada do campeonato. Também numa receção dos alvinegros aos leões.

«Invalidaram-me o golo mais bonito»

Minuto 14. Nélsinho abre o marcador. De seguida, o empate e reviravolta farense - com os três pontos ali tão perto. A pouco menos de dez minutos do fim, aparece Serge Cadorin (recorde AQUI a história do 'James Dean de Portimão') a estragar os planos do técnico búlgaro Hristo Mladenov.

José Rafael e Gilberto Alves na época 83/84 @DR

Os dois golos do Farense? José Rafael. E, 41 anos depois, esteve o antigo avançado e internacional português à conversa com o zerozero para relembrar o momento. Foi o seu jogo de estreia no regresso ao emblema, passadas quatro temporadas a representar o Amora e... o Portimonense.

«Um ambiente fantástico. Ambiente de sonho. Quando o jogo começou, parecia que o estádio não ia encher totalmente e ainda havia muita gente fora. Encheu. Foi um jogo com ambiente de sonho. Não há palavras», começou por recordar.

Sobre o jogo em si, há uma mágoa que fica: «Fiz três golos. Invalidaram-me o golo mais bonito. Isso provocou uma invasão de campo. Tentaram arrancar a vedação, tentaram entrar para dentro do campo, porque foi um golo que foi invalidado injustamente. Empatámos 2-2, mas o resultado justo, na altura teria, sido a vitória. Hoje, com VAR, nunca teria sido invalidado.»

As memórias que permanecem na memória de José Rafael, até então, são estas. De um ambiente fervoroso a anteceder cada dérbi algarvio - ainda que o próprio tenha mencionado que o grande dérbi era o duelo entre Farense e Olhanense -, mas, também, o saber de cor e salteado todo o onze inicial dos leões de Faro escolhido para esse encontro com o Portimonense há mais de 40 anos.

«Há sempre qualquer coisa extra» 

De goleada a goleada em resposta. Voltamos a deixar 2024 e recuamos a 1987. Final de temporada, o Farense vence por 4-0. Início da temporada seguinte, o Portimonense vence por 3-0

Poucos foram os jogadores que viveram ambos os encontros, mas um deles recorda-se dos momentos. Francisco Barão, antiga glória do Sporting, representava os alvinegros na altura e relembra a intensidade e aura que pairava no Algarve aquando dos reencontros entre os emblemas, em conversa com o zerozero.

«Os dérbis são sempre dérbis. Seja onde for. Dérbis do Porto, sejam os dérbis do Minho, dérbis de Lisboa... e o dérbi do Algarve era Farense e Portimonense. Naquela altura, havia uma luta muito grande. Quem era a melhor equipa do Algarve ou quem era a equipa do Algarve que se classificava melhor. Não é só um dérbi regional, era também um dérbi de interesses, de classificação, de sermos melhores. Mexia sempre connosco - não quer dizer que nos outros jogos não entrássemos com vontade enorme de ganhar, mas há sempre qualquer coisa extra», explica. 

Sobre esses duelos, Francisco Barão afirma, entre risos, que se lembra muito mais vivamente da vitória do que da derrota. «Se eu tivesse o Tomé ao meu lado...», relembrou, referindo que se havia pessoa para questionar até minutos de golos era o companheiro de Sporting.

Viveu em Portimão durante sete anos e diz que sempre sentiu essa emoção em torno do jogo e carinho pela cidade: «Tenho boas recordações. Foi lá onde os meus filhos [n.d.r: um deles é treinador do Olivais e Moscavide e defrontou o Sporting há poucos meses] começaram a ir à escola. Tenho muito boas recordações da época e tenho muitos amigos em Portimão e é, até agora, a cidade onde vou passar férias.»

Rivalidade em números: o equilíbrio algarvio

Como já referido, Portimonense e Farense viveram este momento conjunto por 68 ocasiões. Entre várias divisões e várias alturas diferentes, o primeiro duelo - ainda na II Divisão - data de 1944/45. Passaram 80 anos e ambos os emblemas respiram os ares de Primeira Liga. Respiram rivalidade e futebol. 

68 jogos. 25 vitórias do Portimonense. 27 vitórias do Farense. 16 empates. 

Na Primeira Liga, nunca uma equipa venceu na casa do rival. Em 12 jogos primodivisionários, seis empates. Quatro vitórias do Portimonense em Portimão. Duas vitórias do Farense em Faro. 26 golos marcados no total.

Tanto José Rafael como Francisco Barão deram os próprios prognósticos. O antigo jogador dos leões de Faro - que também passou pelo rival -, confia no trabalho de José Mota e ambiciona a vitória «para terminar a primeira volta com uma das melhores classificações de sempre».

Já o antigo representante do Portimonense afirma que, apesar da época de altos e baixos, espera «que faça uma época boa, tranquila e no meio da tabela» e, já agora, até pela rivalidade, «que fique à frente do Farense».

Depois de tantas linhas de história escritas e reescritas, esta sexta-feira há espaço para novos parágrafos. 

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