“Ter 5G disponível em todo o lado e para toda a gente é uma medida fundamental!”

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Em Lisboa para participar no evento tecnológico organizado pela Microsoft, Building the Future (21 e 22 de fevereiro), Massamba Thioye é responsável pelo Global Innovation Hub da ONU. A deslocação a Portugal, na qual visitou também, por exemplo, o centro de investigação localizado em Matosinhos, CEiiA, e a participação no evento aconteceram por convite da empresa portuguesa de consultoria em transformação digital Unipartner, que “assinou um protocolo com as Nações Unidas, com o Global Inovation Hub”, conta Fernando Reino da Costa, Presidente e CEO da empresa.

Que papel cabe à transformação digital no combate às alterações climáticas?  

A transformação digital é crítica para a transição verde e há muitos exemplos que mostram que sem a transformação digital não conseguimos atingir a transição verde. Olhemos para o Sul Global. Não é possível acompanhar o ritmo de desenvolvimento do norte porque faltam muitas infraestruturas, como escolas e hospitais. Se quisermos construir as infraestruturas de forma a satisfazer todas as necessidades, de educação, saúde, mobilidade, acesso a serviços, da mesma forma como foi feito no Norte não conseguiremos atingir os objetivos de sustentabilidade climática. Temos de dar um salto, pela tecnologia, pela digitalização, de forma a atingir estas necessidades essenciais ao ser humano.

Há alguma tecnologia que se destaque?

Um exemplo é o 5G. Conseguir disponibilizar esta ligação a toda a gente é crítico para conseguirmos atingir a transição verde. Podemos ter e-learning, em vez de ter de construir escolas, e-medicina, em vez de precisarmos de construir hospitais. Isto só poderá acontecer se retirarmos o melhor da transição digital, o que nos permitirá equiparar o Sul ao Norte, sem comprometer os objetivos climáticos e preservando o planeta. Ter 5G disponível em todo o lado e para toda a gente é uma solução com grande impacto, é uma medida fundamental!

As necessidades são equivalentes em todo o Planeta?

Acredito firmemente que a transição digital é mais necessária no Sul Global, é essencial para que este possa dar o salto. Se não tivermos acesso inclusivo ao digital no Sul, se for deixado para trás, podemos dizer adeus à nossa transição verde.

Para isso, a cooperação entre países é essencial, como realçou na sua conferência. Numa altura em que enfrentamos dois conflitos de grande dimensão como podemos pensar em cooperação entre nações?

Concordo com esta observação. De facto, é um assunto crítico neste momento. Mas a cooperação tem de acontecer. Sem colaboração radical entre todas as nações não seremos capazes de ultrapassar os grandes desafios que enfrentamos. Como é que o conseguimos? Temos de aproveitar qualquer oportunidade de trabalhar em conjunto. É um desafio, mas o facto de se tratar de uma crise global também é uma oportunidade. Mesmo que existam divergências políticas, interesses díspares, os países precisam de trabalhar em conjunto, têm de ser capazes de o fazer, no que se refere às alterações climáticas. Outra ideia importante é que quando trabalhamos juntos, acabamos por valorizar as contribuições de cada um dos envolvidos, torna-se evidente que sozinhos não seremos capazes.

Acredita que esta colaboração entre nações virá mesmo a acontecer?

Terá de acontecer! Os EUA e a China já colaboram, por exemplo, no que se refere às alterações climáticas. E isto ajuda a criar uma confiança entre as nações. Depois de construída esta confiança, os países podem partir para a cooperação noutras áreas. Também procuramos a colaboração de empresas, como a Microsoft, ou a Google, porque estas companhias têm o poder de contribuir para a mudança, podem desempenhar um papel muito importante. Precisamos de mudar, de nos afastar do modelo anterior, precisamos de inovar. Primeiro desenvolve-se o produto e depois procuram-se formas de o aplicar. A procura de soluções é uma motivação para a inovação.

As empresas podem ter um papel mais relevante do que os governos?

Precisamos de ambos. De inovação por parte do setor privado e por parte das empresas. A diplomacia não será suficiente. Não mudamos de cavalos para carros pela taxação dos cavalos. Foram precisas pessoas que inventaram os carros e pessoas, do setor privado, que investiram nos automóveis.

Nesta relação com as empresas por vezes acontece o chamado greenwashing. Como distinguir e evitar estas participações ‘interesseiras’?

Sim, concordo consigo, existe greenwashing. Por isso digo que é preciso “cuidar, partilhar, ousar” (em inglês caring, sharing, daring). Tem de existir preocupação genuína pelo bem-estar das pessoas e do Planeta, só assim conseguimos evitar o greenwashing e que se esteja apenas à procura de reconhecimento.

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