The Bam Jam Band: “Tudo é tocado sem qualquer restrição num processo de composição colectiva”

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Em Abril passado, Sérgio Alves e Pedro Tenreiro uniram esforços enquanto The Bam Jam Band no duplo single “Theme / Don’t Go Away”, que mereceu edição em vinil de 7” por parte da Mad About Records (MAR).

Sérgio Alves é o mago dos teclados que melhor conhecemos pelo trabalho enquanto bandleader no projecto Azar Azar, nome que orbita em torno do planeta Jazzego, editora pela qual lançou o LP de estreia Cosmic Drops. Já Pedro Tenreiro é um veterano DJ da cena portuguesa fascinado pela música negra mais obscura e também autor do programa Mapa do Tesouro na Antena 3.

Em “Theme / Don’t Go Away”, o par apresenta novo combustível para as pistas de dança através de grooves funk e disco embebidos em arranjos jazzísticos, recuperando o lado mais orgânico da música electrónica que faz o corpo balançar. Pedro Ferreira (baixo) e Kiko (vozes) foram os dois artistas convocados para ajudar a tecer as faixas que apresentam a recém-criada The Bam Jam Band.

O Rimas e Batidas endereçou algumas perguntas à dupla para uma breve entrevista que podem ler já de seguida.



A primeira pergunta é inevitável, claro: como é que este encontro aconteceu? Já se conheciam, claro…

[Pedro Tenreiro] Conheci o Sérgio há uns anos. Ele era teclista da banda da Marta Ren e eu era o manager. Percebi imediatamente que estava perante alguém que dominava as linguagens da música afro-americana, algo pouco comum entre nós. Foi uma questão de tempo desafiá-lo a trabalharmos juntos. É um dos protagonistas do disco de Bonfim, e até contribuiu para a composição de um tema.

[Sérgio Alves] Como o Pedro referiu, conhecemo-nos pessoalmente quando eu tocava com a Marta Ren. Obviamente que eu sabia quem era o senhor Tenreiro já desde os Illmatic & Phaser, de quem tenho um EP que foi editado pela Kami Khazz.

O Pedro é um criador incansável e nos últimos tempos deu-nos o projecto Bonfim, bem como uma série de re-edits através do digei de bairro. O que é que distingue este projecto, The Bam Jam Band, de outras coisas que fizeste no passado, Pedro?

[PT] Aqui a abordagem à criação é completamente diferente. Bonfim é uma declaração de amor ao sampling, partilhada com o Hugo Passos. Nasce da nossa paixão pelo hip hop, principalmente dos 90’s. digei de bairro é apenas um exercício de reconstrução de temas alheios, uma forma de descomprimir, como se de um jogo se tratasse, que culmina em ferramentas que podem ser usadas em clubes. Em The Bam Jam Band, embora se parta de beats pré-gravados, que eu “samplo” e edito, tudo é tocado sem qualquer restrição, num processo de composição colectiva que junta a minha visão enquanto DJ e produtor com o enorme talento do Sérgio, expresso nos mais variados teclados.

Como decorreram as sessões? Foram logo para estúdio? Ou houve trabalho de pré-produção?

[PT] É tudo muito fluido e espontâneo. Primeiro escolhemos sobre que beat vamos trabalhar. Depois criamos uma linha de baixo, muitas vezes cantada por mim em momentos hilariantes. A partir daí deixamo-nos ir. O Sérgio sugere malhas, eu sugiro audições que apontem para determinados ambientes e a coisa acontece muito rápidamente. Posso dizer-te que as bases de cada tema são feitas numa manhã e raramente recuamos. O que se segue é limar pequenos detalhes, fazer takes definitivos, misturar e masterizar. Tudo no estúdio caseiro do Sérgio.

[SA] Bom, como disse o Pedro, até aqui o processo criativo tem sido bastante espontâneo numa lógica de jam. O Pedro vai gravando uns loops na sua MPC, que depois me envia. Eu geralmente ouço-os assim meio na diagonal… E só mesmo quando estamos juntos à frente do Ableton Live é que escolhemos os beats a trabalhar. Aí iniciamos uma viagem em jeito de jam session.

Esteticamente, como definem a música que estão a fazer juntos?

[PT] É música feita a pensar na pista de dança, num abordagem orgânica, sem estar limitada pela quantização e pelos BPMs. Depois reflecte aquilo que os nossos gostos têm em comum: o disco, o jazz-funk ou o soulfull house dos 90’s. 

[SA] Música para dançar.

Começam por editar em single. Porquê este formato?

[PT] Além de ser um fetiche, permite-nos ir partilhando o nosso trabalhos sem pressões. Temos coisas para editar? Maravilha. Não temos? Havemos de ter! Por outro lado, reduzimos o foco de quem nos ouve a apenas dois temas. E isso reforça o seu impacto.

Estão a lançar num selo que tem estado focado sobretudo em reedições. Como é que se dá este encontro com a MAR?

[PT] O Joaquim Paulo é um dos meus grandes amigos, há quase 40 anos. Foi a música que nos juntou e a constante partilha das nossas descobertas é a espinha dorsal da nossa relação. A Mad About Records reedita discos que eu adoro e o seu selo que qualidade e prestígio no meio é inquestionável. Achei que se a nossa música fosse lançada pela editora iria merecer outro tipo de atenção e que, apesar de ser nova, tem muito a ver com algumas das coisas que o Joaquim Paulo tem desvendado. Depois, tivemos a sorte de ele ter adorado o que lhe mandámos!

Existe um álbum no horizonte?

[PT] Não pensamos nisso. Uma colectânea de singles com dois ou três inéditos, quem sabe, um dia…

[SA] Nunca havia pensado nisso, mas sim, uma colectânea de singles com inéditos parece-me uma boa meta.

Será possível esperar uma declinação de palco deste projecto? Como irá funcionar, caso estejam a ponderar isso?

[PT] Se o Sérgio quiser e me arranjar um sofá, não me oponho!

[SA] Bom, confesso que ainda não pensei a esse respeito e nem estou muito inclinado para tal. O Pedro, por vezes, desafia-me no sentido de transportar os temas para um formato banda, no entanto, neste momento estou mais focado em criar de forma descomprometida sem pensar na versão live dos temas, e quais os músicos. Ainda assim, uns DJ sets B2B com uns teclados à mistura parece-me uma boa possibilidade.


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