Tiago Santos, ou «Derlei», chamado à seleção: recorde a entrevista ao zerozero

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Para o Estoril, a época 2021/22 foi sinónimo de sucesso. A equipa da Linha foi um dos destaques do campeonato, especialmente pelo que conseguiu fazer na primeira volta da Liga Portugal Bwin. Nomes experientes, como Joãozinho, ajudaram a que o Estoril Praia fizesse uma época tranquila, mas foi a qualidade de jovens como André Franco que abrilhantou ainda mais a temporada dos canarinhos.

Tiago Santos
Liga Portugal bwin 2022/23

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A nova época é, para já, sinónimo de recomeço. Além da equipa técnica, houve mudanças claras no plantel, mas a ideia do projeto continua a passar pela afirmação de jovens promessas do futebol português. Entre essas jovens promessas encontra-se Tiago Santos.

Conhecido no mundo do futebol como Derlei, o jovem formado no Sporting aproveitou a oportunidade que recebeu de Nélson Veríssimo e no momento da pausa das seleções já somou cinco jogos na Primeira Liga, entre eles partidas com Sporting e FC Porto. Depois de algum tempo para assimilar tudo o que se passou no mês de setembro, o lateral do Estoril Praia deu uma entrevista ao zerozero para falar do início da experiência na Primeira Liga e também do seu trajeto no futebol de formação.

Tiago Santos em época de estreia na Liga Portugal ©Catarina Morais / Kapta +

«Vir para o Estoril foi muito importante»

zerozero (zz): Bom início de temporada, 11 pontos, já jogaram com o Sporting e FC Porto. Como está a ser este arranque?

Tiago Santos (TS): Sinto que tivemos um bom arranque de campeonato, com desafios bastante difíceis. Temos feito um bom trabalho diariamente e por isso estamos a bater-nos bem no campeonato.

zz: No ano passado, o Estoril foi uma das equipas revelação. Qual é o objetivo para esta época?

TS: O objetivo enquanto equipa é garantir a manutenção. Claro que sonhamos mais alto, mas queremos dar passos sustentados.

zz: Uma média de idades baixa (menos de 24 anos). Tu és dos mais jovens. Vens de um contexto de formação, não sentes tanto a diferença. Há jovens, há também alguns jogadores experientes. Fala-me do plantel do Estoril.

TS: É um bom grupo de trabalho. É um grupo jovem, com alguns elementos mais velhos que nos ajudam constantemente. É um grupo equilibrado, com muita qualidade e com muita juventude.

zz: Contavas, na paragem de seleções, ter já cinco jogos da Liga portuguesa?

TS: Como jogadores do Estoril temos de estar preparados para tudo. Trabalhamos todos os dias para conseguir um lugar na equipa. Podemos ser chamados ou não, mas temos de estar sempre prontos para sermos chamados. Surgiu a oportunidade.

zz: Curiosamente já jogaste com o Sporting, clube onde fizeste a formação. O que sentiste?

TS: Desde que mudei para o Estoril, sabia que era uma possibilidade defrontar o Sporting. Tive a possibilidade de treinar com muitos jogadores com quem joguei, por isso foi muito bom.

zz: Tiveste também um jogo muito intenso com o FC Porto. Estiveram a ganhar até final. Ficou algum amargo na boca?

TS: Ficou um sabor amargo em todos nós. Jogámos contra o campeão nacional, mas demonstrámos muita personalidade nesse jogo. Fiquei com o sentimento de que merecíamos algo mais.

zz: Começas a jogar na equipa de sub-23, mas já tinhas feito jogos particulares na equipa principal. O que é que o mister Nélson Veríssimo te foi transmitindo?

TS: Sempre me transmitiu muita confiança, deixou-me tranquilo, também muito pela maneira como nos trata. Para mim foi muito natural.

zz: Como está a ser trabalhar com ele? E quais são as ideias do Estoril?

TS: Está ser bom. Era treinador do Benfica, tem experiência nas melhores competições e também por isso é bom trabalhar com ele. Queremos mostrar o nosso jogo. Gostamos de ter bola e é isso que tentamos meter em prática. A ideia mantém-se a mesma, em todos os jogos. Claro que há ajustes, mas isso é normal.

zz: O mister Nélson Veríssimo vai ficar marcado na tua carreira. Estreou-te a nível profissional. O que falaram nesse dia?

TS: O mister deixou-me tranquilo, veio ter comigo, disse que ia jogar e tranquilizou-me. Disse para desfrutar do momento e foi o que tentei fazer.

zz: Ele disse que foi uma boa estreia da tua parte. Como é que a avalias? Logo com assistência! É entrar em grande...

TS: Foi uma boa estreia. Podia ter feito muitas coisas melhor, mas foi uma boa estreia. O resultado não foi o que pretendíamos, mas foi uma estreia positiva. É bom contribuir para o resultado e ajudar a equipa. Temos de estar sempre preparados para ajudar.

zz: O dia da estreia é sempre um dia que os jogadores aguardam. Estavas nervoso?

TS: Não diria nervoso. Havia ansiedade, mas é normal quando algo bom está para acontecer. Depois com o desenrolar da partida foi desaparecendo.

zz: Estreias-te contra o Rio Ave, depois de o Gonçalo Esteves ter sido expulso contra o Vitória SC. Depois do jogo com o Rio Ave, o mister Nélson Veríssimo contou-nos que falou contigo em Guimarães, porque tinhas sido convocado, mas ficaste na bancada. Consegues contar-nos o que falaram?

TS: Foi no jogo com o Vitória SC. Estávamos a ver o aquecimento e o mister sensibilizou-me um pouco de que isto é normal, que estava a trabalhar bem e que as oportunidades aparecem quando menos esperamos. Também falou um pouco da sua história como jogador. Foi uma boa conversa.

zz: E foi certeira, não é? Na jornada seguinte, a oportunidade apareceu. Nesse dia, recebeste alguma mensagem especial, nomeadamente dos teus colegas de equipa?

TS: Sim. Temos de estar sempre prontos para ser chamados e mostrar rendimento. Eles vieram falar comigo antes e depois do jogo. Disseram-me para desfrutar, desejaram-me boa sorte e deram-me um certo conforto e confiança.

zz: Estás no Estoril desde a segunda metade da época passada e ainda foste a tempo de conquistar dois troféus na equipa de sub-23. Esse processo foi importante para agora a estreia na Primeira Liga ser mais natural?

TS: Sim, foi muito importante vir para o Estoril no mercado de inverno. Foi bom ter ritmo competitivo, que não vinha a ter e quando cheguei ao Estoril tive um maior tempo de utilização. Sem dúvida que isso me preparou melhor para este momento.

zz: O Estoril tem deixado marcas no escalão de sub-23. Porque é que isso acontece? Já agora, qual é o próximo jogador que achas que pode dar o salto?

TS: Há muito talento e bons treinadores. O objetivo deles é preparar as equipas. Não é só conquistar títulos, mas sim formar jogadores para irem para a equipa principal. Isso está a ser muito bem feito pelo Estoril. Com o trabalho que o Estoril tem vindo a fazer, de certeza que vão aparecer mais jovens. Não sei dizer um nome, mas há muita qualidade. Sem dúvida.

zz: Um dos jogadores que até teve um trajeto parecido ao teu nos sub-23 foi o André Franco. O que pensas dele? Trabalharam juntos.

TS: Sim, trabalhámos. É um bom jogador, bom profissional e fez uma excelente época, no ano passado, e foi recompensado.

zz: Além dele, também jogaste com o Arthur Gomes. Até estava cá na tua estreia. A ida dele para o Sporting surpreendeu-te?

TS: Não. O Arthur é um jogador com muita qualidade. Sabia que era uma questão de tempo até ele ir para um desafio maior. Não me surpreende.

zz: Vês-te a fazer um percurso semelhante ou ainda estamos numa fase muito precoce? Qual é o teu próximo objetivo?

TS: Ainda é muito precoce. Tenho as minhas ambições, mas é passo a passo. O próximo objetivo é coletivo e passa por garantir a manutenção.

Tiago Santos esteve cerca de 10 anos na formação do Sporting ©Arquivo Pessoal

«Muito daquilo que sou hoje, devo ao Sporting»

zz: Começaste a ser futebolista com que idade? Lembras-te de quem te influenciou?

TS: Ainda era muito novo. Devia ter uns três ou quatro anos. É uma boa pergunta, mas só me lembro de nascer e ter uma bola comigo. 

zz: E sempre quiseste ser futebolista ou tiveste um plano B?

TS: Nem houve espaço para pensar nisso. É óbvio que é importante ter um plano B, mas neste momento quero focar-me no futebol e melhorar a cada dia.

zz: Estiveste muitos anos na formação do Sporting. Chegaste lá com que idade? Como foi estar na formação com vários jogadores que entretanto até já saíram, como o caso do Nuno Mendes?

TS: Tinha sete anos. Foram bons momentos. Aprendi muito no Sporting. Cresci muito como atleta e como pessoa. É um dos melhores clubes a formar jogadores. Muito daquilo que sou hoje, devo ao Sporting.

zz: E há alguma história que ficou marcada por ser insólita ou especial de alguma forma?

TS: Quando eu cheguei lá conheci um roupeiro, o senhor Honório, e o fisioterapeuta, que era o senhor Fontinha. Eles deram-me uma alcunha muito rápido, que colou até hoje, que foi Derlei. Na altura ele estava no Sporting e deram-me essa alcunha, que foi colando ao longo dos anos e no mundo do futebol é como me tratam.

zz: E jogadores que te tenham marcado? Algum que se tenha destacado ao nível da qualidade?

TS: Foram vários bons momentos, com muitas pessoas diferentes que de certa forma tiveram influência. O Nuno Mendes. Sempre demonstrou grande qualidade e uma capacidade física acima da média. Era uma questão de tempo. Surpreendeu por ter sido tão rápido, mas demonstrou capacidade na Liga, fez uma boa época e sabia que vinham aí coisas boas para ele.

zz: E o Mateus Fernandes? Tem-se falado muito dele, especialmente depois da saída do Matheus Nunes.

TS: É um jogador muito bom, muito inteligente. Sei que vai ter um grande futuro.

zz: E tu? Foste extremo, agora és lateral. Quando é que isso aconteceu?

TS: Sim, sou extremo de origem, mas lembro-me que no meu segundo ano de junior falei com o meu treinador, o mister Filipe Pedro, e comentei com o preparador físico, o Carlos Bruno, que até me aconselhou e disse que era uma boa posição. 

zz: Foste tu a tomar a iniciativa?

TS: Dei a demonstrar que estava interessado. Tanto gosto de atacar como defender e depois de falar com a equipa técnica eles disseram "porque não?"

zz: E como foi a adaptação? Houve algum momento em que te arrepeendeste ou acabou por ser benéfico para ti?

TS: Quando um jogador é extremo de origem, a adaptação não é fácil, tem de aprender a defender. Não me arrependi, sem dúvida que foi benéfico.

zz: Se não fosse isso, não estavamos aqui a falar contigo?

Nunca vamos saber [risos]. Mas foi uma decisão benéfica.

zz: O que é que ainda precisas de aprender?

TS: Há muito a melhorar, o que é bom porque há uma margem de progressão maior.

zz: As pessoas já conhecem a origem da tua alcunha, mas agora apresenta-te às pessoas como jogador. Que tipo de jogador é que és?

TS: Sou um jogador irreverente e trabalhador. Sou um jogador diferente, muito focado e apaixonado pelo que faz.

zz: Ainda estás muito no início, mas se te perguntasse qual o ponto mais positivo da tua carreira, qual seria? E qual o momento negativo?

TS: O momento atual é o mais positivo. Claro que cada momento é especial à sua maneira. Nunca vou esquecer a estreia na Primeira Liga.É verdade que as pessoas tendem a ver apenas o positivo e o que é que o jogador alcançou, mas há muito por trás. Trabalho, dias menos bons, mas há muitas coisas que não veem. É tudo isso que faz um jogador chegar onde está. A aprendizagem é constante.

zz: Quando vieste para o Estoril foi por quereres mais minutos...

TS: Sim. Todos os jogadores querem jogar e quando não jogam ficam com frustração, a chamada azia. Sempre fui bem acompanhado pela minha família e nos momentos menos bons eles estiveram sempre lá para mim. Devo-lhes muito.

zz: Quando assinaste contrato profissional com o Sporting, agradeceste em especial ao mister José Duarte, que foi teu treinador no Sacavenense. Porquê?

TS: Foi uma experiência incrível e uma pessoa que me marcou muito. Depois de ter saído do Sporting fui para Oeiras, ele acreditou em mim e trouxe-me para o Sacavenense. Sempre tivemos uma boa relação, aprendi muito com ele e ele dizia-me que ia alcançar muitas coisas. É um amigo que fica.

zz: Voltaram a falar? Disse alguma coisa quando te estreaste?

TS: Claro. Disse que estava muito orgulhoso.

zz: A alcunha é Derlei, que lembra um avançado, mas és lateral. Que referências tens?

TS: Não é da minha posição, mas a minha referência é o Cristiano Ronaldo. A maneira de ser dele, o querer mais, a dedicação, o trabalho. É incrível e por isso é o meu ídolo. Na minha posição, o Cancelo é uma referência.

zz: E na nossa Liga? Há algum jogador que aprecies? Como adversário, algum mais difícil?

TS: O Joãozinho. Aprendo muito com ele diariamente, ensina-me muito, dá muitas dicas. É um jogador que me ajuda bastante. Adversários? Apanhei muitos bons jogadores.

zz: Esta temporada já cumpriste alguns objetivos. Sei que os próximos objetivos são coletivos, mas quais os sonhos que queres alcançar a nível individual num futuro próximo? Há um Euro sub-21 para o ano. É objetivo?

TS: Acho que as coisas vêm com naturalidade. O melhor é não pensar muito nisso e trabalhar dia-a-dia.

zz: Todos os anos, o zerozero faz, a meio da temporada, um artigo com as principais revelações. Pelo que tens feito, é justo que o teu nome entre nesta lista?

TS: O campeonato ainda vai muito no início. Até meio da temporada ainda faltam muitos jogos. O futebol é o momento. Tanto jogamos como deixamos de jogar. O meu foco está no trabalho diário e não pensar muito nessas coisas que vêm com naturalidade.

zz: Imagina que no final da temporada, o Estoril voltaria a deixar-nos falar contigo. O que gostarias de ter para me contar?

TS: Espero que sejam coisas boas, mas falamos no final da temporada.

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