Tour. Quatro "galos" para um poleiro

3 meses atrás 84

Estão aí as emoções do ciclismo de alto nível EPA

A Volta a França em bicicleta mais esperada arranca no sábado, com o ansiado encontro entre Jonas Vingegaard, Primoz Roglic, Remco Evenepoel e Tadej Pogacar, que parte com ligeiro favoritismo para a luta entre os melhores voltistas da atualidade.

A estreia do português João Almeida, também ele um sério candidato ao top 10 final, na maior prova velocipédica mundial ficou ofuscada por aquilo que todos os fãs do ciclismo desejavam: um tira-teimas sobre quem é, efetivamente, o melhor corredor em provas por etapas do pelotão.

Há longos meses que o inédito encontro entre Pogacar, Vingegaard, Roglic e Evenepoel agita o panorama velocipédico, mas esteve quase para não acontecer, uma vez que os três últimos caíram com aparato na Volta ao País Basco.

Se "Rogla" saiu apenas com escoriações daquela terrível queda de 4 de abril e até ganhou o Critério do Dauphiné no regresso à competição, o bicampeão em título da "Grande Boucle" e o belga da Soudal Quick-Step ficaram bastante mal tratados: o dinamarquês sofreu fraturas de clavícula e costelas, uma contusão pulmonar e um pneumotórax, enquanto Evenepoel fraturou a clavícula e a omoplata direitas.

A participação de Vingegaard foi uma incógnita até à semana passada, como o é agora o seu estado de forma, com os responsáveis da Visma-Lease a Bike, muito desfalcada nesta edição, sobretudo após a "baixa" de Sepp Kuss, a multiplicarem-se em declarações sobre o facto de o homem que vulgarizou Pogacar na passada Volta a França não estar a 100%.

Dureza põe atributos à prova

"Bluff" ou verdade? Não demorará muito para perceber, uma vez que a 111.ª edição da "Grande Boucle" tem o início mais duro da história, com a subida ao "colosso" Galibier logo na quarta etapa. Espera-se, por isso, que "Pogi", o "vice" das passadas duas edições e o campeão das duas anteriores (2020 e 2021), aplique a fórmula usada no Tour2023 pela formação neerlandesa, que tentou beneficiar da sua falta de ritmo competitivo – também regressava de uma queda – desgastando-o desde o primeiro momento.

Nem é tanto pelos azares dos seus grandes adversários que o esloveno de 25 anos parte na "pole position" para vestir a amarela final em Nice, em 21 de julho, mas sim pelo domínio absolutamente arrasador que demonstrou rumo ao triunfo no Giro2024 – além da geral, em que deixou o segundo, o colombiano Daniel Martínez, a quase 10 minutos, venceu a classificação da montanha e seis etapas, chegando em algumas delas a adotar um ritmo de treino tal era a sua supremacia em relação aos demais.

Com uma super equipa a escudá-lo, na qual pontifica João Almeida, o terceiro classificado da passada edição, o britânico Adam Yates, e o espanhol Juan Ayuso, Pogacar parece lançado para uma "dobradinha" que só sete ciclistas na história alcançaram, o último dos quais Marco Pantani em 1998.

Talvez até seja Roglic, apoiado por uma BORA-hansgrohe de gala, que inclui o australiano Jai Hindley (vencedor do Giro2022) e o russo Aleksandr Vlasov, o grande candidato a fazer frente ao seu compatriota, embora o ciclista de 34 anos seja um crónico azarado na grande Volta francesa, que perdeu com estrondo para o mais jovem esloveno no penúltimo dia em 2020.

O poderio de UAE Emirates e BORA-hansgrohe só encontra paralelo numa INEOS com Egan Bernal e Geraint Thomas, campeões em 2019 e 2018, respetivamente, Carlos Rodríguez e Thomas Pidcock, mas nenhum dos nomes individuais da formação britânica está no patamar dos outros quatro candidatos.

Quinto na passada edição, o espanhol Rodríguez será a principal aposta da sua equipa, que surpreendentemente escolheu Bernal como co-líder, depois de o colombiano ter dado mostras esta época de estar de volta ao seu melhor, após o terrível acidente que sofreu no início de 2022 (colidiu com um autocarro).

Se Thomas, terceiro no Giro2024, estará preparado para trabalhar, o mesmo não se poderá dizer de Pidcock, com a luta de egos a poder condicionar o desempenho da INEOS.

À espreita de uma oportunidade

Longe destas super equipas está a Soudal Quick-Step, com Mikel Landa a ser pouco para levar Evepenoel à vitória final. O belga é, na realidade, o menos favorito entre os favoritos, devido à sua inconstância em grandes Voltas e falhanços na alta montanha, aliadas ao facto de só agora se estrear no Tour.

Numa edição em que a inédita reunião dos "big 6" do ciclismo mundial numa grande Volta – também estão os espetaculares Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck) e Wout van Aert (Visma-Lease a Bike) – e a tentativa de Mark Cavendish de chegar ao 35.º triunfo em etapas e desempatar com Eddy Merckx como mais vitorioso de sempre também criam grande expectativa, nomes como os de Richard Carapaz (EF Education-EasyPost), terceiro em 2021, Simon Yates (Jayco AlUla), quarto no ano passado, ou David Gaudu (Groupama-FDJ) pouco deverão ter a dizer na luta pela geral.

A 111.ª Volta a França arranca no sábado, em Florença, e termina em 21 de julho, em Nice, contando com três portugueses no pelotão: além de João Almeida, terceiro classificado no Giro2023, estarão também os experientes Rui Costa (EF Education-EasyPost), vencedor já de três etapas e recém-coroado campeão nacional de fundo, e Nelson Oliveira (Movistar), que vai iniciar a sua 20.ª grande Volta.

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