Transição energética?

7 meses atrás 52

Já assistimos a várias transições energéticas: da madeira para o carvão e deste para o petróleo e mais recentemente para o gás natural. Hoje, com a descarbonização temos a emergência das energias renováveis intermitentes, eólica e solar (solar térmico e painéis fotovoltaicos) e dos gases renováveis, como o hidrogénio e o biometano como alternativas não fósseis ao gás natural.

As anteriores transições foram conduzidas pelo mercado numa abordagem descentralizada entre produtores e consumidores, com uma mudança gradual em que as energias emergentes foram auxiliadas no seu desenvolvimento pelas já existentes.

Agora quis-se conduzir a transição de forma iluminada pelo poder político, designadamente na União Europeia e nos EUA, pretendendo-se, dum momento para o outro, acabar com as energias incumbentes, substituindo-as abrupta e apressadamente pelas não fósseis, apostar na rápida eletrificação dos consumos industriais e nos veículos elétricos a substituírem os veículos com motores térmicos.

Não se queria fazer uma transição energética como no passado, mas sim uma autêntica disrupção energética! Essa abordagem não é realista e o petróleo, o carvão e o gás natural ainda representam 82% do consumo total de energia primária contra apenas 7% das renováveis.

Esta transição quer suprimir os combustíveis fósseis, mas é altamente intensiva em recursos minerais e metais raros para alimentar as energias eólica e solar, as baterias, as células de combustíveis (FC), os motores elétricos quer dos veículos a baterias (BEV) quer dos veículos com células de combustíveis alimentados a hidrogénio (FCEV), e de um modo geral toda a eletrificação que se pretende fazer.

Os problemas do lado da oferta, tais como a escassez desses recursos minerais e metais raros, e a dependência de zonas do mundo que não controlamos como é o caso da China, ou o constrangimento de espaços disponíveis para as renováveis, vão atrasar o ritmo da transição, embora a economia circular e a reciclagem possam minorar essa restrição ativa.

Portugal, que apenas emite 0,11% do CO2 mundial, teve a ambição, fazendo fé nas intenções do governo, de liderar esta transição a nível europeu (sendo a União Europeia apenas responsável por 7% dessas emissões a nível mundial), enquanto que, com total resignação, caminha para a cauda da Europa em termos económicos. Não bate a bota com a perdigota!

O autor assina a coluna Realidades Económicas mensalmente.

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