Trinta anos depois, Portugal lança um satélite. O primeiro de muitos, garantem os envolvidos

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Em setembro de 1993, no porto espacial europeu da Guiana Francesa, houve lágrimas. E hoje à noite, no Kennedy Space Centre, Flórida, é bem possível que haja quem se emocione depois do lançamento de um satélite português. Hélder Silva, engenheiro aeroespacial e gestor de projeto na Thales/Edisoft, admite ser um grande admirador do que se conseguiu há três décadas com o lançamento do PoSat-1, o primeiro satélite português. Hoje estará no centro de lançamento americano, para ver de perto o seu ‘bebé’ descolar num foguete Falcon 9, operado pela empresa SpaceX, rumo à sua órbita.

A bordo do foguete, que tem descolagem prevista para hoje, 4, às 22:05, hora em Portugal continental, com nova janela de oportunidade amanhã à mesma hora, segue o Aeros, o satélite sonhado, projetado e contruído integralmente por entidades nacionais, sendo a Thales e o centro tecnológico Ceiia os líderes de um projeto orçado em 2,8 milhões de euros. São apenas quatro quilos e meio de satélite, mas representam o início de uma nova era para o setor espacial português, o ponto de partida para o lançamento de cerca de três dezenas de satélites nos próximos três anos.

O foguete Falcon 9, da Space X, empresa de Elon Musk, carrega 15 toneladas de carga. No missão Transporter-10, 4,5 quilos são por conta do satélite português Aeros

A ideia tem mais de dez anos e que só começou a tomar forma praticamente ao mesmo tempo que o coronavírus começou a dominar as nossas vidas. Mas nem isso travou os engenheiros e investigadores, de 12 entidades – empresas e universidades – que se juntaram para o construir. “Portugal foi capaz de fazer tudo, a automação, o desenho, desenvolvimento da carga, testes, tudo até ao lançamento”, orgulha-se o Diretor do setor Aeroespacial da Thales, José Luís Freitas. “E depois de lançado volta outra vez para nós, vamos operá-lo com meios nacionais, através da antena de 15 metros em Santa Maria”, acrescenta, referindo-se ao teleporto instalado na ilha açoriana e gerido pela Edisoft.

Além da pandemia, foi preciso ultrapassar várias dificuldades, a mais dura de todas, conta Hélder, a quebra de uma roda de reação, já depois de concluído o segundo teste de vibração, e que obrigou a desmanchar tudo e a recomeçar a montagem, integralmente, num esforço repartido pela equipa, a trabalhar por turnos 24 horas por dia.   

O objeto de estudo deste satélite científico também é bastante representativo da identidade nacional. O Aeros andará pelo espaço, a 500 km de altitude, dando uma volta à Terra a cada hora e meia, captando imagens do oceano e recolhendo informação sobre espécies marinhas, em particular de tubarões e mantas. “O País desenvolve-se sempre que se vira em direção ao mar”, sublinha o CEO da Thales, Sérgio Barbedo. “É uma forma de expandirmos e crescermos”, justifica.

Foram os cientistas das universidades que integram o consórcio, no qual se inclui a americana MIT através do programa MIT Portugal, que definiram os aspetos científicos mais relevantes. À empresa portuguesa Spinworks coube um dos principais desafios tecnológicos, o desenvolvimento da câmara multiespectral que tira 140 fotografias praticamente em simultâneo.

Uma série de desafios e aprendizagens que preparou todos os envolvidos para esta nova fase do setor do espaço conhecido como New Space. “Já participei em diversas missões espaciais, Galileo, ExoMars, Solar Orbiter, até já fui à Coreia do Sul participar no lançamento de um satélite”, conta Hélder Silva. “Mas nada se compara a este”, admite. Esperemos que hoje à noite haja lágrimas.

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