Trinta execuções e repressão de presos marcam semana no Irão

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Terça-feira foi um dia negro no país devido à execução de outra manifestante detida durante os protestos "mulheres, vida, liberdade", desencadeados pela morte de Mahsa Amini em setembro de 2022 sob custódia policial, por não usar o véu islâmico corretamente.

Gholamreza Rasaei, de 34 anos, da minoria curda, foi o décimo manifestante a ser enforcado desde que eclodiram os protestos que pediam maiores liberdades e o fim da República Islâmica, terminando com uma repressão brutal que causou a morte de cerca de 500 pessoas.

O jovem foi condenado pelo seu alegado envolvimento no assassinato de um agente da Guarda Revolucionária em novembro de 2022, no meio de protestos, no condado de Sahne, na província ocidental de Kermanshah.

Mas de acordo com ativistas e até mesmo com a Amnistia Internacional, o julgamento foi "injusto".

"O julgamento baseou-se, segundo o próprio arguido, em confissões, forçado sob tortura e outros maus-tratos, incluindo espancamentos, choques elétricos, asfixia e violência sexual", denunciou a Amnistia depois de confirmar a sentença contra Rasaei pelo Tribunal Supremo.

A notícia da execução de Rasaei chegou poucas horas depois à ala feminina da prisão de Evin, em Teerão, onde também está preso a ativista e vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2023, Narges Mohammadi.

As presas, lideradas por Mohammadi, reuniram-se para protestar contra a pena de morte imposta a Rasaei, mas as autoridades prisionais reagiram.

"Foram dadas ordens para espancar e atacar as mulheres, especialmente aquelas que estavam na linha da frente dos protestos, que foram violentamente espancadas pelas forças de segurança", informou num comunicado a família de Mohamadi radicada em Paris.

A Prémio Nobel e várias outras mulheres ficaram feridas no confronto.

Depois de levar um soco no peito, Mohamadi sofreu "insuficiência respiratória e fortes dores no peito", o que a fez desmaiar no pátio da prisão, disse a família.

O centro penitenciário negou estes relatos e afirmou que ninguém foi espancado e acusou as presas de atacar vários guardas, segundo a agência Tasnim.

Uma versão pouco credível para a família de Mohammadi, que manifestou o seu receio pela sua saúde.

Mohammadi, que passou grande parte da última década da sua vida na prisão, recebeu penas de 12 anos e três meses de prisão em diversas penas, acusada de fazer "propaganda contra o Estado", devido às suas mensagens difundidas contra o regime islâmico.

O Gabinete das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou, na sexta-feira, que em apenas dois dias as autoridades iranianas executaram 29 pessoas, "em resultado de processos em que foram violadas as garantias de um julgamento justo e as famílias e os advogados foram mantidos longe das vítimas".

A porta-voz da organização, Liz Throssell, indicou que os executados foram condenados principalmente por crimes relacionados com o tráfico de droga.

"A imposição da pena de morte para crimes que não envolvam homicídio doloso é incompatível com as normas e padrões internacionais de direitos humanos", afirmou.

A organização reiterou o seu apelo ao Governo iraniano para que estabeleça uma moratória sobre as execuções, em linha com o crescente consenso global a favor da abolição universal da pena de morte.

Dados da ONU indicam que cerca de 345 pessoas foram executadas no Irão este ano, 87 delas desde as eleições presidenciais de 5 de julho, nas quais o moderado Masud Pezeshkian venceu.

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