Trump perde vantagem sobre Kamala Harris na economia, o tema das eleições

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Eleições nos EUA

27 ago, 2024 - 21:40 • João Pedro Quesado com Reuters

Economia, inflação e custo de vida é recorrentemente a maior prioridade dos eleitores nas sondagens. Kamala Harris pode estar a cortar a vantagem que Donald Trump tinha, mas a vitória nas eleições de 5 de novembro ainda está longe de garantida. A eleição pode ser a mais renhida desde a de 2000, que opôs George W. Bush a Al Gore.

A vantagem de Donald Trump sobre Kamala Harris na economia e crime está a erodir-se entre os eleitores norte-americanos, segundo uma sondagem da "Reuters" e "Ipsos" divulgada esta terça-feira. O candidato republicano às eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos da América (EUA) tinha há meses uma vantagem sobre os democratas no tema da economia, aproveitando a inflação e aumento do custo de vida para ganhar vantagem na corrida à Casa Branca.

A sondagem de três dias, realizada entre 23 e 25 de agosto – os dias a seguir à Convenção Nacional Democrata –, mostrou que 43% dos eleitores registados preferem a abordagem de Trump na economia e mercado de trabalho, contra 40% que preferem a abordagem defendida por Kamala Harris.

A diferença de três pontos é insignificante, já que a margem de erro da sondagem é de quatro pontos. Na última sondagem "Reuters/Ipsos" sobre o tema, no final de julho, Trump tinha 11 pontos de vantagem no tema da economia – repetidamente citado como o mais importante pelos eleitores, à boleia da inflação e subida do custo de vida.

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Kamala Harris também conseguiu apagar a liderança do republicano no tema do crime – que Trump diz falsamente ter aumentado desde que saiu da Casa Branca. Depois do republicano ter cinco pontos de vantagem na sondagem de julho, está agora empatado com a democrata, com 40% dos eleitores de cada lado.

Donald Trump critica frequentemente a gestão da economia da administração de Joe Biden, prometendo cortar em metade os preços depois destes crescerem devido à inflação nos EUA. A taxa homóloga atingiu um máximo de 9,1% em junho de 2022, apenas chegando aos 3% um ano depois – e só desceu abaixo desse valor em julho desde ano.

A sondagem a 1.029 pessoas, incluindo 902 eleitores registados, mostra que a economia é o assunto mais importante para 26% dos eleitores registados, comparando com 22% que escolhem o extremismo político e ameaças à democracia, e 13% que dão prioridade à imigração.

Kamala Harris tem vantagem no tema do extremismo, por seis pontos (42% para 36%), e desvantagem na política de imigração, por oito pontos (37% para 45% de Trump).

Kamala em vantagem, mas sem favoritismo

A mudança mostrada pela sondagem desta terça-feira encaixa perfeitamente na narrativa da campanha eleitoral desde que Kamala Harris substituiu Joe Biden como candidata do Partido Democrata. Segundo as sondagens, a vice-presidente dos EUA tem conseguido captar eleitores que não estavam interessados em votar de novo em Joe Biden, reconstruindo a coligação democrata ao ponto de tornar a eleição novamente competitiva.

Esta terça-feira, Kamala Harris lidera por mais de três pontos nos mais importantes agregadores de sondagens, nomeadamente no “The New York Times”, “The Economist”, “FiveThirtyEight” e no “Silver Bulletin” (de Nate Silver, fundador do "FiveThirtyEight").

Apesar disso, a eleição ainda é considerada renhida, com os dois candidatos a terem probabilidades semelhantes de serem eleitos a 5 de novembro. Três fatores contribuem para essa avaliação: o momento atual da campanha, as sondagens nos sete estados decisivos, e o Colégio Eleitoral – o sistema que atribui votos eleitorais a cada um dos 50 estados e à capital, Washington D.C., afastando o resultado das eleições da mera contagem do total de votos nacional.

Com a Convenção Nacional Democrata a ter terminado há menos de uma semana, Kamala Harris deverá usufruir de uma vantagem aumentada nas próximas sondagens a serem divulgadas. Tipicamente, essa vantagem, apelidada de “inchaço da convenção” (“convention bump”), acaba por esmorecer com o tempo. O contrário também pode ser verdade – o crescimento nas sondagens pode ficar inalterado até outro acontecimento agitar a campanha.

Ao mesmo tempo, sondagens nos sete estados decisivos - Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Carolina do Norte, Geórgia, Nevada e Arizona – mostram, na prática, um empate. Apesar de muitas colocarem Kamala Harris na frente, a diferença para Trump está quase sempre dentro da margem de erro, tornando as eleições imprevisíveis.

A importância desses sete estados decisivos mostra o efeito do Colégio Eleitoral na eleição presidencial nos EUA. O desenho deste sistema eleitoral beneficia os republicanos, já que os votos eleitorais de cada estado correspondem à soma do número de deputados de cada estado na Câmara dos Representantes ao número de senadores, que são sempre dois por estado.

A soma dos dois senadores reforça o poder dos muitos estados menos populosos, que tendem a votar no Partido Republicano, e tem um efeito insignificante nos estados maiores, onde os democratas tipicamente vencem (com a exceção do Texas e da Flórida, cuja tendência é cada vez mais republicana).

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Isto significa que, mesmo com a atual vantagem atribuída pelos vários agregadores de sondagens a Kamala Harris, de entre três e quatro pontos percentuais, Donald Trump continua a ter hipóteses reais de vencer no Colégio Eleitoral enquanto perde na votação nacional – basta ganhar alguns estados por uma diferença pequena, como aconteceu em 2016, para inverter completamente o resultado.

De acordo com a avaliação do “The Cook Political Report”, visível no mapa acima, os estados com resultado imprevisível equivalem a 77 votos eleitorais. Enquanto os democratas têm do seu lado estados suficientes para chegar aos 226 votos, os Republicanos conseguem chegar aos 235.

E se as sondagens estiverem erradas?

O fantasma do erro das sondagens continua a pairar sobre a política norte-americana, principalmente depois da eleição de 2016. Nesse ano, as sondagens subestimaram o apoio de Trump em sete pontos em alguns estados.

Em 2020, o erro médio das sondagens foi menor que em 2016, e teve menos importância – as margens de vitória de Biden nos estados decisivos foram maiores do que as de Trump em 2016.

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Com os atuais dados, qualquer subestimação do apoio de Trump pode ser fatal para as hipóteses de vitória de Kamala Harris. Um erro de um ponto já seria suficiente para colocar Donald Trump de novo na Casa Branca.

A única certeza sobre a eleição, com os dados conhecidos até agora, é que a eleição de novembro pode ser a mais renhida desde a de 2000, quando George W. Bush derrotou Al Gore por apenas cinco votos eleitorais – apesar de Gore conseguir mais 543 mil votos do que Bush em todos os EUA.

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