Turismo ou invasões bárbaras?

2 horas atrás 27

Ao nível do comércio, por exemplo, muitas lojas emblemáticas têm fechado as portas, ao mesmo tempo que os franchises, os negócios incaracterísticos e as lojas de horrorosos souvenirs prosperam.

Há muitos anos, quando estudava História da Arte na Universidade Nova, um Professor contou uma história a que tinha assistido em Itália e que o deixou estarrecido. Um casal de turistas – presume-se que japoneses – chegou ao fórum de Roma, apontou a lente da sua máquina fotográfica, disparou… e foi-se embora. O Professor ficou chocado com tamanho desplante.

Pois bem: da última vez que visitei o Louvre assisti a uma cena ainda pior. Depois de ter furado pelo meio da multidão para ver a Mona Lisa – ou do que resta dela, por trás da vitrina à prova de bala –, deparei-me com uma jovem de telemóvel na mão a rir-se para a câmara. Tirou a sua selfie, inspecionou o pequeno ecrã, provavelmente para ver se o sorriso tinha ficado ‘instagramável’, e foi-se embora. Ou seja, nem sequer olhou para o quadro porque esteve sempre de costas para ele!

Vem isto a propósito do turismo em Portugal. Existe em Sintra um movimento que espalhou cartazes que dizem que Sintra não é uma Disneyland. Mas se calhar o que muitos turistas pretendem é precisamente uma Disneyland, um parque temático onde possam chegar, tirar uma selfie para as redes sociais e seguir caminho até ao MacDonald’s ou Starbucks mais próximo.

Na verdade, já nem sequer é bem turismo, mas antes uma espécie de caricatura. Em excesso, pode assemelhar-se incrivelmente às invasões bárbaras ou às devastadoras pragas de gafanhotos.

Ao nível do comércio, por exemplo, muitas lojas emblemáticas têm fechado as portas, ao mesmo tempo que os franchises, os negócios incaracterísticos e as lojas de horrorosos souvenirs prosperam.

Mas ninguém pode ignorar os benefícios que esta atividade tem trazido ao país. Só para pegar num exemplo, o Palácio da Pena teve, em 2023, três milhões de visitantes. Fazendo as contas ao preço dos bilhetes (13 euros o bilhete inteiro, 10 euros o reduzido), mesmo sem esquecer que há entradas grátis, não é difícil perceber o que essas receitas podem representar para a conservação do património. E no setor privado há muita gente a lucrar, seja na restauração, sejam guias, sejam detentores de alojamentos locais, sejam agentes imobiliários e por aí fora.

O turismo é uma moeda de duas faces. Não adianta diabolizá-lo porque a economia pura e simplesmente não pode viver sem ele. E como não há turismo sem turistas, tentemos pois que eles fiquem, que aproveitem, que se interessem, que se deixem seduzir, e não façam como a menina que tirou a selfie de costas para a Mona Lisa e saiu do Louvre toda contente.

Ler artigo completo