Ucrânia avisa que falta de financiamento americano vai prejudicar esforço de guerra

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As constantes rejeições na tentativa de aprovar um pacote de ajuda financeiro para a Ucrânia estão a levar lentamente à perda de esperança por parte das autoridades ucranianas no esforço de guerra que desenvolvem há perto de dois anos contra a Rússia.

O último pacote, avaliado em 60 mil milhões de dólares, foi chumbado pelos republicanos do Senado, num ano em que Donald Trump poderá garantir o regresso à presidência. Os que se encontram no campo de guerra dizem que o tempo que os norte-americanos estão a levar para aprovar a ajuda financeira está a levar a uma clara desvantagem ucraniana no que diz respeito a armamento.

Um dos principais conselheiros de Zelensky avisou que a Ucrânia está a chegar a um ponto em que não consegue delinear planos a longo prazo.

“Se percebermos que nos próximos três a seis meses vai haver um número particularmente alto de lançamento de mísseis de longo alcance, por exemplo, dá para planear as infraestruturas que serão um alvo nos territórios ocupados. Quando nos sentamos aqui e vemos que estamos em deficit, e poucas certezas, apenas podemos lutar uma guerra defensiva, o que é um estimulante para a Rússia”, explicou Mykhail Podolyak.

A embaixadora norte-americana em Kiev, segundo apurou o Guardian, também começa a mostrar alguma frustração pela indecisão política que está a ter lugar nos Estados Unidos. “Não há tempo a perder. A Ucrânia necessita da nossa assistência agora”, escreveu Bridget Brink na rede social X.

Ajuda europeia não é suficiente

Sem acordo nos Estados Unidos para ajudar financeiramente a Ucrânia, a União Europeia conseguiu ultrapassar entraves colocados pela Hungria e Viktor Órban e aprovou recentemente um pacote de 50 mil milhões de euros para a Ucrânia. Um diplomata sedeado em Kiev explicou que sem os americanos a ajuda europeia de pouco valerá.


O presidente da organização americana Hope for Ukraine (Esperança pela Ucrânia) disse que o país se encontra numa situação difícil.

“Todos esperam que os Estados Unidos não nos desiludissem e agora estamos numa fase muito complicada. As pessoas estão a perder esperança aos poucos. Não temos tempo para isto porque vemos o que está a acontecer na frente de guerra. Quanto mais tempo for dado aos russos para se armarem, mesmo que venha ajuda americana, quando vier, pode ser tarde demais”, declarou Yuriy Boyechko.

Frustração e cuidado com a linguagem

Numa altura em que parece certa a escolha de Donald Trump como candidato republicano para as eleições presidências, as autoridades ucranianas parecem estar a escolher cuidadosamente os termos com que e dirigem aos americanos, especialmente depois de um episódio em 2019 que incluiu Zelensky, Donald Trump e uma polémica chamada telefónica.


No entanto, a frustração é evidente por parte da Ucrânia e dos seus responsáveis.

“Vemos uma eleição muito difícil, talvez a mais conflituosa de sempre e vemos os dois lados a impor posições iniciais muito duras. Infelizmente, a política externa tornou-se num refém da política interna”, afirmou Podolyak.

“Já explicámos e vamos explicar uma e outra vez. Temos de continuar a repetir as mesmas verdades: ou os países democráticos se defendem ou cedem a iniciativa a outros e estamos a viver num mundo em que uma guerra genocida é aceitável”, continuou o conselheiro do presidente da Ucrânia.

Apesar dos constantes apelos de Volodymyr Zelensky de que a ajuda financeira é crucial para manter a Europa em segurança, os republicanos mostram-se cada vez mais afastados da causa ucraniana.

“É frustrante, até mesmo com republicanos que tradicionalmente se mostravam amigos da Ucrânia, republicanos clássicos. Eles sabem que Donald Trump tem controlo total do partido e muitos deles estão a começar a evitar-nos”, explicou uma fonte próxima de vários republicanos ao Guardian.

Também Dmytro Kuleba começa a mostrar impaciência pela posição americana. “Ontem à noite recebi um relatório de Washington sobre possíveis cenários e alguns deles são parecidos com um thriller. Tudo é confuso”, explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia.

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