Ucrânia e Rússia concentradas em combates aéreos com drones

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Militares ucranianos do esquadrão Rarog UAV da 24ª Brigada Mecanizada Separada fixam projéteis de um lançador de granadas RPG-7 a drones. Inna Varenytsia - Reuters

As autoridades ucranianas estimam que a Rússia pode produzir ou adquirir cerca de 100 mil drones por mês, enquanto que a Ucrânia só consegue produzir metade dessa quantidade. Moscovo apontou a indústria de defesa à Ucrânia e os atuais gastos militares são mais do dobro relativamente ao momento anterior à invasão. As forças russas copiaram muitas das táticas pioneiras de Kiev e aparentemente levam vantagem na guerra dos drones.

O inverno rigoroso estabilizou as linhas da frente de combate em terra mas o céu, por sua vez, está a encher-se com um número maior de drones

À medida que os avanços tecnológicos aumentam o alcance e a capacidade de vigilância destas armas, os militares que as operam podem ficar a centenas de quilómetros do local da batalha.

Quase a completar dois anos, esta fase da guerra não só se caracteriza como um conflito de desgaste como significa que ninguém está seguro.

Os militares ucranianos e russos que operam os sistemas de drones não são visíveis no terreno como outras armas de artilharia. 

Qualquer casa civil pode abrigar os soldados que comandam os aparelhos remotamente com consolas e joysticks, tal qual fosse um jogo eletrónico.

Em Kherson, que fica às margens do rio Dnipro, no sul da Ucrânia, é agora uma parte crucial da linha de frente entre as forças ucranianas e russas.

Aqui, os olhos ucranianos – através de drones- monitorizam os movimentos russos do outro lado do rio. A grande questão é que os invasores estão a fazer exatamente o mesmo que os ucranianos. Os exércitos concentram-se mais na eliminação das armas um do outro e em combates aéreos de drones.

Enquanto as ruas de Kherson estão geladas e vazias, numa pequena sala de estar de um apartamento, os soldados ucranianos assistem em monitores à trajetória dos equipamentos. 

Militares ucranianos do esquadrão Rarog UAV da 24ª Brigada Mecanizada operam um drone | Inna Varenytsia - Reuters

À BBC, Artem, operador de drone do esquadrão Samosud da 11ª Brigada da Guarda Nacional da Ucrânia, explica que só ao terceiro lançamento, o equipamento ucraniano conseguiu furar o escudo russo de interferência e consegue atingir uma antena inimiga. “Com 10 minutos restantes de bateria, voamos para ver o que mais se pode detetar ou destruir”, descreve.

“Não importa quantas vezes atingimos os mesmos locais, [os russos] são constantemente reabastecidos”, afirma Tymur, comandante do esquadrão. “O nosso objetivo é destruir os pilotos. Temos as coordenadas. Mas eles são bastante destemidos", acrescenta.
Guerra de desgaste

As forças ucranianas tem conseguido detetar e abater a maioria dos drones russos mas a médio prazo esta proteção poderá ser difícil de garantir à medida que Moscovo introduz atualizações tecnológicas para evitar a deteção das armas em voo e aumenta a produção desses mesmos equipamentos.

A Ucrânia aparenta estar em desvantagem económica porque um dos drones usados por Moscovo - o Shahed-, é muito menos dispendioso do que os sistemas de defesa aérea necessários para os abater.

O pacote de ajuda militar de quase três mil milhões de euros avançado pelo Reino Unido foi para já um alívio para Kiev. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky argumentou que mais de 200 milhões seriam alocados para drones.

A Ucrânia pretende adquirir mais de dois milhões de drones em 2024, dos quais pelo menos um milhão serão produzidos em fábricas nacionais.

Porém, “a resiliente economia de guerra da Rússia, a expansão da produção de material e a vantagem populacional, combinadas com a incerteza sobre o apoio contínuo do Ocidente à Ucrânia – especialmente num ano eleitoral nos EUA – dão a Putin motivos para redobrar a sua aposta”, argumenta Eric Schmidt, presidente do Projeto Especial de Estudos Competitivos, numa análise na publicação Foreign Affairs .

A Rússia reporta que tem stocks de munições e linhas de produção suficientes para continuar a lutar durante pelo menos mais um ano, em simultâneo a Ucrânia alerta os aliados que precisa de mísseis antiaéreos e de ataque para atingir alvos aéreos em movimento rápido.

Enquanto os sistemas de GPS norte-americanos começam a dar sinais de não ser eficazes perante a guerra eletrónica russa, as startups ucranianas estão a tentar desenvolver drones avançados que possam resistir à falsificação e interferência inimiga.

A Ucrânia poderá mudar a tendência da guerra se conseguir “preencher a lacuna na inovação” e nas aquisições de mais e melhores sistemas de armas – tanto ofensivos como defensivos, sublinha Schmidt.

“E para isso exigirá o apoio financeiro e técnico sustentado dos aliados de Kiev”, remata.
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