Ucrânia teme 2024 sombrio. Aumenta a preocupação com a ajuda ocidental

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A Ucrânia espera colmatar o défice orçamental de 43 mil milhões de dólares no próximo ano principalmente com ajuda financeira externa, incluindo 18,5 milhões de euros da União Europeia e mais de oito mil milhões de dólares de um pacote dos EUA que contém também assistência vital.

Em declarações à Reuters, economistas e diplomatas estrangeiros frisaram que “os dois pacotes foram bloqueados até agora – pelos republicanos no Congresso dos EUA e pela Hungria na União Europeia – mas devem eventualmente passar, embora permaneça a questão sobre a ajuda financeira de Washington”. Na segunda-feira, a Casa Branca advertiu que os EUA só dispõem de fundos suficientes para mais um pacote de ajuda humanitária à Ucrânia em 2023.

Desde a invasão russa a 24 de fevereiro de 2022, Kiev tem canalizado todas as receitas para a defesa e as Forças Armadas, ao passo que as despesas com o resto, desde pensões aos pagamentos sociais, têm sido pagas por dezenas de milhares de milhões de dólares de ajuda externa.

A Ucrânia poderá ficar vários milhares de milhões de dólares aquém das suas necessidades de financiamento em 2024, mas um défice de dez mil milhões de dólares criaria problemas de estabilidade macroeconómica e para o programa do Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI, que aprovou este mês uma nova parcela de 900 milhões de dólares, exige garantias firmes de financiamento para os próximos 12 meses, pelo que um declínio substancial no financiamento externo poderá pôr em causa o programa, afirmou Olena Bilan, economista-chefe da Dragon Capital, à Reuters.

"O Governo tem uma reserva de liquidez para janeiro e fevereiro", frisou Yurii Haidai, economista do Centro de Estratégia Económica, um grupo de reflexão em Kiev.

Preencher um buraco no orçamento poderia forçar a Ucrânia a aumentar os impostos, o que seria contraproducente para a economia, ou até mesmo imprimir dinheiro para o orçamento, o que também seria arriscado, acrescentou Bilan, da Dragon Capital, igualmente ouvidos pela agência noticiosa.

O governador do Banco Central, Andriy Pyshnyi, deixou claro que a impressão de dinheiro seria uma medida extrema e que não se planeia recorrer a ela este ano.

A Ucrânia também precisa encontrar uma maneira de reestruturar cerca de 20 mil milhões de dólares em dívida internacional no próximo ano, depois que os detentores de títulos soberanos concordaram com um congelamento de pagamento de dois anos em agosto de 2022.

O ministro ucraniano das Finanças, Serhiy Marchenko, afirmou que o Governo espera assegurar o financiamento externo na totalidade em 2024, mas acrescentou que se a guerra durar mais tempo, então "o cenário incluirá a necessidade de adaptação a novas condições".
Economia vai crescer em 2023
A economia ucraniana está em vias de crescer cerca de cinco por cento este ano, depois de ter registado uma contração de quase um terço no ano passado. A inflação desceu para um único dígito, as reservas estrangeiras estão perto de máximos históricos e a ajuda externa tem chegado regularmente ao longo de 2023.

As empresas ucranianas e as empresas estrangeiras adaptaram-se às novas realidades do tempo de guerra, tendo algumas delas anunciado novas instalações de produção nas regiões central e ocidental, longe dos combates nas regiões orientais e meridionais, mais fortemente industrializadas.

A Nestlé investiu 40 milhões de francos suíços (cerca de 46 milhões de dólares) numa nova unidade de produção na região ocidental de Volyn, enquanto a Bayer, o gigante alemão dos fármacos e pesticidas, planeou investir 60 milhões de euros a partir de 2023 na produção de sementes de milho na região central de Zhytomyr.
Milhões de ucranianos permanecem no estrangeiro depois de terem fugido da invasão russa, o que leva muitas empresas a queixarem-se da falta de trabalhadores, especialmente para cargos altamente qualificados.
No entanto, apesar dos modestos sinais de recuperação registados este ano, a economia orientada para os produtos de base continua a ser mais reduzida do que era antes da guerra, e os riscos e outros condicionalismos continuam a ser elevados.

A economia também é travada pelas tentativas de Moscovo de bloquear o Mar Negro, embora a criação de uma rota marítima ucraniana, desafiando a Rússia,
tenha ajudado as exportações de mercadorias e possa impulsionar visivelmente o crescimento no próximo ano, segundo os economistas contactados pela Reuters.

A casa de investimento ICU, sediada em Kiev, prevê que o crescimento diminua para cinco por cento em 2024, após 5,8 por cento este ano, prevendo-se que a inflação aumente no próximo ano. A Dragon Capital prevê que o PIB cresça cerca de quatro por cento em 2024, após 5,2 por cento este ano.

É também certo que Kiev continuará a depender do financiamento externo, apesar das preocupações de que o apoio financeiro do Ocidente possa estar a diminuir, sublinharam os economistas.

O défice comercial da Ucrânia disparou para 22,3 mil milhões de dólares nos primeiros dez meses de 2023, um recorde que ilustrou como as importações estavam a aumentar enquanto as exportações permaneciam fracas.
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