Ucranianos feridos em Portugal. "Uma noite sem bombas é um prémio do Euromilhões"

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Guerra na Ucrânia

14 jun, 2024 - 10:19 • André Rodrigues

Após 36 horas de viagem, chega a Portugal o primeiro grupo de 15 militares ucranianos feridos na guerra. Vão ser acolhidos em Ourém e precisam de reabilitação física e apoio psicológico para regressarem a casa. Para combater? "Alguns não vão conseguir".

Quando os primeiros 15 militares ucranianos feridos chegarem a Portugal, na tarde desta sexta-feira, termina a saga de 36 horas de viagem em busca de paz e de sossego.

“Esta madrugada, ficamos 5 horas na fronteira polaca e eu já estava completamente esgotado”, conta à Renascença Ângelo Neto, da associação de apoio aos refugiados ucranianos em Portugal.

“Quando passámos a fronteira, eles comemoraram como se fosse um golo num jogo de futebol e um deles disse-me que uma noite de sono sem bombas é como um prémio do Euromilhões”.

Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Ângelo Neto já esteve “umas 10 vezes na Ucrânia” e sabe o que são as noites de sobressalto, “em que as bombas estão sempre a cair e temos de levantar-nos três e quatro vezes para irmos para os abrigos”.

Nestas condições, a reabilitação dos feridos “é praticamente quase impossível”.

“Só de saberem que não vai cair uma bomba a qualquer momento, eles têm um resultado de recuperação superior a 50% do que estivessem a ser tratados na Ucrânia”, sublinha.

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O centro de reabilitação de Ourém, que vai ser inaugurado esta sexta-feira, “é o primeiro projeto a nível europeu privado” e o responsável da Ukrainian Refugees PT vê nesta experiência um teste à capacidade de assistência.

“Vamos receber quatro feridos de grau elevado, que não se conseguem locomover sem a ajuda de cadeira de rodas, mas vamos também receber pessoas que estão a precisar urgentemente de ajuda psicológica”.

Regressar ao combate? “Alguns não vão conseguir”

O centro de recuperação de feridos de Ourém terá uma capacidade máxima para 50 militares ucranianos que podem regressar à Ucrânia, assim que esteja concluída a sua reabilitação física.

Mas "alguns não vão conseguir" regressar à frente de batalha, “sobretudo os que ficaram com lesões irreversíveis e não conseguem mover-se autonomamente”.

No entanto, Ângelo Neto regista um sentimento que “vai fazer toda a diferença para a Ucrânia vencer esta guerra: eles querem proteger as famílias, a democracia e a pátria, ao contrário dos soldados russos que, ou estão lá por dinheiro, ou porque são obrigados”.

“A guerra só não está no nosso quintal, só não está na Europa por causa deles. Por isso, tudo o que possamos fazer é pouco para ajudá-los”, remata.

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