"Ultrajante, uma vergonha". Washington contra mandado de detenção para Benjamin Netanyahu

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O presidente Joe Biden enfrenta há várias semanas manifestações pró-Palestina e acampamentos nas principais universidades do país de apoio ao povo palestiniano e de denúncia do “genocídio” levado a cabo por Israel na Faixa de Gaza desde o ataque do Hamas de 7 de outubro.

Biden não pode dar-se ao luxo de afastar esta franja do eleitorado, mas também não quer hostilizar a comunidade judaica. É uma linha muito frágil aquela em que o democrata caminha e um passo em falso pode custar a reeleição nas Presidenciais de final deste ano.

A reação desta segunda-feira da administração é apenas mais um sinal de que sinais contraditórios podem sair da mesma equipa. Por um lado, as ameaças a Telavive se as forças do IDF (Forças de Defesa de Israel numa tradução livre) levarem por diante a operação terreste em Rafah. Por outro, a indignação pela decisão que pende no TPI de emitir mandados de captura para o primeiro-ministro e ministro da Defesa israelitas devido a operações do IDF semelhantes à ofensiva desenhada para Rafah e que já custaram a vida a mais de 34 mil palestinianos, sendo metade destes mortos crianças.

Esta manhã, o procurador do TPI, Karim Khan, pedia a emissão de mandados de detenção para Netanyahu e Gallant por crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza. No que pode ser visto como uma ironia, foram também pedidos mandado de detenção para três líderes do Hamas por crimes cometidos desde 7 de outubro.

“Com base nas provas recolhidas e examinadas pelo meu Gabinete, tenho motivos razoáveis para acreditar que Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, e Yoav Gallant, o ministro da Defesa de Israel, têm responsabilidade criminal por crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos no território do Estado da Palestina [na Faixa de Gaza] a partir de, pelo menos, 8 de outubro de 2023”, fez saber em comunicado o procurador do Tribunal da Haia.

Karim Khan enumerou os crimes de Netanyahu como passando por fazer civis passarem fome como método de guerra, causar intencionalmente grande sofrimento ou ferimentos graves no corpo ou na saúde, homicídio voluntário, dirigir intencionalmente ataques contra população civil; extermínio e/ou assassínio, perseguição e outros atos desumanos.

Os Estados Unidos, que não subscrevem nem reconhecem a jurisdição do TPI, reagiram esta tarde à decisão do tribunal, falando em “ultraje” e reiterando que “se opõem firmemente” à investigação dos acontecimentos dos últimos meses na Faixa de Gaza.


“Deixe-me ser claro. Seja o que for que este procurador possa sugerir, não há equivalência nenhuma entre Israel e o Hamas”
, escreveu o presidente Biden, para acrescentar que os Estados Unidos “estarão sempre ao lado de Israel contra ameaças à sua segurança”. Uma posição que vem sendo ancorada nas últimas semanas pela sua equipa na Casa Branca.

“Fomos muito claros sobre a investigação do TPI. Nós não a apoiamos. Não acreditamos que eles tenham jurisdição”, declarava já em abril a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

Também em Portugal, o embaixador de Israel em Lisboa foi pronto a reagir à decisão do TPI, considerando-a “absolutamente escandalosa”, desde logo quando coloca lado a lado Netanyahu e Gallant com os responsáveis do Hamas.

A decisão do procurador do TPI é absolutamente escandalosa.

1. De acordo com as regras do TPI, uma investigação só pode ser aberta se um país não for capaz de se investigar a si próprio. Até os nossos inimigos reconhecem que Israel é um país democrático com um sistema judicial…

— Dor Shapira🇮🇱 (@ShapiraDor) May 20, 2024

A mesma tese foi defendida pelo chefe da diplomacia americana. Antony Blinken descreveu o anúncio do procurador do TPI como “vergonhoso”.

Dizendo que estas movimentações na Haia “poderão comprometer” as conversações de cessar-fogo em Gaza, Blinken sublinhou a rejeição da “equivalência estabelecida pelo procurador entre Israel e o Hamas (…) é uma vergonha”.

“O Hamas é uma organização terrorista violenta que perpetrou o pior massacre de judeus desde o Holocausto e continua a manter dezenas de pessoas inocentes como reféns, incluindo norte-americanos”, defendeu o secretário de Estado.

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