Um pequeno empurrão à “clique tribal”

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O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial cumprem 80 anos em 2024. Jayati Gosh, membro do conselho consultivo sobre o Multilateralismo Eficaz para as Nações Unidas, fez um balanço sobre o papel destas instituições, questionando se ainda serão adequadas aos seus objetivos iniciais, no quadro de uma economia global que mudou drasticamente.

Para Gosh, do objetivo inicial de conceder empréstimos para a reconstrução das economias, o FMI tornou-se no cobrador de dívidas aos países em apuros, impondo programas de austeridade que visam sobretudo salvar os bancos credores do Norte global.

Sob a crescente hegemonia do liberalismo, que marcou os últimos quase 50 anos, as instituições de Bretton Woods têm funcionado num quadro económico restrito e excessivamente orientado para o mercado, de resultados questionáveis.

Gosh não está sozinha. As suas preocupações com o modelo económico global começam a assumir um carácter transversal, visível nas declarações de outros tantos economistas.

Em Davos, Christine Lagarde gerou polémica ao acusar os economistas de terem uma “fé cega” em modelos com pouca adesão à realidade, descurando o efeito de choques exógenos, como pandemias e alterações climáticas. A Presidente do BCE acusa esta classe de viver fechada no seu mundo irrealista, apelidando-a depreciativamente de “clique tribal”.

Menos radical nas suas acusações, Dani Rodrik, economista de Harvard, tem repetido incessantemente a necessidade de desenvolver políticas industriais capazes de gerar bons empregos, bem remunerados, que promovam o crescimento económico.

Daron Acemoglu revela-se cético quanto à possibilidade do desenvolvimento tecnológico nos estar a conduzir para uma prosperidade partilhada. Na medida em que a tecnologia pode mesmo empobrecer alguns grupos (destruindo postos de trabalho), é preciso que o Estado intervenha a montante, isto é, no mercado de trabalho, ao invés de aceitar resultados desequilibrados para os redistribuir.

Acemoglu advoga que o Estado deve direcionar o processo de inovação para que os trabalhadores possam ser beneficiados. É a ideia do empurrão (nudge) da tecnologia, que já acontece com os subsídios que são concedidos pelos governos para promover o uso de energias limpas.

As questões ambientais e o risco de desemprego levantado pela inteligência artificial são dois bons exemplos de áreas onde a orientação política será indispensável. As velhas instituições multinacionais podem chamar a si estes dois desafios globais como forma de tentar recuperar o papel a que se propunham aquando da sua fundação.

Para tal, terão de romper com o pensamento da clique tribal, a mesma que foi responsável por uma crise financeira com proporções multinacionais e que se propôs eliminar a inflação impedindo a subida dos salários, enquanto tolera que a desigualdade aumente.

Quem sabe, com um pequeno empurrão no sentido dos seus princípios desenvolvimentistas, as instituições de Bretton Woods deixarão finalmente de estar obsoletas.

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