Uma Finalíssima em Paris entre leões e dragões? «Foi uma Champions em ponto pequeno»

1 mes atrás 64

O dia 3 de agosto de 2024 é aguardado com expectativa por milhares de adeptos do futebol português. Sporting e FC Porto entram em campo, no Estádio Municipal de Aveiro, às 20h15, para darem o apito inicial no que toca às competições profissionais em Portugal. O troféu em disputa? A Supertaça Cândido de Oliveira, pois claro.

De um lado, a turma comandada por Rúben Amorim, que até terminou a época transata com uma derrota na Taça de Portugal frente aos pupilos de Sérgio Conceição, isto depois de ter conseguido conquistar a Liga Portugal Betclic. Do outro, dragões de ambição renovada e com Vítor Bruno no banco de suplentes para tentarem continuar num caminho vitorioso.

Os duelos entre as duas equipas são bastante frequentes: 249 jogos. 84 vitórias leoninas, 73 empates e 92 desfechos positivos pintados de azul e branco. Dessas partidas, oito foram referentes à Supertaça Cândido de Oliveira, sendo que é o Sporting quem tem razões para sorrir, uma vez que nunca perdeu nenhum embate neste âmbito. A última vez remonta para 2008, fruto de um triunfo por 0-2, com os dois golos a ser apontados por Yannick Djaló.

Se recuarmos ainda mais nos livros da história, verificamos que existiu um particular confronto, mas em 1996. Lembra-se de todos os contornos de uma finalíssima que aconteceu em... Paris? O zerozero foi ao encontro dos protagonistas e falou com João Manuel Pinto (FC Porto) e Carlos Xavier (Sporting), dois dos jogadores presentes em território francês.

O segundo capítulo de uma história francesa

Antes de passarmos para a conversa com os atletas, é necessário contextualizar todo o cenário. Vamos por partes. A Supertaça de 1995 começou a ser disputada a 6 de agosto desse mesmo ano, no antigo Estádio José Alvalade. Os 25 mil adeptos não assistiram a nenhum golo, pois Sporting e FC Porto empataram a zeros. À partida, tudo seria decidido no jogo da segunda mão, no Estádio das Antas.

Carlos Xavier marcou em Paris

Aí, a história foi diferente no toca a alterações do marcador, pois existiram quatro remates certeiros (2-2). Domingos Paciência (quem mais?) inaugurou o marcador aos 19 minutos, mas Nourreddine Naybet deixou tudo na estaca zero antes da ida para os balneários. Domingos Paciência voltou a fazer estragos aos 53 minutos, no entanto, Ahmed Ouattara colocou um ponto final no resultado na reta final e atirou as decisões para um terceiro jogo em Paris, tal como tinha acontecido na edição de 1994, onde o FC Porto levou a melhor diante do Benfica, no Parc des Princes.

O sucesso do primeiro duelo diante de uma enorme comunidade portuguesa fez com que os dirigentes federativos olhassem para Paris «com outros olhos» e repetissem o feito um ano depois. A outra particularidade? Devido ao apertado calendário das duas equipas, o jogo foi disputado... a 30 de abril, vários meses após as primeiras duas partidas e antes do final da temporada.

O resultado não engana: 0-3 com selo leonino, sendo que Sá Pinto colocou os leões em vantagem ainda na primeira parte. Coube a Carlos Xavier, já na reta final do embate, rubricar o último golo, na sequência de uma grande penalidade. Festa pintada de verde e branco além-fronteiras.

«Lembro-me que estávamos motivados por jogarmos para quem estava fora de Portugal. Esses adeptos puderam ver as suas equipas de perto e é sempre um orgulho. Quisemos fazer o melhor possível para dar-lhes alegrias. Fomos mais felizes e é sempre agradável jogar perante um público que é nosso, mas que vive lá fora», atirou o médio que fez o gosto ao pé com a camisola do Sporting.

Paris encheu-se de portugueses @Getty / Matthias Hangst

«Foi uma experiência inédita, algo diferente comparativamente a quase tudo o que tinha acontecido em Portugal. Decorreu numa capital com milhões de habitantes, uma cidade maravilhosa. Apesar de termos perdido por 0-3, nunca me vou esquecer desse encontro. Tornou-se numa bonita final devido à preparação do jogo, envolvência, emigrantes e a todas as pessoas que se deslocaram até França para nos ver. Uma Liga dos Campeões em ponto pequeno, digamos assim», começou por afirmar João Manuel Pinto, central que esteve do outro lado ao serviço do FC Porto.

«Fomos jogar de 'saltos altos'»

Confiança em altas, mas o resultado mais desnivelado entre os dois emblemas nesta competição: o que explica esta disparidade? «Acho que entramos demasiado confiantes, depois de termos feito um campeonato brilhante. Partilhávamos a ideia de que ia ser tudo fácil porque éramos um conjunto difícil de derrotar. Eles foram melhores, inteligentes na forma como abordaram a partida e mereceram ganhar. Também aproveitaram bem as oportunidades que tiveram», explicou João Manuel Pinto, que alinhou durante os 90 minutos. 

João Manuel Pinto, aqui com Zahovic, nos tempos de FC Porto @FC Porto Memória

«Antes desse duelo tínhamos perdido com o Vitória SC. O treinador fez bastantes mexidas no onze inicial e metade dos titulares ficaram de fora. Dois dias findados, fomos jogar de 'saltos altos', é a realidade. O Sporting tinha o orgulho ferido por não ter sido campeão e entrou com tudo. Marcaram três golos e não podemos dizer que foi um desfecho injusto», referiu ainda, antes de dar a palavra a Carlos Xavier, que concordou com esta linha de pensamento.

«Fizemos um jogo praticamente perfeito e ganhámos 3-0 sem qualquer tipo de contestação. Claro que existia algum desgaste nos jogadores devido à carga de encontros que fomos tendo ao longo da temporada, mas nesse tipo de embates são os detalhes que fazem a diferença. Fomos mais fortes», argumentou.

«É importante começar este tipo de duelos a vencer. O bis do Sá Pinto na primeira parte concedeu-nos algum descanso e confiança para o que restava do jogo. O FC Porto teve que correr atrás do prejuízo, deixou alguns espaços na sua defesa e nós, no contra-ataque, aproveitámos essas debilidade para desenhar o terceiro golo, que acabou por 'matar' completamente algum tipo de esperança. Soubemos gerir e esperar até ao apito final», atirou.

Dragão ou Leão?

Em 2024, porém, a história é diferente e os protagonistas são outros. Não podíamos terminar a conversa sem pedir um prognóstico aos dois antigos jogadores. «O favoritismo está do lado do campeão nacional, sempre defendi essa forma de pensar. As duas equipas fizeram boas pré-épocas e demonstraram que estão capazes de começar a temporada. Toda a gente sabe como é que o Sporting joga, mas, do outro lado, existe muita gente ansiosa para perceber como é que Vítor Bruno, um treinador jovem, irá montar o esquema azul e branco. Jogadores que voltaram após castigo, os jovens... Tudo isso acaba por influenciar», disse João Manuel Pinto.

Uma imagem repetida ao longo dos anos @Getty /

«Temos de perceber também que FC Porto e Sporting perderam dois dos seus capitães, o Pepe e o Sebástian Coates, respetivamente. Eram dois grandes centrais, curiosamente, que estavam a um nível altíssimo, sendo peças fundamentais na estrutura e no balneário devido à liderança (...) [Se tivesse de apostar num resultado?] É complicado, acredito que possa ser um jogo decidido nas grandes penalidades, mas diria 2-1 ou 1-0 para o Sporting», concluiu.

«É díficil prever um vencedor porque a época ainda não começou. Os emblemas fizeram boas exibições durante este período de preparação, mas agora será a 'doer'. Os detalhes, tal como já referi, vão fazer a diferença. Quem cometer menos erros irá conquistar a Supertaça Cândido de Oliveira, com certeza», defendeu Carlos Xavier.

Encarnados venceram por 2-0 @Catarina Morais / Kapta +

«Qualquer jogador pode deixar a sua marca num piscar de olhos, mas penso que a equipa vale como um todo e ninguém procura protagonismo antes de olhar para o resultado. Quem acho que vai triunfar? O Sporting, obviamente, com um 2-0», rematou.

Terminamos como começamos: FC Porto e Sporting entram em campo este sábado, dia 3 de agosto, às 20h15, no Estádio Municipal de Aveiro. No ano transato, foi o Benfica a levantar o troféu, depois de um jogo marcado por muita polémica. Quem levará a melhor desta vez?

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