Universidade pública ou privada? "Ir para fora ia ficar muito mais caro"

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26 ago, 2024 - 09:05 • Redação

Apesar de a propina ser três vezes superior à que pagaria na pública, Diogo Bernardino concluiu que "as vantagens eram maiores" se optasse por uma privada perto de casa. Ana Rodrigues prepara-se para fazer a mesma escolha, apesar de ter média para entrar nuna universidade pública.

Pública ou privada? Diogo concluiu que "custava muito mais ter de ir para a Covilhã do que ficar cá no Porto"
Pública ou privada? Diogo concluiu que "custava muito mais ter de ir para a Covilhã do que ficar cá no Porto". Foto: Rafael Pinto/RR

Universidade pública ou universidade privada, eis a questão. É a dúvida mais presente na cabeça de muitos jovens que, por esta altura, recebem os resultados das colocações no ensino superior público. Há muitas contas que precisam ser feitas, nomeadamente em relação ao custo de vida dos anos que se seguem.

Com as médias de acesso nas universidades das grandes cidades a ultrapassar, nalguns cursos, a marca dos 18 valores, vários estudantes são forçados a procurar alternativas e a ponderar sair da sua "zona de conforto". Foi o caso de Diogo Bernardino.

Em 2014, o jovem, na altura com 18 anos, candidatou-se, entre outras opções, à Universidade da Beira Interior, ao curso de Ciências da Comunicação, por ser das únicas do país onde conseguia entrar com a média que tinha conseguido no ensino secundário. Contudo, durante a espera pelos resultados, surgiram questionamentos e receios.

Diogo começou logo a ponderar todas as hipóteses e, juntamente com os pais, fez um esquema de todas as despesas que englobava a sua mudança.

Somando as despesas com habitação, alimentação, luz, água e gás, e apesar de a propina ser três vezes superior à que pagaria na universidade pública, "as vantagens eram maiores" se optasse pela universidade privada no Porto, concluiu Diogo.

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Este é um problema transversal a muitos jovens que, nas próximas três semanas, vão ter de decidir a vida dos próximos três anos.

Nessa situação está também Ana Rodrigues, uma jovem de 18 anos que se inscreveu numa universidade privada na cidade onde nasceu, no Porto, apesar de ter média para entrar em faculdades públicas noutras zonas do país. O seu curso é na área da educação e, contas feitas, garante que "ir para fora ia ficar muito mais caro".

A futura universitária partilha que já conhece bem esta realidade, uma vez que as primas mais velhas estão a estudar numa faculdade "longe de casa" e a despesa mensal "ronda os 500, 600 euros". "Na minha faculdade, a mensalidade é muito mais baixa", afirma.

Ana chegou a ponderar mudar-se para Aveiro, onde contaria com a ajuda de familiares, mas ficava a uma distância de "30 minutos de carro", viagem que "tinha de fazer todos os dias". Contudo, além de ainda não ter carta de condução, os preços dos combustiveis são altos e, fazendo as contas, a mudança não compensava. "Eu queria ir para longe, mas os meus pais não gostaram da ideia", lamenta.

No caso de Diogo Bernardino, ao pesar na balança os prós e os contras, pesou mais o “lado emocional”. O facto de ser muito apegado à família criou outra barreira a uma eventual mudança. “Eu não tinha muito a experiência de estar sozinho, só de estar com os meus pais, por isso é que acabei por decidir ir para a faculdade privada", confidencia.

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Diogo conta que, à época, tinha alguns problemas de socialização e isso fez com que deixasse de parte a hipótese de se candidatar a residências universitárias. Tendo de custear um quarto só para si, “custava muito mais ir para a Covilhã do que ficar cá no Porto”, sublinha.

Acabou por fazer a licenciatura na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, onde considera ter sido “um sortudo”, na medida que não teve de trabalhar para pagar as propinas e, depois de terminar o curso, foi fazendo algumas “ações de voluntariado” na área da comunicação para ganhar experiência. “Devo isso aos meus pais”, diz.

Na altura, os pais de Diogo ganhavam apenas o salário-mínimo e, com “muito esforço” e muitas horas extra, conseguiram proporcionar ao filho o curso que ambicionava, perto de casa. “Os meus pais juntos não ganhavam 700€ por mês”, revela.

Pais "fizeram um esforço sobre-humano" para Diogo conseguir licenciar-se
Pais "fizeram um esforço sobre-humano" para Diogo conseguir licenciar-se. Foto: Rafael Pinto/RR

Antecipando o que serão os três anos de vida académica que tem pela frente, Ana revela que vai tentar arranjar um trabalho para conciliar com os estudos, pois tem a noção de que este é um encargo muito grande. "Eu acabei agora o secundário, não tenho um rendimento meu. Teria de depender de alguém e esse alguém são os meus pais", conclui.

Quando acabar o curso, a jovem não antecipa dificuldades acrescidas para entrar no mercado de trabalho por vir de uma universidade privada, porque acredita que a área da educação continuará a ter saída. Mas admite que esse é um preconceito que ainda existe na sociedade e defende que é tempo de "mudar mentalidades".

Numa perspetiva semelhante, Diogo diz que também nunca sentiu esse entrave extra por ter estudado na Fernando Pessoa. Dá o exemplo pessoal e sublinha que, neste momento, trabalha para um órgão público, na Junta da União de Freguesias de Cusóias, Leça do Balio e Guifões. Contudo, desde que entrou na faculdade ouviu muitos comentários de desvalorização e quem defendesse que o curso, por ser de um instituto privado, era mais "facilitado".

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