Vale de Judeus. Um dos fugitivos foi à missa na quinta-feira e falou com o Capelão

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Fuga de Vale de Judeus

09 set, 2024 - 13:00 • Henrique Cunha

O Assistente Religioso do Estabelecimento Prisional do Vale de Judeus conhece dois dos presos que fugiram no sábado. E um deles participou na celebração eucarística da última quinta-feira. O Padre Ricardo Jacinto recusou revelar à Renascença pormenores do encontro, mas admitiu que se tratou de “uma conversa normal”, que envolveu cerca de 20 reclusos.

Nas suas deslocações semanais ao Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus, o padre Ricardo Jacinto manteve contacto com dois dos reclusos que fugiram no sábado de manhã. Em entrevista à Renascença, o capelão prisional revelou que dois dos fugitivos “já foram várias vezes à Igreja”, tendo um deles estado na eucaristia da última quinta-feira.

Sem adiantar pormenores do encontro, o padre Ricardo Jacinto diz que teve oportunidade de falar com o recluso; numa “conversa normal”, em que que “estiveram quase 20 reclusos”.

“Um deles, por exemplo, na quinta-feira quando lá estive conversamos. Em nenhum momento percecionei o que quer que seja relativamente ao que se veio a passar depois. Foi uma conversa normal. Esteve ele e estiveram outros comigo. Estiverem quase 20 reclusos na Celebração e na conversa comigo. Conversamos normalmente como uma quinta-feira normal”, descreveu.

Do contacto semanal no Estabelecimento Prisional, o Padre Ricardo Jacinto tem "a noção de que houve desinvestimento ao nível do número de Guardas Prisionais”. O sacerdote lembra que vai a Vale dos Judeus quase todas as semanas e que se verifica “algum tipo de desinvestimento ao nível do número de guardas prisionais”.

“Parece-me, pelo menos das vezes que lá vou, e desconhecendo em profundidade o assunto, mas parece-me que o número de guardas prisionais é insuficiente”, acrescenta.

Ainda assim, o padre Ricardo assegura que em nenhum momento se sentiu inseguro em Vale dos Judeus. Contudo revela que por vezes encontra dificuldade em arranjar quem o acompanhe até à Igreja, o que na sua perspetiva indicia “a falta de guardas prisionais” .

Por outro lado, o Padre Ricardo Jacinto tem a convicção de que a reinserção social dos reclusos “não funciona bem”.

“Reinserção social faliu”

Por sua vez, o Presidente da Obra Vicentina de Auxílio ao Recluso (OVAR), Manuel Almeida Santos afirma que a fuga de Vale dos Judeus demonstra que “faliu a reinserção social nas prisões”.

“Esta fuga tem muito a ver com aquilo que é a vivência dos nossos estabelecimentos prisionais. Dentro dos estabelecimentos prisionais não há um clima de reinserção e de apego dos reclusos a qualquer política a que leve a que eles encarem a saída das prisões como uma via de reentrada na sociedade de forma pacifica. E, portanto, quem vive dentro da prisão vive numa opressão que faz com que a fuga seja sempre uma tentação. O nosso sistema prisional faliu naquilo que diz respeito a uma das suas obrigações que é a reinserção social. E recordo que o organismo que tutela as prisões chama-se Direção Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais. Não há reinserção nas prisões. Estes indivíduos estiveram vários anos a cumprir várias penas. Onde é que funcionou aqui a reinserção social?”, questiona.

O Presidente desta instituição da Igreja que recebeu em 2018 o prémio de direitos humanos da Assembleia da República afirma por outro lado que "há falta de formação das pessoas que trabalham na área da reinserção social.

“Em princípio os técnicos de educação falam frequentemente com os reclusos. Estes reclusos tiveram contactos com os técnicos de educação nos dias anteriores à fuga? Os técnicos de educação tiveram alguma perceção de que havia ali alguma coisa? Ou os técnicos de educação não têm formação nesta área e, portanto, nós também vivemos uma questão de falta de formação das pessoas que na prisão exercem estas funções? Na minha opinião há falta de formação, há falta de formação a todos os níveis”, assegura Manuel Almeida Santos.

O Presidente da OVAR considera fundamental o estabelecimento prisional explicar o que se passou e afirma que "uma fuga deste tipo tem de ter colaborações", pois "não se faz com os guardas a olhar para o lado".

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