Vários resultados históricos na Galiza deixaram quase tudo na mesma

7 meses atrás 66

A Galiza, na fronteira com o norte de Portugal, é o maior feudo do Partido Popular de Espanha (PP, direita) e no domingo voltou a dar a vitória a esta formação política, como sempre aconteceu em eleições autonómicas.

O PP conseguiu a quinta maioria absoluta consecutiva na Galiza e este é o primeiro resultado histórico de domingo porque o máximo que tinha conseguido até agora eram quatro. Perdeu porém deputados (tinha 42 e ficou com 40).

Outro resultado histórico foi o do Bloco Nacionalista Galego (BNG, esquerda), que se consolidou como segundo maior partido na Galiza, ao passar de 19 para 25 deputados regionais e a superar os 31,5% de votos, o melhor resultado de sempre desta formação.

Também o Partido Socialista (PSdaG-PSOE), do primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, teve um resultado histórico, mas por ser o pior de sempre: não foi além dos 14% de votos e passou de 14 para nove deputados.

Durante a campanha, algumas sondagens davam a possibilidade de o PP perder a maioria absoluta, o que abriria portas ao primeiro governo galego (conhecido como Xunta) liderado pelos nacionalistas, numa coligação pós-eleitoral com os socialistas.

A abstenção diminuiu 18,34 pontos em relação a 2020 (quando as eleições se realizaram em plena pandemia de covid-19) e 67,3% dos eleitores foram votar no domingo, num nível de participação que não se verificava desde 2009.

Nas muitas análises que se estão a fazer em Espanha, a primeira conclusão é que é indiscutível o poder de mobilização do BNG atual, inédito na história do partido, e em especial da líder da formação, Ana Pontón, que foi buscar votos a todas as outras forças de esquerda, em especial ao PSdaG-PSOE, mas também convenceu milhares de pessoas que se abstiveram no passado.

Politólogos e jornalistas realçam também uma mobilização maior do que a esperada dos eleitores do PP, perante a possibilidade de os nacionalistas chegarem ao poder.

Ao contrário do que acontece na Catalunha ou no País Basco, o nacionalismo na Galiza, para a maioria dos galegos, não é sinónimo de conflito identitário.

"A maioria dos galegos dizem sentir-se tão espanhóis como galegos e tão galegos como espanhóis", disse à Lusa, na semana passada, a professora e investigadora de Ciência Política Nieves Lagares, da Universidade de Santiago de Compostela, que explicou que o êxito do PP da Galiza reside precisamente "na ideia de se identificar com os galegos, com a ideia de 'galeguidade'", mas sem nunca ter seguido o caminho dos partidos nacionalistas bascos e catalães.

O PP candidatou Alfonso Rueda, a quem se reconhece pouco ou nenhum carisma e que já presidia à Xunta desde 2002, quando Alberto Núñez Feijóo saltou para a liderança nacional do partido.

"O PP demonstrou que a sua força na Galiza vai mais além da debilidade do seu candidato ou do empenho em levar para aquele território as querelas nacionais", escreveu o jornal El Pais no editorial de hoje, numa referência à estratégia de Feijóo de levar para a campanha galega temas como a amnistia que os socialistas negociaram com independentistas da Catalunha.

A meio da campanha, Feijóo fez declarações sobre a amnistia contraditórias com o tem dito nos últimos meses, naquilo que foi classificado como "um tiro no pé" por analistas, oposição e até membros do PP. No entanto, há hoje unanimidade em que a sua liderança à frente do PP saiu reforçada das eleições galegas.

Já os socialistas tiveram no domingo a 11.ª derrota em eleições autonómicas desde que Pedro Sánchez lidera o Governo espanhol, como recordou hoje o editorial do jornal ABC.

Apesar de conseguir manter-se à frente do Governo nacional desde 2018, o PSOE tem perdido poder territorial e só governa três das 17 regiões autónomas espanholas (Castela La Mancha, Astúrias e Navarra).

Neste caso, as opiniões são unânimes em considerar que os socialistas não têm uma estratégia para a Galiza, onde a cada eleição autonómica apresentam um candidato novo. Este ano, foram mesmo acusados de estarem até a fazer campanha pelo BNG, para tirar o PP do poder e por os nacionalistas galegos serem um dos partidos que viabilizaram, no parlamento nacional, os últimos dois Governos de Sánchez.

Com os resultados de domingo, o PP continuará a governar a Galiza, mas são várias as vozes que dizem que nem tudo continua exatamente na mesma na região.

"É verdade que não conseguimos derrotar a maioria do PP, mas nada voltará a ser igual. A Galiza mudou e há uma alternativa sólida de futuro e um caudal de esperança", afirmou hoje Ana Pontón, do BNG, acrescentando que "as mudanças profundas às vezes demoram muito tempo, mas é evidente que este país [a Galiza] já mudou e essas mudanças chegarão".

Leia Também: Galiza. PP fala em lição a Sánchez por "alimentar o independentismo"

Ler artigo completo