Tenho ouvido muito os The Beloved no extraordinário “Hello”: “sometimes I feel that the whole world’s going mad”! O último episódio foi os deputados republicanos no Congresso dos EUA sabotarem o esforço da Ucrânia para resistir à invasão russa. Porque estão a agir contra os interesses americanos e uma política externa de anos e anos para ajudar o seu adversário figadal?
Explica-se com uma palavra: Trump. Ele mudou o panorama político dos EUA e não foi para melhor. A sua declaração que encorajará a Rússia a invadir qualquer país da NATO que não “pague” é inqualificável, tal como referir-se ao Presidente como “crooked Joe”.
Como pode numa democracia haver um Presidente que não aceita ser derrotado em eleições? E como pode metade dos eleitores americanos estar disposta a eleger tal pessoa? Que foi condenada em tribunal a pagar 355 milhões de dólares por enganar bancos e credores sobre a sua situação financeira para ter juros mais baixos, e dizer que a condenação foi uma farsa porque “não houve vítimas, nem danos, nem queixas”?
Isto sem esquecer que Trump foi o Presidente que deu imunidade aos seus próximos colaboradores e amigos antes de sair: dos 237 perdões que concedeu apenas 25 passaram pelo Office of the Pardon Attorney; 84% foram no último ano do mandato e 144 na última noite.
Confesso que sempre fui pró-Democrata em matéria de política americana. Mas com Trump aplica-se na perfeição a velha frase que nas eleições americanas devia votar o mundo inteiro (talvez com exceção da Rússia e da Coreia do Norte, mas esses são os únicos que Trump aceitaria). As diferenças para Biden são muitas: no comércio, onde com Trump teremos o regresso a um protecionismo cerrado (no caso da China, com impacto nulo ou levemente negativo, segundo David Autor, do MIT).
Na política fiscal e dívida pública, em que Trump defende reduções de impostos que pioram muito o défice americano. No mandato anterior Trump acrescentou 8,4 milhões de milhões de dólares à dívida pública, contra quatro estimados para Biden.
Desde 1970 o PIB dos EUA aumentou de cinco para 25 milhões de milhões de dólares, cinco vezes; já a dívida aumentou de 0,34 para 34 milhões de milhões, 100 vezes. Esta trajetória não é sustentável; se não for contida com Biden, com Trump será uma festa. Na política monetária, onde Trump tentará forçar a descida dos juros, mesmo que a inflação suba, e irá livrar-se de Powell em 2026.
Esperemos que entre Trump e Biden venha Deus e escolha, não o diabo, senão a nossa vida vai ser um inferno.