O futebol feminino está a crescer e há cada vez menos dúvidas sobre isso. Afinal, quem imaginaria há alguns anos termos uma equipa nos quartos de final da Liga dos Campeões feminina? Ou termos a nossa seleção nacional a colocar em maus lençóis a toda poderosa e histórica seleção dos EUA? O crescimento está lá e a visibilidade também. São vários os fatores que têm influenciado essa maior visibilidade. O investimento aumentou, dentro e fora das quatro linhas, a aposta na cobertura mediática também e até aos jogos de consola chegou essa aposta. Em 2023, o jogo mundialmente conhecido como FIFA, que acompanhou tantas gerações, desde que foi lançado em 1993, mudou o design e passou a chamar-se EA FC, uma decisão derivada da EA Sports - divisão da Electronic Arts que desenvolve e publica videojogos desportivos - ter decidido não renovar o seu acordo de licença com a FIFA. Ora, nada melhor do que começar uma nova era com uma revolução positiva e foi isso que o EA FC fez: introduziu o futebol feminino. É verdade, 20 anos passaram desde a criação do FIFA, mas nunca tinham sido introduzidas as mulheres num jogo onde opções nunca faltaram, como os melhores da semana (TOTW), a Equipa do Ano (TOTY), Equipa da Época (TOTS), Lendas, Heróis ou as várias campanhas dinamizadas quase semanalmente, para dar vida constante ao jogo. Assim, a EA Sports anunciou a introdução de 1500 jogadoras no seu jogo deste ano, num universo de mais de 17 mil no total do EA FC, a maior injeção de novas cartas na história da base de dados desta franquia de sempre. Foram muitas as ligas introduzidas, como a NWSL, Barclays WSL, Liga F, Frauen Bundesliga, D1 Arkema, a Liga dos Campeões feminina ou até a Liga BPI (embora esta numa fase embrionária). A isto juntam-se ainda as referidas Lendas - com nomes como Homare Sawa, Camille Abily ou Kelly Smith - e as heroínas, assim como as tais campanhas. Foi um boom de conteúdo. Numa sociedade marcada pelo crescimento tecnológico e onde as gerações mais novas consomem videojogos a um ritmo elevadíssimo - o FIFA foi, constantemente, dos títulos mais vendidos anualmente -, não é de estranhar que esta introdução num videojogo tenha tido um elevado impacto no consumo do futebol feminino e foi isso que fomos à procura de perceber. Por isso, o zerozero esteve à conversa com duas jogadoras profissionais de ESports portuguesas. Beatriz é campeã nacional @Reprodução Instagram «Muita gente que não as conhecia vê as cartas da Putellas ou da Hansen e pensam que se elas são assim tão boas no jogo, então vou ver jogos na vida real e vídeos dela. Começam a interessar-se um bocado mais e a tentar ver se o jogo vai de encontro à realidade. Ganham tempo a ver os jogos, vídeos e interessam-se mais pelo feminino real, através do jogo», acrescenta a campeã nacional feminina de FIFA em 2022/23. Esta é, de resto, uma opinião corroborada por Carlota Farto, sua adversária e jogador do Benfica: «Primeiramente pensei logo a nível do código, sobre como funcionaria a mistura entre mulheres e homens, porque as mulheres tendem a ter menos corpo e a ser mais técnicas e queria ver como isso surgiria no jogo. Fiquei muito feliz com a adição das mulheres. Muito do que sei de futebol, ao nível de equipas e jogadores, foi graças ao FIFA. Eu sou a pessoa que quando o meu pai não sabe algo, liga-me a perguntar.» «Eu própria comecei por ver a Putellas, a Bonmatí, a ver o Lyon para ver se o SBC [Squad Building Challenge] da Bacha subia. Tudo isto me faz fazer coisas como ligar as notificações para ver como está o Lyon na Champions feminina. Foi uma boa coisa para o FIFA, porque tem melhor jogabilidade e muitas coisas novas. Antes chegávamos a meio do ano e tínhamos sempre as mesmas cartas, todos com as mesmas equipas. Além das cartas serem diferentes e terem outros pormenores, é muito bom para conhecer as jogadoras e as suas ligas. Até os meus amigos. Às vezes estamos em conversa e falamos da liga feminina espanhola, em vez de estarmos sempre a falar da masculina», acrescenta. A relação parece de simbiose entre o futebol feminino e quem aposta nele e os números comprovam-no. Segundo dados revelados no passado mês de setembro, a venda de discos físicos com o EA FC 24 baixou em relação ao FIFA 23, mas isso não impediu de ter um crescimento global (incluindo venda em formato meramente digital, no fundo) de 4%, no período em questão. Os números estão lá, mas a nível do videojogo em si, será que melhorou? Beatriz e Carlota não têm dúvidas. Carlota, ao serviço do Benfica @Reprodução Instagram «Antes de haver mulheres no FIFA, eram sempre os mesmos jogadores e as mesmas cartas. Chegávamos a um ponto onde as equipas eram exatamente iguais. Agora já temos cartas diferentes para explorar. Há mais diversidade. Algo que nos últimos FIFA’s não acontecia. Houve a introdução de novas cartas, novas jogadoras e torna tudo diferente. Dá muito mais vontade de jogar», acrescenta Beatriz. A introdução do futebol praticado por mulheres não se fica por aqui e nos últimos tempos muito se falou da sua inclusão no Football Manager, conhecido como o maior jogo de simulação de realidade futebolística do mundo, onde os jogadores vestem o papel de treinadores e selecionadores de qualquer equipa ou selecionador à sua escolha. «O ciclo FM25 verá a tão esperada introdução do futebol feminino. O facto é que fizemos um progresso muito bom em muitas áreas, incluindo pesquisa, mecanismo de jogo e tradução. Mas há outras áreas que não fizeram avanços suficientes, muitas das quais são questões legais. O futebol feminino merece ser o melhor possível quando for lançado», afirmou Miles Jacobson, diretor de estúdio da Sports Interactive, empresa responsável pelo Football Manager. Contactada pelo zerozero, a Sports Interactive referiu que no diz respeito ao futebol português, esta questão da inclusão do futebol feminino no Football Manager está ainda «numa fase muito embrionária», não levantando o véu sobre como está a ser processado o levantamento de informação relativo aos nossos campeonato e qual será o papel dos mesmos na versão da próxima época do jogo.Jogo também ganhou
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