O SEMIBREVE arranca no dia 27 de Outubro e a dupla Félicia Atkinson e Violeta Azevedo será responsável pelo primeiro concerto da edição deste ano. A encomenda deste espectáculo foi feita pelo evento bracarense em parceria com o Maintenant Festival, de Rennes, onde aconteceu a primeira actuação. Não se trata de um encontro inédito, mas será apenas a segunda vez que as duas artistas se juntam, ou seja, ainda há novos caminhos a necessitarem de exploração nesta conexão. Antes da actuação no Santuário do Bom Jesus do Monte, as duas inventivas exploradoras do som desvendaram um pouco sobre este PARQUE onde todos poderão entrar, de certa forma.

Antes de falarmos do SEMIBREVE, que lições aprenderam na primeira performance em França?
[Violeta Azevedo] Pedimos dois pares de microfones cruzados de forma a termos uma experiência sonora mais envolvente. A peça que criámos em conjunto para estes concertos intitula-se PARQUE e nós queremos mesmo sentirmo-nos imersas nela.
[Félicia Atkinson] Eu gostei do diálogo que criámos entre o piano de cauda, a flauta, a voz e a electroacústica.
A vossa segunda apresentação acontece amanhã em Braga. Vão existir grandes mudanças, diferentes abordagens?
[Violeta Azevedo] Já estava realmente perfeito em Rennes no Maintenant Festival e por isso ainda me sinto mais animada para tocar esta peça novamente com a Félicia. Vou-me sentir definitivamente mais calma e confiante neste [espectáculo] para explorar ainda mais os sons.
[Félicia Atkinson] Penso que não. Trabalhámos através da continuidade, metade é composto e metade improvisado, o que nos permite alguma liberdade e desconhecimento em cada ocasião.
Quando o desafio vos foi feito, já conheciam o trabalho uma da outra?
[Violeta Azevedo] Eu conhecia pouco e nunca tive a chance de ir a um espectáculo a solo, espero muito conseguir ir no futuro.
[Félicia Atkinson] Eu não sabia muito sobre o trabalho da Violeta, mas senti que a sua música estava muito próxima de mim e do que eu faço.
Esta não terá sido a primeira vez que as duas tiveram de conhecer outros artistas (com quem nunca tinham trabalhado antes) para encomendas deste tipo. Para vocês, qual é a coisa mais importante para que este tipo de diálogo artístico resulte e o que é que gostam sempre de retirar disso?
[Violeta Azevedo] Já toquei com muita gente antes, mas para mim este tipo de encomenda, de só poder conhecer a Félicia durante os festivais, é a primeira vez. Conversámos e trabalhámos online, e sendo a primeira vez a trabalhar assim para mim foi um desafio um pouco assustador, mas o que aconteceu foi que eu realmente gostei de conhecer a Félicia pessoalmente. Falámos durante um longo tempo e apanhámos sol e bebemos cerveja antes de tocarmos, fisicamente, juntas no dia a seguir. Isso deu a ligação necessária que fez as coisas acontecerem e amplificou o prazer de tocarmos juntas.
[Félicia Atkinson] Troca de ideias/cuidado no trato/confiança/humor.
Vão conseguir ver mais concertos na edição deste ano do SEMIBREVE? Têm interesse em alguns em particular?
[Violeta Azevedo] Vou ter sorte de ficar por Braga durante todo o festival :) e vou ver todos os espectáculos porque não há sobreposições. Eu tenho um interesse especial em ver o concerto do KMRU e a talk da Príncipe Discos. Também estou muito por feliz porque o sítio onde trabalho, a Patch Point, terá um Synthesizer Lounge e os meus colegas e amigos vão estar lá, por isso prevejo uns dias de sonho.
[Félicia Atkinson] Eu adoraria vê-los a todos, especialmente o Ben Vida e Lea Bertucci, Stephen O’Malley, Kassel Jaeger, Caterina Barbieri, KMRU, Gábor Lázár… mas estou a viajar com o meu filho de quatro anos e é a sua semana de férias, por isso vamos, eu e o Bartolomeé, o meu marido, ver o que é exequível… :)
As palavras “experimental” e “aventureira” são commumente associadas música que fazem nos vossos projectos em nome próprio. O que é que significam para vocês?
[Violeta Azevedo] Hum, para mim isso significa um grande mergulho dentro da minha mente. Quando toco sozinha, eu vou para este planeta cheio de seres e lugares que trazem essas emoções que eu preciso de lidar e preciso de curar. O processo é uma viagem comigo mesma e com essas entidades, uma exploração profunda desses sentimentos que se traduz na minha linguagem de frequências, texturas e padrões sonoros, curando meu eu externo e me permitindo evoluir pessoalmente.
[Félicia Atkinson] Significa que cada espectáculo ou disco é uma aventura através do desconhecido. Improviso sempre piano e voz, e penso que nós somos, de alguma forma, o nosso primeiro público…