Viticultores alertam para “o princípio de uma catástrofe social no Douro”

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07 ago, 2024 - 06:00 • Olímpia Mairos

Produtores saem à rua na Régua, contra o corte no benefício, a redução do rendimento por hectare e as incertezas no escoamento de uvas.

Os viticultores da Região Demarcada do Douro saem às ruas de Peso da Régua, esta quarta-feira, para alertar para o “o princípio de uma catástrofe social no Douro”.

“Não sei o que é que vai acontecer, mas isso pode ser o princípio de uma catástrofe social na Região Demarcada do Douro”, alerta Vítor Herdeiro.

O produtor de 51 anos e dirigente da Avadouriense (Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense) explica que em causa está o corte no benefício, a redução do rendimento por hectare - das 10 para as oito pipas - e ainda as incertezas no escoamento das uvas.

“Neste momento, estamos a falar de 32.000 pipas: são as 14 mil deste ano, mais as 18 mil que já nos cortaram no passado. Estamos a falar em 35 milhões de euros, à volta disso”, diz.

Este ano, o benefício foi fixado nas 90.000 pipas, o que equivale a um corte de 14.000 pipas (550 litros) na produção de vinho do Porto. O benefício é a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é também uma das suas maiores fontes de receita.

“É inaceitável para os viticultores este corte, porque o vinho do Porto é a pedra angular do rendimento na Região Demarcada do Douro”, assinala.

A acrescer a este limite, Vítor Herdeiro fala no corte ao rendimento por hectare, explicando que antes podiam entregar nas adegas e nas cooperativas 10 pipas, entre vinho do Porto e vinho de consumo, e, atualmente, só podem entregar oito.

Os agricultores queixam-se também dos preços muito baixos à produção de uva e de vinho. Segundo Vítor Herdeiro, a pipa de vinho de consumo está a ser vendida entre os 300 e os 350 euros e a pipa de vinho do Porto entre os 800 e os 900 euros.

“Isto não é dinheiro nenhum. Há 20 anos vendia-se ao dobro do preço. E depois, temos os custos dos fatores de produção - que são elevadíssimos - e as alterações climáticas que nos obrigam a fazer o dobro das aplicações nas vinhas”, lamenta.

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Nestas declarações à Renascença, Vítor Herdeiro mostra-se também muito preocupado com as dificuldades de escoamento da produção, adiantando que os grandes agentes da transformação e do comércio já ameaçaram não comprar as uvas da vindima de 2024.

O problema mais grave é eles não querem ficar com a produção. Os exportadores estão-se a preparar para não ficar com a produção, porque, dizem que estão cheios. E temos aqui agricultores que estão aflitíssimos, porque são agricultores com seis e sete hectares, já médios agricultores. Isto, a concretizar-se, é a machada final no viticultor”, indica.

“Não é de espantar que vai chegar muito viticultor às adegas com as carrinhas e vir com as dornas para trás, sem saberem onde deitar esse vinho, porque os viticultores não têm onde deitar esse vinho”, alerta, acrescentando que “vão ter que o deitar ao rio Douro ou deitarem-no no meio da estrada”.

O viticultor refuta que a região produza vinho em excesso, atribuindo as culpas à entrada de vinho importado que se tem verificado.

“Nós não temos excesso de produção de vinho. Nós estamos é com excesso de importações vindas de outros lados, sem controlo, vinhos a granel, vinhos vindos de Espanha, do Chile, de outros países”, denuncia.

Segundo o produtor, há na região “vinhos mistura de vários países”, considerando que “isso é a maior vergonha que pode acontecer aqui, na Região Demarcada do Douro, com um produto como nós temos, com uma qualidade fora de série, que é o único produto no mundo que não leva açúcares”.

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