Vítor Matos: «Ter trabalhado com Klopp deixa-me extremamente agradecido»

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Dias depois de ter saído do Liverpool e de ter sido apresentado no RB Salzburg, Vítor Matos marcou presença no Fórum Internacional da Quarentena da Bola, evento do qual o zerozero é media partner. Perante este cenário, o nosso portal teve a oportunidade de fazer algumas perguntas ao antigo adjunto de Jürgen Klopp, que agora vai desempenhar as mesmas funções mas tendo Pepijn Lijnders como técnico principal.

Zerozero: Foram cinco anos no Liverpool. Qual é a principal marca que o Jürgen Klopp deixa no treinador Vítor Matos? Se lhe pedir para olhar para trás e escolher o maior ensinamento que este lhe deixa, qual escolheria?

Vítor Matos: Foram muitas, mas se tivesse de escolher uma seria a paixão pelo jogo e a paixão por desenvolver a equipa e o clube. Ele, os adeptos, os jogadores e o clube formavam um quarteto fantástico. Ter vivido isso de perto e ter tido a oportunidade de trabalhar com ele é algo que me deixa extremamente agradecido porque me permitiu estar em contacto com um nível extremamente elevado. Trabalhei a uma excelente nível, tanto na Premier League como na Liga dos Campeões, e os jogadores estavam num patamar fantástico.

ZZ: Olhando para esta última temporada, como foi trabalhar sabendo que se está em fim de ciclo? Quando é que o Jürgen Klopp falou convosco antes de tornar a decisão pública? 

qO meu trajeto tem sido em crescendo e penso que tornar-se treinador principal será algo natural, ainda que não num futuro próximo

VM: Não mudou nada, o dia a dia é exatamente igual. A única coisa que mudou foi um ligeiro tomar de consciência de que vai chegar o dia em que vai terminar algo que foi construído e que nos enchia de orgulho e felicidade. Por um lado tens noção que esse dia está a aproximar-se, mas por outro não se aproxima porque vives o dia a dia a 200 por cento e estás mesmo muito focado no trabalho da equipa. No último dia foram muitas emoções ao mesmo tempo e depois... acabou. Nós continuámos sempre iguais. De forma natural, o Jürgen falou connosco antes de se tornar público. Ele teve uma conversa connosco e depois com o clube a nível interno. Como sempre aconteceu, nós apoiámos a 200 por cento e foi uma decisão partilhada por todos. Foi algo bastante consciente e ponderado.

ZZ: O que é que o levou a aceitar o convite do Red Bull Salzburg [será adjunto de Pepijn Lijnders]? Quando o convite surgiu e teve de refletir sobre ele, não houve a perceção de que talvez exista um choque entre o «estou a aceitar um projeto aliciante, isto tendo em conta a forma como a Red Bull está no futebol» e o «vou para um campeonato menos atrativo»?

VM: Aquilo que nos fez tomar a decisão de ir para lá foi a forma como a Red Bull e o Salzburg nos quiseram. Mostraram muito interesse desde início e o que nos pediram em termos de desenvolvimento do clube e do projeto Red Bull foi algo que nos motivou. É um projeto muito aliciante; a Red Bull tem e teve um desenvolvimento até um certo ponto e existe a vontade de quererem dar o passo seguinte. O facto de o quererem fazer connosco motivou-nos, assim como a possibilidade de fazermos algo diferente. O clube venceu dez títulos consecutivos, mas perdeu o desta época. Esse aspeto permite-nos ir atrás desse objetivo e tentar implementar uma ideia de jogo mais de acordo com o que nós pretendemos. Acreditamos que é por aí que a Red Bull pode crescer.

O clube tem excelentes condições e é um sítio fantástico em termos de desenvolvimento de talentos. Não é uma liga tão competitiva [como a inglesa], mas podemos explorar outro tipo de mercadose vivenciar outro tipo de contextos- esta é uma liga com menos equipas e que depois se parte a meio. Quando nos apresentaram o projeto fez sentido, não só como experiência para pós-Liverpool, mas também como primeira experiência de Pep como treinador principal. Do que conhecemos até ao momento, estamos muito contentes.

ZZ;Já surgiu a possibilidade de fazer a transição para treinador principal? É algo que ambiciona num futuro próximo?

VM: É algo que vai acontecer naturalmente, mas não num futuro próximo porque tenho um grande comprometimento com o Pep. Estou com ele pela amizade, pelo respeito e porque vejo nele um treinador fantástico. Sinto que vou beneficiar em estar perto dele neste novo projeto. Logo se verá, mas não tenho dúvidas que irá acontecer. O meu trajeto tem sido em crescendo e penso que será algo natural. Irá acontecer quando estiver predisposto a começar outra aventura. Os objetivos a curto prazo são colocar o Red Bull Salzburg na Champions e conquistar o maior número possível de títulos. 

Treinador português no Liverpool @Getty /

Na sessão em que esteve presente, Vítor Matos abordou outras questões, entre elas a participação de Portugal no Campeonato da Europa. O técnico assumiu que estará especialmente atento por causa do seu (até aqui) pupilo Diogo Jota.

«Encaro o Europeu com muito entusiasmo. Acho que temos uma Seleção fantástica, há uma grande variabilidade em termos de perfil dos jogadores, há talento, compromisso coletivo dos jogadores... Enche-me de orgulho vê-los jogar e penso que isso é o mais importante, que toda a gente se identifique com a equipa nos 90 minutos. Somos uma das equipas candidatas a ganhar e espero que consigamos ser campeões europeus.

Ficava feliz por toda a gente, mas ainda mais pelo Diogo Jota. É um jogador fantástico, é o jogador que qualquer treinador gostava de ter. É um jogador que tem uma grande capacidade de voltar a encontrar rendimento após lesão; pela sua inteligência, pela forma como encara os jogos e pela preparação que faz. É muito profissional e é uma mais valia para a Seleção», sublinhou.

Por fim, Vítor Matos concluiu explicando como era feito o processo de transição das camadas jovens para a equipa principal do Liverpool, isto tendo como base o caso específico de Trey Nyoni, que estreou pelo equipa principal com apenas 16 anos: «A mim custa-me falar do termo 'queimar etapas'. O que tentamos fazer foi que o processo de transição da formação para a equipa principal fosse independente da minha ideia de jogo. Existem jogadores que explodem de um momento para o outro quando não era esperado; existem casos em que se verifica o contrário; casos em que o treinador foi determinante para o desenvolvimento de um jogador e casos em que a influência do treinador fosse 0.

O que fizemos foi criar o espaço para que este tipo de cenários se verificasse. No caso do Trey, que vinha referenciado como alguém com potencial para chegar a um nível alto, quisemos vê-lo noutro contexto. Tínhamos algo a que chamamos 'Talent Group', que era um grupo de jogadores jovens que treina com o staff da equipa A. É composto por atletas dos sub-21, sub-18 e sub-16. Estes jovens estavam perto da equipa principal, sendo que havia uma grande articulação entre todos os treinadores. Quando surgiu a necessidade de termos jovens ao treino da equipa principal, o Trey foi chamado e a coisa começou a ser construída assim. Ele é um talento fantástico e ajustou-se de uma forma incrível ao nível da primeira equipa. Depois nós tivemos de suportar este lado social e emocional; há jogadores que precisam do treinador sempre em cima e outros que precisam de espaço.»

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