Vitória de Modi pode levar a Ìndia para a autocracia, dizem analistas

1 semana atrás 46

A primeira de sete fases para o eleger o Lok Sabha, câmara baixa do parlamento indiano, decorre até 01 junho, estando prevista a divulgação dos resultados três dias depois, com Modi a reunir favoritismo face à oposição, que reúne mais de 20 partidos na Aliança Inclusiva para o Desenvolvimento Nacional Indiano (I.N.D.I.A).

"Muitos argumentam, e é também esse o meu raciocínio, que, sob liderança de Modi, o país acabará por deslizar para a autocracia", estimou Anthony Filipe Lobo, professor de Ciência Política em Goa, prevendo um aumento das detenções, intimidações e torturas de advogados, jornalistas e ativistas.

"Modi não gosta de ouvir discordâncias: enquanto esteve no poder, não deu uma única conferência de imprensa, nem concedeu qualquer entrevista sem guião. Para além disso, uma maioria na Câmara (de 543 lugares) dará ao BJP a oportunidade de alterar a Constituição", notou à Lusa.

Essas alterações podem iniciar-se pela "eliminação da palavra `secular` do seu preâmbulo", enquanto "eleições periódicas também poderão ser reduzidas para garantir que Modi se mantenha no poder durante muito tempo", estimou o especialista, que a nível social previu "perseguições" e consequentes migrações devido ao provável aprofundamento da polarização com base na religião e casta.

Recordando a falta de implementação do BJP no sul da Índia, Anthony Filipe Lobo citou Parakala Prabhakar, economista e marido da ministra das Finanças da Índia, mas crítico do governo, sobre uma "divisão norte-sul" nestas eleições.

Economicamente, o país poderá assistir a um "declínio acentuado, uma vez que os recursos serão desviados [para instalações religiosas] para promover a agenda" do líder nacionalista hindu.

Citado pela agência EFE, o Laboratório Mundial da Desigualdade sublinhou, num relatório de março, que entre 2014 e 2023, coincidindo com a década de Modi no poder, o aumento da desigualdade na Índia "foi particularmente pronunciado".

O crescimento da economia do país asiático destacado por Modi é também contrariado pelo desemprego, "excecionalmente elevado" no último ano fiscal - em 8%, segundo o Centro de Monitorização da Economia Indiana - e pela inflação persistente.

Já a nível da política externa, Anthony Filipe Lobo admite aumento de tensões com os países vizinhos, como a China e o Paquistão.

Sobre a oposição, o professor de Ciência Política fez eco das palavras de Anjali Bhardwaj, fundadora do Satark Nagrik Sangathan, um grupo de cidadãos com sede em Deli que promove a transparência e a responsabilidade no governo.

"Estamos a assistir a uma situação em que os partidos da oposição estão muito, muito enfraquecidos à medida que nos aproximamos das eleições", segundo Bhardwaj, que referiu o "ataque" à oposição e como os "seus líderes estão presos ou a ser seriamente investigados e as suas casas e escritórios estão a ser invadidos".

Para Lobo, o BJP "tem convenientemente negado que estas ações sejam motivadas por razões políticas" e a instauração de "centenas de processos contra deputados e líderes da oposição desde que o BJP chegou ao poder, em 2014, e a recente escalada causou alarme quanto à liberdade e imparcialidade das eleições".

O chefe da delegação do Sul da Ásia do jornal The New York Times, Mujib Mashal, notou também o favoritismo de Modi que "governa basicamente como um homem só, sem ter de passar por discussões e debates parlamentares regulares", mas que pode haver surpresas porque o apertado controlo dos media não reflete a "noção exata do que pode estar a acontecer no terreno".

Na edição de hoje do jornal, Mashal enumerou como o crescimento económico e diplomático da Indía é "desigual" face ao número de desempregados e como o discurso do governo é assente na religião: "mistura o apelo económico e de desenvolvimento com um forte apelo nacionalista e hinduísta".

Modi "reúne tudo nesta narrativa simples: Ele está a ajudar a Índia a crescer. Para ele, para o seu partido, a identidade da Índia está diretamente ligada à ideia do hinduísmo", analisou.

Ler artigo completo