Welcome to the jungle

A Tasca do Silva é o espaço de opinião sobre e à volta do FCP, dinamizado por Paulo Silva, um dos podcasters responsáveis por A Culpa é do Cavani, o podcast de referência do universo portista.

Panteras e dragões

Ver um dragão em voo picado na nossa direção, é coisa para meter algum respeito. Sobretudo se fores uma pantera esfomeada, vítima da ganância humana e do aquecimento global que te destrói o habitat. Mas vivemos a era dos dragões com profundas crises existenciais e, portanto, a pantera famélica chegou bem para meter a viola do nosso one trick dragon no saco. Dois pontos à vida.

Para ser justo, o FCP podia muito bem ter ganho. Criou oportunidades suficientes para isso, embora não tantas como em outras ocasiões, e levou com uma arbitragem fraquinha, fraquinha. As oportunidades vieram quando o talento entrou em campo, muito tarde, como é hábito. E apontar ao árbitro a responsabilidade do desaire, seria como atribui-la a, sei lá, ao antijogo ou assim.

O FCP parece incapaz de sair do seu labirinto. O treinador insistirá até à exaustão num modelo esgotado e que ele, mais por birra do que por teimosia, mais por ser o seu limite de competência do que por convicção, quer, porque sim, provar que funcionará. Só que não. Com Jaime, Namaso, Nico e Chico em campo, tivemos um vislumbre do que poderia ser. Mas não é, because chose. 

Somos uma equipa muito pouco versátil e, atualmente, incapaz de se reinventar para superar o marasmo. Até há belos e bastos ovos, mas Sérgio Conceição quer é fazer torradas. E queixa-se, está claro. Pagamos nós, aborrecidos e abatidos na bancada, ainda os jogos não começaram e já a gente sabe que vão ser uma bela seca. Pontos serão perdidos, inevitavelmente, numa altura em que os rivais começam a tornar os deles mais baratos.

Mocho camaleão

Por falar nisso, na antevisão do engarrafamento na rotunda, e ao contrário do que acontece em campo, SC foi bastante camaleão. O homem que desanca jornalistas porque quer é falar de futebol, desatou a tratar de finanças. Está certo que pelo que vamos vendo semana após semana, não deve ter muito a dizer sobre bola, de facto. 

O que retive do discurso é que, como o dragão, também o homem está confuso. Vejamos, Vitinha não foi uma bela venda. Pelo contrário, como Luís Diaz e Fábio Vieira, foi uma pechincha. Até se percebe que administração e treinador tenham ficado felizes com o valor, tendo em conta que se esforçaram ao limite por despachá-lo anos antes, por metade. Pelo sim, pelo não, estão a fazer o mesmo com Gonçalo Borges, mas já vai em últimos saldos (15 milhões de cláusula de compra, diz-se) para garantir que desta vez não há devoluções. 

Sérgio Conceição tem razão quando diz que preço não significa titularidade. Não posso concordar mais. Só que depois acrescenta que Carmo "está cá", quando já percebemos que não, não está e não é para estar, a menos que o treinador esteja para mudar. Fran Navarro tirou bilhete só de ida e Nico Gonzalez é um caso perdido - sendo que ainda se arranjará maneira de dizer que "roubaram" mais um ovo ao mister que, já se sabe, queria fazer dele uma fatia de pão. E estava quase, que já lhe estava a crescer uma côdea crocante à volta e tudo. Pensando bem, SC não erra na sua deriva camaleónica: todos estão no espectro da operação Vitinha. 

Em sentido contrário, Toni já não sai - isto está sempre a acontecer, não é? -, Wendel Silva será promovido à equipa A, para fazer companhia a Zé Pedro e João Mendes, e Vasco Sousa continuará a reforçar, na 2ª liga e a ver Grujic e Eustáquio a titulares, a sua certeza de que quanto mias longe disto estiver, melhor oportunidade terá de se revelar a estrela que será. Sérgio chegou ao Porto a dizer que vinha para ensinar e não para aprender. Confirma-se: ensinou tudo o que sabe e não aprendeu nadinha.

Sejamos claros, todas estas opções - das quais discordo e isso é um direito que não alieno - são perfeitamente legitimas e da competência do treinador. Só não precisa de me vir vender gelados porque eu tenho alergia ao frio na testa. Se SC disser: é com estes que quero ficar e azarinho do resto, toda a gente pode opinar, mas ninguém tem nada com isso. 

Exceto a administração. Essa, tem tudo a ver com decisões que prejudiquem o futuro do clube. Até porque, no fim do dia, são decisões suas. Como Conceição fez questão de referir na tal da roda de imprensa, ele é apenas o técnico, o funcionário. O problema do FCP é que quem gere os técnicos e funcionários está ainda menos preocupado com o futuro do que os ditos. 

Em resumo, em abril vai-se confundir o campo e o gabinete, conforme a administração tanto se esforçou por conseguir. A menos que comece a correr ainda pior na relva. Aí, admirava-me muito pouco de ver Pinto da Costa a deixar cair o "seu" treinador para a vida. É que já vi disso outras vezes. Enquanto der jeito transmitir que votar contra PdC é um ataque direto a SC, a coisa correrá tranquila.

Hienas

Por estas e outras, andam os adeptos do FCP engalfinhados em belas lutas na lama, sobretudo depois da entrevista de André Villas Boas ao JN. O termo de comparação é o péssimo serviço que o departamento de comunicação do FCP fez ao seu presidente, quando lhe meteu as câmaras da SIC à frente e o fez responder, entre ataques de tosse e o nariz pingão, a uma série de perguntas para as quais desconhecia a resposta. É evidente que as generalizações que AVB debitou no jornal não passam, pelo menos para já, de mero senso comum. Coisas que qualquer um, com umas horas de reflexão em cima, diria. Só que isso é bastante mais do que a atual direção apresenta e, ainda por cima, não inclui condições para se candidatar. Nem capitais próprios assim, nem máquinas no terreno assado. Por muito que agora se spin, vai ser difícil fazer de conta que este ponto não cai na conta do candidato (?) desafiante.

Tudo isto serviu de ignição a uma acesa troca de argumentos, disparates e insultos entre fações, nas redes sociais. De um lado, a malta que quer mudar porque já não aguenta mais do mesmo e que, por isso, seja o que for que aconteça será culpa de Pinto da Costa, Sérgio Conceição (eu avisei!), Pinho, Alexandre, Caldeira, Gomes. Sim, mesmo isso da Palestina e o aquecimento global que está a dizimar as panteras. 

Do outro, os viciados da gratidão, que serão PdC até ao fim, mesmo não sabendo porquê. Não têm um pingo de noção do que ele pretende para o presente ou futuro - até porque o próprio não faz ideia -, mas têm os olhos postos no passado e sentem que atacar o presidente é destruir o clube. 

Por entre uns e outros, já temos - viva a modernidade! - as contas criadas por agências de comunicação e pelas equipas dos candidatos para denegrir o rival, perseguir os seus apoiantes mais vocais e de maior alcance e espalhar a sua propaganda. Sabem o que é mais interessante? É que, até este momento, só existe um candidato assumido, Nuno Lobo, e esse não conta para este totobola. De resto, temos um ex-treinador que jurou nunca concorrer contra Pinto da Costa, mas que parece que desta vai; e o atual presidente que definiu 3 metas a cumprir até dezembro para se recandidatar. Cumpriu uma e, lá está, foi a que dependia da relva. Vamos lá ver se não vem aí um enorme golpe de teatro.

No meio da selva, dissimuladas na vegetação rasteira, as hienas vão-se rindo e esperando que o dragão se despenhe para que possam, juntamente com outros necrófagos, deliciar-se com a sua carcaça. Tenham paciência, ainda não será desta e, não tarda, o bicho deixa de se entalar quando abre a boca e volta a cuspir fogo. 

Até lá, we got fun and games! Next please.