2012: a seleção mais subvalorizada da história

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«Palavras à Sorte» é a rubrica diária dos jornalistas do zerozero durante o Euro 2024. Todos os dias, na Alemanha ou na redação, escrevemos um apontamento pessoal sobre a competição e todas as sensações que ela nos suscita.

Não faltam homenagens à magia de 2000, a união de 2004 ou a glória de 2016. Venho por este texto honrar a campanha de 2012, a nossa versão mais subvalorizada.

Por esses tempos era um adolescente desiludido com a sua seleção após uma era castradora comandada por Carlos Queiroz. Mais que os resultados, a tática "mete a bola no Ronaldo" não era digna do ADN que vinha a ser construído, um Portugal sem medo de bater de frente com qualquer adversário.

Disruptivo e pouco consensual, características nada recomendáveis para um selecionador, Paulo Bento teve a capacidade de criar um verdadeiro grupo e repor os laços entre equipa e adeptos. Longe de ser a seleção mais talentosa, mas um conjunto livre, competitivo e afinado.

Um golo que valeu o raspanete @Getty /

O grupo no Euro não era fácil e a derrota com a Alemanha não aumentou o otimismo. O momento-chave, para mim, acontece em Lviv a 13 de junho. Uma vantagem de dois golos desperdiçada contra a Dinamarca e as dúvidas se ter faltado às aulas da tarde foi uma boa opção, felizmente dissipadas por São Silvestre.

Obrigado Varela, desculpem pais e professores. 

Acalmadas as tropas, tempo para o Bicho aparecer em ponto de rebuçado entre a magia e a potência. Mesmo o nosso Cristiano não era imune ao juízo dos adeptos de bancada, que criticavam a sua incapacidade para aparecer a alto nível na seleção. Contra a poderosa Holanda, um lição de contra-ataque com ofertas mágicas de João Pereira e Nani.

No voo de Ronaldo esteve a chave para ultrapassar a República Checa, com o reencontro nas meias-finais contra a seleção mais dominante que passou pelos meus olhos. O desfecho contra a Espanha foi o mesmo, porém, um sentimento bastante diferente.

Se em 2010 a sorte em não sairmos goleados, dois anos mais tarde identifiquei-me com o sentimento de injustiça perpetuado nas palavras do nosso capitão.

De cabeça mais fria, a noção que tínhamos perdido contra um adversário de maiores argumentos, algo que não voltou a acontecer em grandes competições. Pedido de desculpa a Fernando Santos, responsável por uma das noites mais felizes da minha vida.

Deixo o agradecimento a quem tão bem representou as nossas cores em 2012. Uns campeões na minha visão do que deve ser uma seleção.

Nota final: a importância da criação de bases para o sucesso. Foi em 2012 que as equipas B voltaram em força ao ativo e 16 dos convocados de Roberto Martínez passaram por esse contexto, com o número a aumentar para 19 se inserirmos a Liga Revelação no bolo. Não é um acaso a abundância de talento e opções.

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