7 de outubro – O dia da "tragédia histórica" que o Hamas conseguiu colocar no calendário

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Um ano depois, o ataque sem precedentes no sul de Israel, que fez mil e 200 mortos e mais de 200 reféns, ditou uma guerra no Medio Oriente com estilhaços no resto do mundo e que está longe de terminar.

Para o embaixador Seixas da Costa, enquanto não se encontrar uma solução que implique a criação de dois Estados, o conflito entre Israel e Palestina será "eterno".

"Acho que este é um conflito eterno e, mais do que isso, enquanto não houver - e não parece que haja - uma vontade política de encontrar uma solução que passe por uma entidade territorialmente dominada pelos palestinos e uma entidade e a preservação do Estado de Israel, isto vai ser um conflito que vai ter vários ciclos", lamenta, em entrevista à Renascença. "Não vejo, com toda a franqueza, uma solução para esta situação nas próximas décadas”, diz o especialista, que admite que as partes envolvidas possam chegar, de novo, a uma "paz podre", como sempre aconteceu neste conflito.

“Estas escaladas acabam sempre por ter uma espécie de conflitos 'congelados' nas várias áreas, através de um cessar-fogo ou uma debilitação de uma das partes”, relembra.

Para o embaixador, Israel acabou por aproveitar o massacre de 7 de outubro de 2023 para fazer o queria na Faixa de Gaza e no Líbano. Especialista em Medio Oriente, Seixas da Costa diz que Benjamin Netanyahu aproveitou para ir tão longe quanto possível neste conflito.

"Aqui há dias dizia um responsável militar israelita que esta era uma janela de oportunidade para alargar a segurança. E é verdade que, para a estratégia de segurança israelita, Israel tem aqui uma oportunidade para fazer a limpeza que queria", defende.

"E mais do que isso: dado que pagou um preço fortíssimo no quadro - até reputacional - internacional, pela ação em Gaza e pelo modo como essa ação se processou, Benjamin Netanyahu partiu do princípio de que... já que pagaram este preço, já agora é para ir tão longe quanto possível, no sentido de afastar as ameaças de segurança”, assegura.

Esta segunda-feira é, por isso, um dia que pode ficar marcado por uma nova escalada de ataques por parte de Israel, mas que significa, para já, uma marca no calendário. Marca que, segundo Seixas da Costa, não pode ser dissociada do Hamas. "Pode ser que Israel queira fazer um foguetório relativamente a isso em termos da ação que está a desenvolver no Líbano. Também não vejo que haja muito mais para fazer... É uma data que não devemos comemorar. É uma data que devemos lamentar", diz.

"É uma data muito triste em termos do Médio Oriente, mas é uma data - vale a pena dizê-lo - que o Hamas conseguiu colocar na agenda desta tragédia histórica”, vaticina.

Um conflito que fica também marcado pelas divisões políticas dos vários intervenientes mundiais e onde se volta a perceber que a União Europeia pode ter perdido influência. Seixas da Costa, à Renascença, diz que este é um conflito em que a Israel só interessa a posição dos Estados Unidos da América (EUA).

"Só há uma comunidade internacional relevante para Israel, que são os Estados Unidos. A Europa... Como se viu outro dia aquando da resolução das Nações Unidas sobre os colonatos... a União Europeia dividiu-se. Portanto, a União Europeia não existe, e dizia-se no passado que a União Europeia tinha no Médio Oriente o Óscar para melhor ator secundário. E é sempre", assegura.

"Só eles [EUA] é que podem resolver a questão, se a quiserem resolver. E como não a querem resolver, contra a vontade de Israel, nós vamos ficar à espera”, defende Seixas da Costa, que admite que o resultado das próximas eleições norte-americanas pouco ou nada vai alterar a posição dos Estados Unidos em relação ao conflito, seja Trump ou Kamala a ganhar.

"Se Trump ganhar, qualquer governo israelita, este ou outro, terá a via livre à sua frente para fazer o que quiser. E aí já há mais do que Gaza e Líbano... se calhar até em relação ao Irão. Se ganhar Kamala Harris pode haver alguma reticência, mas é a mesma reticência que existe hoje entre Joe Biden e Netanyahu. Não acredito que se mude mais, que o cenário seja diferente”, assevera o embaixador.

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