76 anos depois da pesada Taça Arsenal: o regresso dos gunners à Invicta

Covelo, 1948. O velhinho Campo do Lima - casa do tão histórico Académico que, aos dias de hoje, já não possui o futebol como modalidade nas suas fileiras - recebe o primeiro confronto entre FC Porto e Arsenal.

Os dragões utilizaram o estádio em jeito de empréstimo e, por lá, deram início à história de um duelo que hoje repescamos.

Arsenal desenhado por Herbert Chapman: «A melhor equipa do mundo na época»

Faleceu em 1934, mas o legado deixado por Herbert Champman nos gunners acabou por ser eterno. O Senhor Arsenal redesenhou por completo uma equipa que viria a dominar a Liga Inglesa e revolucionou a tática do futebol com o sistema que ficou conhecido por WM - um 3-4-3 que mais aparentava um 3-2-2-3, com a defesa a atuar em formato M e o ataque a moldar-se num W.  

O técnico viria a falecer anos antes do duelo na Invicta, mas o seu desenho tático permaneceu bem vivo no Arsenal.

Em 1948, ainda não existiam competições europeias oficiais entre clubes, muito menos como hoje as conhecemos. Sendo assim, os jogos de caráter particular ganhavam um outro tipo de entusiasmo. Este encontro entre FC Porto e Arsenal demonstrou isso mesmo.

Os gunners eram considerados como «a melhor equipa do mundo na época» dada a conjetura montada à volta do emblema. Venceram seis campeonatos ingleses em 12 anos, antes de aterrarem em Portugal, sendo, inclusive os campeões nessa altura.

O primeiro adversário defrontado em território português foi o Benfica, a quem venceram por 4-0. De seguida, rumaram até à Invicta para conhecerem o Campo do Lima cheio até mais não, com perto de 20 mil pessoas prontas a assistir a um verdadeiro espetáculo de futebol.

António de Araújo e Correia Dias: os heróis do Lima

Nove minutos de jogo. António de Araújo, com um remate potente que entrou junto ao ângulo superior esquerdo da baliza, inaugura o marcador. 18 minutos de jogo, Correia Dias aumenta a vantagem com um remate a meia altura. 20 minutos de jogo, Correia Dias sela o terceiro golo portista. Os homens do momento.

Segunda parte. O Arsenal reduz para 3-2, mas os dragões conseguiram manter o resultado e asseguram um triunfo que, hoje, está guardado nas memórias do clube e no próprio museu.

Era um jogo amigável, de facto, mas a vitória diante dos gunners fez os sócios portistas fazer algo que, aos dias de hoje, até pode ser considerado algo impensável. 

Durante vários meses, uma comissão foi organizada para reunir fundos monetários que financiassem a construção de um troféu em honra deste duelo. 

Da já mítica e reconhecida Rua das Flores, na cidade do Porto, nasceu um troféu com 90 centímetros, depositado no interior de um cofre envidraçado com dois metros e 80 centímetros. 250 quilos de madeiras finas, ouro, prata (com um valor de cerca de 56.870 euros), esmalte, cristal e veludo.

Foi e ficou apelidada de Taça Arsenal e foi entregue à direção do emblema portista a 21 de outubro de 1949. Hoje, continua presente numa sala do Museu dos dragões como celebração e memória de um momento jamais esquecido ou perdido nas histórias do futebol.

Passam 76 anos deste encontro e chegou a vez do Arsenal regressar, novamente, à Cidade Invicta para defrontar o FC Porto. Não pisam o Estádio do Dragão desde 2010, numa primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões - a mais bela das coincidências dado que será para essa mesma fase que, esta quarta-feira, se enfrentarão -, onde foram derrotados com golos de Silvestre Varela e Radamel Falcão.

O regresso ao Estádio do Dragão está iminente - uma casa onde o Arsenal nunca venceu. O FC Porto já pode referir o contrário em duelo frente aos gunners - venceu por duas vezes e houve um empate. Em Londres, a história é algo distinta, com a formação inglesa a vencer por quatro ocasiões. Será desta vez, 76 anos depois, que voltam a vencer no Norte de Portugal?