A derrota de Portugal vista lá fora: “Portugal jogou com 10 jogadores” e o “buraco negro do ego” de Ronaldo

2 meses atrás 76

Jornais internacionais deixam duras críticas à prestação de Ronaldo no Europeu. “Guardian” conta episódio de que o capitão foi o único que não foi consolar João Félix após falhar penálti.

A derrota de Portugal está a ser vista lá fora como uma oportunidade perdida por uma geração de ouro, com a imprensa internacional a criticar o excesso de protagonismo de Cristiano Ronaldo que acabou o torneio com zero golos.

“Ronaldo, debaixo de foco por ter falhado em marcar num grande torneio pela primeira vez, não entrou no jogo e ofereceu muito pouco ao ataque de Portugal”, escreveu a “BBC”, salientando que Roberto Martinez “pareceu relutante em correr riscos, deixando as ameaças ao golo Diogo Jota e Gonçalo Ramos – que marcou um hat-trick no Mundial de 2022 – no banco”.

Em Espanha, a “Marca” escreveu: “Cristiano Ronaldo fica a zeros… pela primeira vez na sua carreira”. O jornal de Madrid recorda que o jogador estreou-se no Euro 2004 e participou num total de 11 europeus e mundiais desde então. “Em cada um dos torneios marcou, pelo menos, um golo. Mas na Alemanha 2024 não encontrou o caminho da rede”.

O outro desportivo de Madrid, o “AS”, analisa os dados de Ronaldo: 23 remates (quem mais rematou no torneiro, 4,6 por jogo), zero golos e uma assistência. Nove remates na área, oito fora e seis bloqueados. Oito vezes em fora de jogo.

“Cristiano arruinou a competição de Portugal. Entendo que seja uma lenda, mas desde há anos que corta a projeção de outros jogadores, não traz nada a esta equipa. Portugal jogou com dez jogadores. Impediu que Portugal avançasse na Europa e na competição”, disse ao “AS” o analista Daniel Riolo da RMC Sports.

A peça acrescenta que “Apesar de alternativas no banco como Diogo Jota ou Gonçalo Ramos, nem se equacionou que fosse substituído para dar lugar a outros avançados do plantel”.

No britânico “Guardian”, o jornalista Jonathan Liew recorda a saída do craque francês Mbappé já no prolongamento por não estar a ter um bom desempenho. “Pelo menos França sabe funcionar sem o seu capitão. Portugal, em contraste, ainda está amarrado ao seu, à bigorna enrolada em correntes que irá derrubá-los a todos. Não faz sentido dar-lhe algo para perseguir ou fazer qualquer passe para ele com mais de 19 metros. Se ele cair para a ala esquerda aos 53 minutos, só regressará ao centro aos 55 minutos. Erra terrivelmente de perto. Reclama outro pontapé livre de um ângulo impossível e, de alguma forma, consegue atingir os três jogadores na barreira”.

“De certa forma, é difícil não ficar ressentido com ele: ressentido com a forma como esta grande ocasião do tamanho de uma galáxia é, em última análise, reduzida a uma função do ego de um homem. Este poderia ter sido um dos melhores quartos-de-final de todos os tempos e, em vez disso, uma parte foi roubada: posse de bola roubada, atenção roubada, minutos roubados a jogadores melhores que realmente merecem lá estar, em vez de um puro anacronismo simplesmente porque ninguém tem influência para dizer-lhe que não o faça”.

O correspondente britânico – que assistiu ao jogo no estádio – relata um episódio em que João Félix é consolado pelos seus companheiros após falhar o penálti, à exceção do capitão. “Mendes corre para ele. João Palhinha corre para ele. Nelson Semedo coloca a sua tristeza de lado – este pode ter sido o seu último jogo – e corre para ele. Há um homem que não corre para Félix. Em vez disso segue na direção contrária, na sua, perseguido apenas pelo olhar lascivo das câmaras. Era Cristiano Ronaldo”.

Já a agência noticiosa “Reuters” escreveu que a “saída de Portugal do Euro provavelmente levará à retirada internacional de Ronaldo”, recordando a sua carreira de quinas ao peito com 130 golos, longe de Messi, na segunda posição com 108. Há 21 anos, Ronaldo estreava-se num amigável em Chaves, distrito de Vila Real, contra o Cazaquistão. Oito mil pessoas estavam nas bancadas e viram o jogador de 19 anos a substituir Luís Figo. Dias antes tinha assinado pelo Manchester United depois de uma exibição impressionante em Alvalade num amigável entre o Sporting e o Manchester United.

Sobre o jogo contra França, a “OPTA” destaca que Ronaldo teve “três remates, mas desperdiçou o melhor sobre a barra no tempo extra. Pareceu desligado do resto da equipa, completando apenas quatro das seis tentativas de passe no terço final. Tendo marcado 10 golos em nove jogos de grandes torneios entre 2018 e 2022, Ronaldo falhou agora em marcar nos últimos nove jogos em Europeus e Mundiais. Terá jogado o seu último jogo por Portugal?”.

Numa análise feita pela OPTA até ao jogo com a Eslovénia, Ronaldo apenas marcou um golo de livre dos 60 que Ronaldo tinha efetuado em Europeus e Mundiais, com 37 falhas/defesa e 22 bloqueados. “Já não é o jogador que era e os gráficos demonstram que pode já não ser o melhor homem para os livres”.

“O problema é que, Ronaldo tem de ser o centro do universo de Portugal quando está a jogar. Tudo tem de andar à volta dele, com a equipa a criar hipóteses predominantemente para ele”, segundo o analista…

Contra a Eslovénia foram 31 cruzamentos (apenas atrás dos 37 cruzamentos no jogo Chéquia vs Georgia). Considerando a capacidade que a equipa tem, é justo sugerir que poderiam ser mais subtis se não estivessem a tentar colocar tudo num prato para Ronaldo”.

“O seu desespero para marcar na segunda-feira foi claro. Enquanto Ronaldo tem sido apaixonado no relvado, suscetível a mais do que os estranhos eventos de meter os braços no ar quando está chateado, sentiu-se uma nova determinação e subsequente frustração”, escreveu Ryan Benson.

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