A lição francesa

2 meses atrás 50

O resultado das eleições francesas representa, mais do que uma vitória da esquerda, uma derrota da extrema direita …na secretaria. O cordão sanitário funciona apenas e só porque na segunda volta os partidos abdicaram, convenientemente, dos seus candidatos. E bem. Ganhou-se oxigénio para respirar mais um pouco e tempo para corrigir os erros que estão na origem da subida dos radicais.

Neste momento há três grandes blocos que tornam a Assembleia Nacional francesa ingovernável. A França tem um governo de esquerda/extrema esquerda com um programa eleitoral esquizofrénico e radical. A dificuldade é evidente quando a governação vai necessariamente resultar de acordos entre a Front Populaire, equivalente a uma coligação entre PCP, Livre, BE, PS, PAN, com o partido de Macron, o equivalente à IL.

O curioso é que Macron, um liberal, entregou o poder à extrema-esquerda para evitar a extrema direita. O mais grave é que fica evidente que a extrema-direita perdeu hoje para ganhar melhor amanhã.

O pior de tudo isto é que parece cada vez mais que este resultado é apenas um compasso de espera até a extrema-direita ganhar as próximas eleições (presidenciais). Das duas uma, ou esta coligação se modera, abdica de facto das suas propostas mais radicais e de facto consegue fazer algumas reformas que França nunca teve coragem ou então vai ser um desastre e abrir caminho para os radicais de extrema-direita.

Resta saber quem será indicado como Primeiro-Ministro já que o líder da coligação é o mais radical de todos e que teve de ser escondido para não prejudicar a campanha. Como diz Ana Gomes, “Mélenchon é uma Le Pen de calças”. Agora digo eu: é um radical irresponsável cuja atuação muito tem ajudado Le Pen a crescer.

Se em poucos dias, o regime francês passa de Presidencialista para Parlamentar, a verdade é que a co-habitação não é propriamente uma novidade. A diferença é que, ao contrário de situações anteriores, desta vez ocorre entre um Presidente moderado e uma extrema-esquerda radical com alguns moderados pelo meio. A segunda diferença, que não pode ser menosprezada, é que apesar de tudo estes dois blocos (Macron e FP) têm um inimigo comum: Le Pen. Resta saber se isso será suficiente para os “unir” ou se os egos e ambição de cada um os levará ao disparate e a estender a passadeira vermelha a Le Pen.

Talvez esta seja também a oportunidade para que os partidos moderados de centro, que fizeram a história recente francesa tenham a capacidade de voltar a conquistar a confiança das pessoas e a representar a estabilidade e moderação na política francesa.

Esta situação no país de De Gaulle vem comprovar que lideranças “popularistas” e governos incompetentes são o rastilho para o crescimento dos populismos, à direita e à esquerda. Aprendamos com os seus erros.

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