A máquina ao serviço do Marketeer

4 horas atrás 30

Por Carlota Varela Cid, Diretora de Comunicação e Marketing CBRE Portugal e Diretora WIRE Portugal (Woman In Real Estate)

Trabalho há mais de uma década em comunicação e marketing, e, durante esse tempo, a atividade sempre foi dinâmica e emocionante. A nossa área é um organismo vivo e está em constante mutação, mas agora, pela primeira vez, sinto que estamos a entrar numa era da verdadeira (r)evolução, algo tão transformador quanto o aparecimento da World Wide Web (www) nos anos 90. E essa mudança tem um nome incontornável: Inteligência Artificial (IA).

Hoje, o impacto da IA repete-se nas notícias quase como mantras: “O impacto da IA no marketing”, “Como a IA está a moldar o futuro da comunicação”, “Será a IA uma ameaça aos profissionais do marketing?”. Estas discussões, ainda que importantes, muitas vezes sacrificam a originalidade em favor do pragmatismo. Não adianta resistir; é hora de abraçar o futuro e perceber como a IA pode transformar o nosso trabalho.

Lembro-me do filme “IA: Artificial Intelligence”, de Steven Spielberg, lançado em 2001, quando tinha apenas 12 anos. Na época, a ideia de um robô com sentimentos humanos parecia pura ficção científica, algo tão distante quanto o conceito de um David, um ser mecânico capaz de amar. Mas o que me fazia chorar no cinema não era o robô em si, mas a ideia inquietante de que o futuro poderia trazer-nos seres híbridos, quase humanos. Em 2024, a IA ainda não atingiu esse nível, mas não podemos negar que estamos à beira de uma revolução tecnológica, e o setor do marketing não lhe ficará imune.

Seja como for, a IA não deve ser vista como uma ameaça, mas como uma ferramenta poderosa. O receio de que a IA pudesse “roubar” os nossos empregos deve dar lugar a uma mentalidade de descoberta e inovação. Devemos passar da fase de resistência para a fase de “Eureka!”, questionando de que forma podemos utilizar estas novas ferramentas para melhorar o nosso trabalho.

Podemos utilizar a IA para melhorar o nosso trabalho, desde que estejamos dispostos a inovar. O primeiro benefício claro da IA está nos seus algoritmos avançados, que permite analisar enormes quantidades de dados com rapidez e precisão, algo inalcançável para o esforço humano. Com a capacidade de processar grandes volumes de dados em tempo real, a IA permite-nos tomar decisões mais informadas, otimizar campanhas e segmentar melhor os públicos. As decisões deixam de ser baseadas em instruções e “achismos” e passam a ser fundamentadas em dados concretos.

Outro benefício é a personalização. O consumidor atual é cada vez mais exigente e a IA permite criar experiências personalizadas com bases em dados como comportamentos online e histórico de compras, por exemplo. Quanto mais relevante for o conteúdo, maior é a probabilidade de gerar engagement e conversão. O Spotify é um excelente exemplo: ao analisar o comportamento dos utilizadores, disponibiliza listas de reproduções personalização, melhorando a experiência do utilizador sem que este se aperceba.

Por fim, um dos aspetos mais visíveis da IA no marketing é a melhoria da experiência do cliente através de chatbots e assistentes virtuais. Hoje interagir com um chatbot tornou-se comum, sendo estes alimentados por IA e capazes de responder a perguntas, resolver problemas simples e oferecer assistência 24/7. Segundo o relatório da Grand View Research, o mercado global de chatbots deverá atingir os 9,4 mil milhões de dólares este ano, o que sublinha a sua crescente importância. A pergunta que surge agora é: quem nunca instalou ou interagiu com um chatbot?

Embora conceitos como dados, personalização e chatbots não sejam novidade, a diferença agora está na rapidez com que podemos implementar estas tecnologias e maximizar o seu potencial. A IA ainda não tem emoções, como o David do filme, mas está pronta para trabalhar ao nosso lado, potenciando a nossa criatividade.

Se encararmos esta evolução como uma oportunidade, a IA não será o fim da criatividade humana, mas sim um catalisador de inovação. Não se trata de temer a substituição, mas de explorar como podemos utilizar a IA para melhorar as nossas práticas e oferecer uma experiência superior aos nossos clientes. Afinal a IA está aqui para nos servir – e não o contrário.



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