A morte do sucesso

2 horas atrás 22

"O sítio dos Gverreiros” é uma coluna de opinião de assuntos relativos ao SC Braga, na perspetiva de um olhar de adepto braguista, com o sentido crítico necessário, em busca de uma verdade externa ao sistema.

O texto que escrevo hoje vai repleto de tristeza, pelo anunciado fim do futebol de praia em Braga, que apanhou toda a gente de surpresa. Ao longo dos tempos foram vários os artigos que escrevi, em diversos locais, sobre a modalidade, sempre com muito carinho e com um orgulho imenso de quem viu, ao longo de muitos anos, o nome do SC Braga ser honrado, tendo chegado ao topo mundial de clubes.

O futebol de praia ganhou uma importância tão grande na Bracara Augusta que a Cidade Desportiva tinha um espaço específico a ele destinado, algo que ia de encontro aos sucessos que regularmente iam sendo conquistados nas areias, tanto a nível nacional, como a nível internacional.

O período em que o Sporting CP tinha esta modalidade elevava a sua importância, uma vez que a competitividade era bastante forte na disputa dos diversos títulos. Contudo, a predominância bracarense na conquista das diferentes provas levou os leões a abandonarem a modalidade, num sinal que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) não soube ler em devido tempo, tentando arranjar forma de fortalecer uma modalidade cuja seleção também já chegou ao topo do mundo. As incidências negativas voltaram a surgir quando a Casa do Benfica de Loures também abandonou a modalidade, mesmo depois de ter conquistado a Euro Winners Cup, uma espécie de Liga dos Campeões da modalidade a nível europeu. A FPF voltou a dormir em vez de buscar caminhos que fossem capazes de engrandecer a competitividade, que voltou a ficar ferida com esta segunda desistência em pouco tempo.

O SC Braga ia mostrando ao longo das épocas que mandava nas areias, tanto a nível interno como a nível europeu e mundial, tendo chegado a líder mundial, algo que orgulhava qualquer braguista, mesmo que se identificasse menos com a modalidade. O domínio interno traduziu-se na disputa de vinte títulos, onde os Gverreiros das areias conquistaram dezoito, o que revela uma supremacia muito grande sobre a concorrência. A nível internacional sublinho os quatro títulos europeus conquistados, que se juntam a dois títulos mundiais. Foram muitos momentos de alegria que o futebol de praia proporcionou a toda a Legião e era evidente o orgulho sentido pelos jogadores em cada título alcançado.

O rosto maior do futebol de praia em Braga era de Bruno Torres, que durante vários anos teve a colaboração do seu irmão António na liderança competente que permitiu a conquista de tantos títulos por parte dos arsenalistas. Bruno Torres acumulou ao longo de várias épocas a função de jogador e de líder técnico da equipa e nos últimos tempos dedicou-se apenas ao comando técnico de um projeto de muitos êxitos. Também no plantel era possível observar outros laços familiares, como é o caso de longa duração dos irmãos Martins, em que o Bê se confundia com o Leo, eles que jogavam de olhos fechados, como fazem quaisquer irmãos gémeos verdadeiros em várias vertentes da vida. Houve ainda, num período bastante mais curto, a permanência dos irmãos Thanger e Thales que tinham o apelido de Nascimento na sua ligação. O espírito que reinava era de uma família que remava sempre para o mesmo lado, não se cansando de vencer com o símbolo brácaro ao peito.

A nível de seleção a influência dos arsenalistas era muito grande, uma vez que havia sempre muitos atletas convocados para representar a pátria lusa. Também Portugal beneficiou muito do excelente trabalho desenvolvido em Braga ao longo dos anos.

A notícia que ninguém queria ler chegou a público em forma de comunicado, anunciando a suspensão do futebol de praia em Braga, dando a conhecer a morte do sucesso que a modalidade conheceu em Braga e que nenhuma outra modalidade deverá alcançar no futuro. Foram palavras institucionais, sem grandes explicações para dizer que o projeto repleto de êxitos chegava ao seu fim, para tristeza daqueles que, tal como eu, seguiam a modalidade e gostavam de ver o SC Braga vencer.

Uma nota final para agradecer a todos os envolvidos no projeto ao longo dos anos, em especial ao Bruno Torres, que era a face mais visível de todas as faces, ao mesmo tempo que lamento profundamente que no museu fiquem os muitos troféus conquistados por uma modalidade que agora vai desaparecer, precisamente numa altura em que a FIFA a quer elevar para o patamar olímpico.

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