A STR e as taxas das contas à ordem

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Os bancos portugueses tiveram no ano passado o seu melhor ano de que há memória, graças aos ganhos com a subida das taxas de juro.

É um regresso ao modelo de negócio tradicional dos bancos, que consiste em lucrar com a diferença entre o que pagam pelos depósitos e aquilo que cobram nos empréstimos que concedem, a chamada margem financeira. Era este o negócio dos bancos desde a Idade Média até ao advento da crise financeira, que levou a que os bancos centrais inventassem as taxas de juro negativas.

Porém, além de continuarem a não remunerar os depósitos a prazo com valores que realmente permitam aos clientes rentabilizarem as suas poupanças de forma satisfatória, é também impressionante a diferença que continua a existir entre as taxas de juro que os bancos pagam nas contas à ordem e a remuneração que obtêm nos mercados interbancários.

Apesar da forte subida das taxas de referência por parte do BCE durante os últimos dois anos, o sistema financeiro continuou a ter acesso a um volume de liquidez muito elevado, com a taxa de curto prazo da zona euro (a STR, que substituiu a EONIA) a transacionar abaixo da taxa de juro da facilidade permanente overnight no BCE, que está em 4%.

Esta disparidade entre aquilo que os bancos pagam e aquilo que ganham no mercado interbancário contribuiu para os lucros bilionários da banca portuguesa em 2023 e promete continuar a fazê-lo, até porque a fraca literacia financeira da maioria dos portugueses – incluindo as empresas – faz com que a maioria se dê por satisfeita com depósitos onde perde dinheiro.

E os bancos, que têm obrigação de aconselhar bem os seus clientes, nem sempre têm a capacidade para os aconselhar no sentido de olharem para outras alternativas de investimento de curto prazo, como os fundos de mercado monetário e outras soluções onde é possível obter rentabilidades acima de 2,5%, com possibilidade de mobilização a qualquer momento.

Porém, independentemente das insuficiências dos bancos, neste tema como em muitos outros, importa estarmos atentos e sermos exigentes para com as instituições a quem confiamos as nossas poupanças. E procurar não deixar em mãos alheias as decisões que são cruciais para o nosso futuro e das nossas famílias.

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