Em véspera de Convenção Nacional do Chega, que por sua vez decorre em vésperas da abertura de um novo ciclo eleitoral, o partido debate-se com os caminhos que pode tomar para continuar a crescer.
De deputado único para um grupo parlamentar de 12 lugares (com 7,2% dos votos), o Chega é apontado por todas as sondagens como o partido que mais cresce: no mínimo para 11,6%, sendo que em algumas projeções o partido de André Ventura mais do que duplica as intenções de voto, com 17%.
Mas em momento de juntar as tropas o Chega não vai discutir lugares nem listas. Isso será para “depois da Convenção”, esclarece à Renascença fonte do partido, evitando assim eventuais fricções entre militantes que aspirem aproveitar este crescimento do Chega para chegar ao Parlamento.
O momento é de mostrar unidade e apresentar propostas já com a mira nas legislativas, fintando as questões que podem dividir militantes. André Ventura é candidato único.
A Renascença foi analisar as 32 moções que vão ser votadas em Viana do Castelo e resume algumas delas.
Serviço militar obrigatório
Numa moção intitulada “Revitalização da Identidade e Cultura Nacional Portuguesa”, os subscritores querem assumir um “compromisso da nossa identidade nacional” e ser “guardiões” de uma “história marcada por grandes descobrimentos, conquistas e inovações”.
Para o fazer, a moção defende a “reintrodução do serviço militar obrigatório em Portugal” como uma forma de manter a coesão social. No argumentário citam uma série de estudos que demonstram que o ir para a tropa pode ajudar a unir “indivíduos de diferentes estratos sociais”.
Há ainda um ponto onde se sublinha a necessidade de “reforçar a família tradicional”, onde se pede mais políticas de natalidade e que campanhas “promovidas pelos movimentos LGBT+ e Black Lives Matter sejam restritas a audiências adultas e se mantenham fora do ambiente escolar”.
Preservação da identidade política e unidade interna
Pode ser uma das moções que mais abana a convenção. Numa altura em que se fala de uma moderação ideológica do Chega, rejeitada à Renascença pelo vice-presidente do partido, Pedro Frazão, há pelo menos um militante que pede uma “assunção da verdadeira Direita Conservadora”, alicerçada nos valores de “Deus, Pátria, Família, Trabalho e liberdade”.
No diagnóstico, a moção fala de uma “sociedade mergulhada no relativismo moral” em que “não existem convicções perenes” e para a solução, pede-se que o partido “mantenha a sua identidade”.
A proposta é que o partido “pugne, apesar das pressões internas e externas, por manter a sua identidade política, essência ideológica ou corpo de doutrina política fundamental”. Sem especificar de onde vêm essas “pressões”, o militante pede ainda que os dirigentes do Chega tudo façam para “manter a unidade interna”.
Os pedidos são especialmente dirigidos à direção de André Ventura: “responsabilidades e exigências” estão “nas mãos dos líderes e dirigentes nacionais”.
Imigração: linha dura e linha leve
Há pelo menos três moções que trazem esta bandeira do Chega para a discussão. Uma delas intitulada “Imigração regulada”, outra “Portugal precisa de mais portugueses”.
O tema é o mesmo, as expressões e as ideias não. Na primeira garantem “não ser contra a imigração, mas sim contra a desregulação”. Na segunda dizem que o país está a assistir à chegada de imigrantes “tudo ao molho e fé em Deus”.
A temática também suscita soluções diferentes dentro do Chega: se uns pedem uma “regulação”, sem discriminar que medidas propõem; outros concretizam e defendem uma mudança na Lei da Nacionalidade: conseguir nacionalidade portuguesa passar de 5 para 10 anos de residência legal no país.
Numa outra moção, chamada “Recuperação do controlo sobre as fronteiras e a imigração”, os militantes defendem que não deve haver um “Portugal de portas escancaradas”. No texto compara-se a política de imigração de “Sócrates e Costa” ao abrir de portas da península ibérica “aos mouros no século VI”.
Violência doméstica
O nome é genérico, mas a proposta é concreta: recomendar à atual direção que impeça que “indivíduos condenados por crimes de violência doméstica possam candidatar-se a qualquer cargo partidário.
Sem mencionar nenhum caso real, os subscritores desta moção acreditam que o Chega deve ser a “liderança pelo exemplo” e afaste os agressores dos cargos no partido.
Revogar acordo ortográfico
“Pelo fim definitivo do acordo ortográfico e pelo resgate da Língua Portuguesa”, é o nome da moção que é autoexplicativo.
Há militantes que acreditam que a língua é “um símbolo nacional” e que o acordo ortográfico em vigor representa um “ataque”. A primeira subscritora defende que esta é uma “temática tão presente mas tão pouco abordada”.
No rol de argumentos, a moção diz que “os nossos jovens advogam causas que não conseguem justificar nem defender” e pode ler-se: “Não podemos almejar ter, ser ou pertencer a uma sociedade desenvolvida de os nossos concidadãos não conseguirem elaborar um raciocínio comum.”
A culpa é, em parte, do novo acordo ortográfico, que transforma o português numa “língua-arma de manipulação da população pela esquerda em Portugal”. E, por isso, a resolução passa por anular o último acordo ortográfico, em vigor desde 2012.