Alemanha deve preparar-se para “nova realidade” com Rússia como “potencial ameaça”

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O Kremlin acusa Berlim de estar a planear atacar o território russo. A Alemanha diz que a fuga de informação é um ataque que tem como objetivo dividir a Europa.

A recente guerra de palavras entre Alemanha e Rússia está a agravar as tensões bilaterais, e Berlim deve preparar-se para uma nova realidade na qual Moscovo aparece como ameaça, segundo analistas ouvidos pela Lusa.

“A Rússia de Putin é um ator cada vez mais agressivo no palco internacional”, considera o analista político Marcel Dirsus. Para o politólogo e historiador Dmitri Stratievski, a Alemanha tem de preparar-se para “muitos anos de tensão política e militar na relação com a Rússia”. O tenente-coronel Torben Arnold considera que, perante este cenário, “faz sentido atualizar e equipar as Forças Armadas alemãs”.

O ministro da Defesa, Boris Pistorius tem lançado avisos aos alemães para que estejam preparados para um confronto de uma década com a Rússia. Uma recente fuga de informação sobre una reunião entre oficiais do exército alemão, cujo teor foi divulgado pela Rússia, veio azedar ainda mais as já tensas relações entre os dois países.

O Kremlin acusa Berlim de estar a planear atacar o território russo. A Alemanha diz que a fuga de informação é um ataque que tem como objetivo dividir a Europa.

“A Alemanha tem de preparar-se para uma nova realidade em que a Rússia é uma potencial ameaça. Depois do fim da guerra fria, houve várias décadas em que a Alemanha pôde usufruir da paz, e focar-se noutras coisas (…) Durante esse período, as pessoas esqueceram o passado. Agora vão ter de voltar a habituar-se”, considera Marcel Dirsus.

“Com décadas de desinvestimento, a Alemanha não está sequer próxima de estar preparada. O investimento na defesa terá de aumentar. Não só para criar recursos, mas para assegurar que os que existem podem ser usados. Muito dinheiro deverá ser gasto em munições, porque não adianta ter bons tanques, ou armas de fogo, se não as podemos disparar”, aponta o investigador não residente do Instituto de Política de Segurança da Universidade de Kiel em declarações à agência Lusa.

Para Dirsus, aumentar o financiamento das Bundeswehr (forças armadas) é um desafio numa altura em que os alemães vêm os preços a subir.

“Antes de fevereiro de 2022, a elite política alemã achava que Putin era autoritário, mas pelo menos previsível e não iria arruinar os seus negócios (…) Berlim calculou mal. A história recente mostrou que o atual regime de Moscovo está disposto a sacrificar milhares de milhões de lucros e as perspetivas económicas do seu país para as próximas décadas em prol das suas ambições imperiais”, considera Dmitri Stratievski.

À Lusa, o diretor do Osteuropa-Zentrum de Berlim (OEZB) considera que a Alemanha “tem de aprender” com os erros.

“Um ataque da Rússia a um país da NATO parece-me improvável, pelo menos a curto prazo. No entanto, não são de excluir novas tensões e a interferência russa noutras regiões, como a Moldova. A potência protetora da Moldova é a Roménia, membro da NATO. Por conseguinte, não é improvável uma escalada no sudeste da Europa com o envolvimento da NATO”, assume.

De acordo com Stratievski, a Alemanha está obrigada a adaptar-se às novas realidades geopolíticas e, juntamente com os seus aliados ocidentais, a concentrar-se na estratégia de dissuasão em relação à Rússia.

Para o tenente-coronel Torben Arnold, “as negociações com a Rússia e o regime liderado por Vladimir Putin não fazem sentido porque não têm valor”.

“Um acordo não valeria o papel em que fosse escrito. Existe atualmente uma falta de confiança total na celebração de acordos com a Rússia, quer bilaterais, quer multilaterais, quer através de instituições internacionais. Isto exigiria, em primeiro lugar, um sinal visível de vontade por parte de Moscovo”, considera o investigador no Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

Arnold defende que a Alemanha deve continuar a deixar claro que apoia sem reservas os seus parceiros e que não aceita de forma alguma o comportamento da Rússia.

“Ao mesmo tempo, tem de dar sinais de que manterá a cabeça fria em relação a governantes como o Presidente Putin. Sendo de longe o maior apoiante da Ucrânia na Europa, a Alemanha tem de continuar a desempenhar o seu papel de apoiante, mediador e força motriz”, destaca.

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