Alemanha tem “maior partido de extrema-direita pró-Rússia na Europa”, diz analista

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Milhares de pessoas têm saído às ruas nas últimas semanas, depois do coletivo de jornalistas “Correctiv” ter revelado uma reunião secreta em que participaram vários membros do partido e de outras organizações de extrema-direita e neonazis.

O diretor do Centro para a Integridade Democrática (CDI), Anton Shekhovtsov, defende que, embora existam outros partidos europeus de extrema-direita com pontos de vista pró-Kremlin, o alemão AfD tem o maior “grupo russo” nas suas fileiras.

“Estamos a falar de várias dezenas de membros do ‘grupo russo’ do AfD”, sustenta, “o que é bastante singular”, revela o analista político ucraniano, em declarações à agência Lusa.

“A título de comparação, o núcleo do ‘grupo russo’ da Frente Nacional de Marine Le Pen, mesmo no auge do seu período pró-Kremlin, entre 2013 e 2021, tinha cerca de uma dúzia de membros. O ‘grupo russo’ do Partido da Liberdade da Áustria tinha cerca de 5-6 pessoas”, detalhou Shekhovtsov, autor do livro “Rússia e a Extrema-direita Ocidental.”

O AfD nasceu em 2013 como um partido de oposição eurocético, entrando, quatro anos mais tarde, para o parlamento alemão depois de ser a terceira força mais votada. O partido recolhe mais votos na antiga Alemanha de leste, mas, além do Bundestag, também tem assentos no Parlamento Europeu e nos governos regionais de todo o país.

Milhares de pessoas têm saído às ruas nas últimas semanas, depois do coletivo de jornalistas “Correctiv” ter revelado uma reunião secreta em que participaram vários membros do partido e de outras organizações de extrema-direita e neonazis.

No encontro, que decorreu em novembro do ano passado em Potsdam, foi discutido um plano de deportação em massa, para o norte de África, de milhões de estrangeiros residentes no país, incluindo naturalizados.

Apesar do escândalo, e da crescente contestação, o AfD continua a ser a segunda força mais votada, de acordo com as sondagens, conseguindo 20%, ultrapassando os três partidos que formam a coligação “semáforo” que governa o país.

Este executivo, formado pelo Partido Social-Democrata (SPD), pelo Partido Democrático Livre (FDP) e pelos Verdes, e liderado por Olaf Scholz, tornou-se o segundo maior fornecedor do mundo de ajuda militar à Ucrânia, só ultrapassado pelos Estados Unidos.

Com a popularidade do AfD, a posição da Alemanha em relação à Ucrânia pode estar em causa, considera o politólogo alemão Lothar Probst.

“O AfD admira o estilo de governação autocrático e homofóbico de Putin como uma espécie de modelo para a Alemanha. Querem restabelecer a antiga relação germano-russa, incluindo a importação de gás e petróleo russos. Por esta razão, pedem o fim das sanções e do fornecimento de armas à Ucrânia”, revelou o professor emérito da Universidade de Bremen, em declarações à agência Lusa.

Para Anton Shekhovtsov, a ascensão do AfD influencia as opiniões dos alemães sobre a agressão russa contra a Ucrânia, “empurrando-os para linhas favoráveis a Moscovo”.

“Isto leva ao enfraquecimento do apoio social às políticas do atual governo alemão destinadas a prestar apoio militar e económico à defesa da Ucrânia. Esta situação é especialmente alarmante dadas as incertezas quanto ao apoio dos EUA à Ucrânia atualmente (…) incertezas que exigem que a Europa assuma o papel principal no apoio à Ucrânia”, sublinhou o diretor do CDI, especialista em movimentos de extrema-direita.

Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, vários partidos de extrema-direita europeus distanciaram-se dos seus laços com o Kremlin. Já alguns membros do AfD continuaram a visitar Moscovo.

Hans-Thomas Tillschneider, deputado regional da Saxónia, estado federado do leste da Alemanha, terá visitado a Rússia pelo menos três vezes, prestando declarações no canal de propaganda russo “Russia Today”, proibido na Europa.

De acordo com o canal alemão ZDF, em maio de 2023, o líder e o fundador do partido, Tino Chrupalla e Alexander Gauland, participaram numa receção na embaixada russa na Alemanha, celebrando o “Dia da Vitória” na Rússia.

Chrupalla alegou que compareceu ao evento porque o “diálogo não deve ser interrompido em tempos de crise”.

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