Alqueva fez disparar cultivo de frutos secos na região de Beja

4 meses atrás 62

João Moura, secretário de Estado da Agricultura, esteve em Beja para o encerramento do III Congresso Portugal Nuts

João Moura, secretário de Estado da Agricultura, esteve em Beja para o encerramento do III Congresso Portugal Nuts

João Girão

Quem o diz é o presidente da autarquia, que assinalou esta manhã o sucesso do sector dos frutos secos e, em particular, da produção de amêndoa. Desafios ligados às alterações climáticas, às flutuações de mercado e às tendências de consumo marcaram o III Congresso Portugal Nuts, a que o Expresso se associou como media partner

“Uma agricultura para ser competitiva tem de ter água”, assinalou o secretário de Estado da Agricultura, João Moura, logo depois de ter saudado aquele que considera ter sido “o melhor investimento agrícola de sempre”: o Alqueva. O responsável falava esta tarde no encerramento do III Congresso Portugal Nuts, em Beja, onde fez questão de dizer que o Governo quer “eliminar alguns estigmas” sobre a agricultura e resolver os problemas do armazenamento de água. “A nossa região começou a ter um peso preponderante da agricultura de regadio com a entrada em funcionamento do Alqueva”, dizia, na manhã desta quinta-feira, o presidente da Câmara Municipal de Beja, Paulo Arsénio.

O autarca felicitou o crescimento do sector dos frutos secos e, em particular, dos investimentos na produção de amêndoa que ocupam já mais de 24 mil hectares na região. No dia em que a associação Portugal Nuts reuniu empresários agrícolas e agroindustriais para o seu encontro anual, António Saraiva, diretor-geral da instituição, aproveitou o momento para apresentar a plataforma NutsData, que reúne dados de produção dos seus associados. “Em 2023, ainda há metade da área que não está a produzir. O potencial que está instalado no terreno vai permitir-nos crescer muito”, assegura, lembrando que, só entre os associados, há mais de 17 mil hectares de amendoal em todo o país.

Aumentar o consumo nacional de frutos secos implica apostar em inovação, novas formas de apresentar os produtos e, sobretudo, criatividade. Este foi o tema do painel moderado por Paulo Baldaia (SIC) e que juntou (da esq. para a dir.) Vasco Sousa (Once Upon a Tarte), José Santos (Turismo do Alentejo) e David Lacasa (Lantern)

João Girão

Ao longo do dia, houve ainda oportunidade para debater estratégias para aumentar o consumo de frutos secos no mercado nacional, mas sobretudo para refletir sobre a importância de preservar o meio ambiente e fazer uma gestão da água eficiente. A programação contou ainda com a assinatura de um protocolo entre a associação e a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja para a criação de uma pós-graduação, a partir de 2025, ligada à produção sustentável.

"Temos potencial produtivo", sublinhou Tiago Costa, presidente da Portugal Nuts, que pede mais investimento na agroindústria para que o país possa reter mais valor acrescentado na produção de frutos secos

João Girão

Conheça abaixo as principais conclusões.

“A água não se gasta, utiliza-se”

O desafio das alterações climáticas deu o mote para a discussão desta manhã no congresso sectorial, que contou com a participação de Miguel Miranda. O antigo presidente do IPMA recusa a ideia de que a água é “gasta” e fala antes em incorporação nos alimentos. Aliás, diz que “não vamos ter menos água em média na Terra”, mas não “vai estar distribuída onde queremos”. Em causa está o aumento da humidade à boleia da subida da temperatura média do planeta, que por cada grau a mais, traz 7% mais água. O especialista avisa ainda que o limite de aumento de temperatura definido pelo Acordo de Paris, que queria limitar a subida dos termómetros a 1,5 graus, está perdido. “Em muitos sistemas já ultrapassámos os 1,8 graus. Mesmo os 2 graus já são praticamente impossíveis”, afirma. É preciso, por isso, agir e implementar medidas de adaptação, a par com um esforço sério na diminuição das emissões de CO2 enviadas para a atmosfera. “É possível haver variações do clima mais rápidas do que aquelas que prevíamos, o que significa que toda a prudência é pouca”, acrescenta.

A mudança climática e os esforços de mitigação marcaram a sessão que contou (da esq. para a dir) com Rui Veríssimo Baptista (SEDES), João Machado (Atlas MGA), Carlos Araújo (Amendouro), Rosário Félix (Universidade de Évora) e Miguel Miranda (ex-IPMA)

João Girão

Rui Veríssimo Baptista, da SEDES, reconhece que “vamos ter menos água, mais calor e menos frio” para a agricultura, o que implica uma adaptação rápida. Ainda assim, fala no que considera ser um necessário aumento da produção agrícola – uma “intensificação sustentável” – para que seja possível manter a atividade rentável e alimentar toda a população. “Agricultura sem água não é agricultura com futuro”, sublinha Carlos Araújo, da Amendouro, que considera importante tornar as produções mais eficientes do ponto de vista da utilização de recursos. O amendoal, destaca, é uma das culturas “menos suscetíveis” aos riscos climáticos. Luís Goulão, professor e investigador do ISA da ULisboa, lembrou ainda que “um terço dos alimentos que são produzidos não são consumidos”, uma “ineficiência do sector” para a qual, tal como a sustentabilidade como um todo, tem na tecnologia “a principal resposta”.

As previsões de evolução do preço no mercado da amêndoa motivaram a apresentação de David Magaña (Rabobank), comentada logo de seguida por Brian Ezell (Almond Board of California), Tim Jackson (Almond Board of Australia), Gaspar Alapont (Almendrave Espanha) e Miguel Matos Chaves (Portugal Nuts)

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Preços precisam de aumentar

Depois de uma campanha lucrativa em 2019, o mercado internacional de amêndoa – dominado pelos Estados Unidos – tem registado uma queda do valor pago aos produtores. Em causa, diz Brian Ezel, da Almond Board of California, estão as margens de lucro dos retalhistas. “Desde 2020 que os retalhistas têm segurado os preços do passado e os produtores são forçados a vender muito mais barato. Os retalhistas estão interessados em manter os preços e encaixar margens maiores”, lamenta. O norte-americano, que participou no evento por videochamada, defende ser preciso reduzir alguns milhares de hectares de produção na região e acredita que esse processo vai acontecer, mas a baixo ritmo. “Os preços atuais não são rentáveis”, reforça.

Na sessão "Como podemos fazer melhor e diferenciar-nos?" participaram (da esq. para a dir.) Diogo Pires (Bolschare), Paulo Martins (Machrent), Felisbela Campos (Syngenta), Manuela Jorge (Agroges) e Luís Goulão (ULisboa)

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A partir da Austrália, Tim Jackson, do Almond Board daquele país, diz mesmo que “se o preço médio se mantiver nos 2,10 dólares por libra estamos com grandes problemas”. Na Europa, Portugal e Espanha enfrentam a mesma dificuldade, mas há luz ao fundo do túnel, já que o mercado da União Europeia prefere produto europeu e com menor pegada carbónica. “Vemos procura de amêndoas com origem europeia. Os consumidores valorizam uma cadeia mais curta”, atesta Miguel Matos Chaves, da Portugal Nuts. David Magaña, analista do Rabobank, partilhou as previsões do mercado para os próximos cinco anos e acredita que haverá uma “recuperação” nas próximas campanhas, ainda que não a um ritmo suficiente para voltar aos valores de 2019. “A nossa estimativa de preço médio estamos a prever uma subida face aos últimos anos, mas com estabilização a partir de 2025”, apontou. No entanto, o valor deverá manter-se abaixo dos três dólares. “Há, sem dúvida, muitos constrangimentos e desafios pela frente, mas teremos também mais ferramentas e inovação para nos mantermos competitivos e lucrativos. Mantenho-me otimista sobre esta indústria”, afirmou.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

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