​Alunos que passaram a pandemia em confinamento mantêm fracas competências sociais

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Estudo

05 jul, 2024 - 00:50 • Fátima Casanova , Miguel Marques Ribeiro

Efeitos do isolamento nos estudantes que no secundário tiveram aulas à distância continuam a ser percetíveis e “ainda vão continuar a sentir-se", indica estudo do EDULOG, da Fundação Belmiro de Azevedo.

Um estudo do EDULOG, da Fundação Belmiro de Azevedo, sobre o impacto da covid-19 no ensino superior no ano letivo 2021/22 indica que os confinamentos realizados durante a pandemia tiveram impacto negativo nas competências sociais dos alunos.

A investigadora do CIEC – Instituto de Educação da Universidade do Minho, Orlanda Tavares, afirma que, de acordo com os relatos recolhidos, os efeitos do isolamento nos estudantes que no secundário tiveram aulas à distância continuam a ser percetíveis e “ainda vão continuar a sentir-se” .

“Quando entrevistamos os coordenadores de curso, eles sentem que os estudantes que tiveram um bom período do secundário em confinamento, manifestam comportamentos bastante diferentes daqueles de pré-pandemia”, declara Orlanda Tavares.

Entre os principais impactos identificados está a “dificuldade em interagir com os outros” ou “em fazer apresentações em público”, o que significa uma diminuição das competências sociais.

Taxa de abandono no ensino superior em crescimento

O mesmo estudo indica, ainda, que a taxa de abandono no ensino superior aumentou em todas as áreas científicas, situação que se agrava nos cursos de educação.

A investigadora da Universidade do Minho considera que a pouca atratividade da profissão de professor possa ter sido um dos motivos para os estudantes não concluírem o curso.

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“Há uma menor atratividade desta área para os estudantes, o que faz com que muitos dos que entram nestas áreas, não o façam na primeira opção e os nossos dados mostram que o facto de entrarem em primeira opção é um fator protetor do abandono”, explica Orlanda Tavares.

O perfil dos estudantes é outro fator a ter em conta. “Vêm de famílias com níveis socio culturais mais baixos e, por isso, tendem a enfrentar maiores dificuldades financeiras”, sublinha a investigadora.

Desta forma, a integração destes estudantes fica debilitada “logo no primeiro ano, onde o abandono tem maior expressão”. Outras causas estão relacionadas com as dificuldades financeiras, como a “necessidade de conciliar o estudo com trabalho”.

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A investigadora Orlanda Tavares revela ainda que no acesso ao ensino superior aumentou a disparidade entre os alunos de cursos científico – humanísticos e os alunos que optaram por cursos profissionais. Deste modo, estes últimos continuam a ser o parente pobre do ensino, fruto do contexto sociofamiliar.

“São estudantes, mais de metade, que têm pais cujo nível de escolaridade não vai além do terceiro ciclo do ensino básico. São alunos com mais dificuldades financeiras. Têm, em geral, menos confiança nas suas competências académicas, portanto, tiveram experiências negativas no ensino regular e procuram um tipo de ensino mais voltado para as competências práticas e para a inserção mais rápida no mercado de trabalho”, aponta.

Na sequência das conclusões do estudo, o EDULOG recomenda uma maior diversificação as modalidades de acesso ao ensino superior, o alargamento das bolsas de estudo a alunos que agora não são elegíveis e mais apoio em áreas como matemática, português e literacia digital.

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