A frequência com que a violência regressa repetidamente às suas das grandes cidades – com Paris em destaque – aconselha a uma prudência, que, de qualquer modo, não costuma ser suficiente. Entretanto, todos os cenários políticos estão em aberto.
Cerca de 30 mil policiais foram mobilizados em toda a França para a noite deste domingo, depois de aumentar o receio de que a violência volte a tomar os centros das principais cidades. Gérald Darmanin, ministro do Interior, disse que cinco mil policiais estarão em prontidão em Paris e arredores para “garantir que a direita radical e a esquerda radical não se aproveitem da situação para causar caos”.
Recorde-se que quatro pessoas, incluindo uma menor de 18 anos, foram presas depois de a porta-voz do governo, Prisca Thevenot, e sua equipa terem sido atacadas na noite de quarta-feira enquanto colocavam cartazes de campanha em Meudon, nos arredores de Paris. Segundo disse, a polícia chegou menos de cinco minutos após o ataque.
Também Marie Dauchy, candidata do partido Rassemblement National RN), de Marine Le Pen, em Savoie, disse ter sido atacada por um comerciante num mercado esta quarta-feira. Nicolas Conquer, candidato do Republicanos, disse nas redes sociais que foi agredido enquanto distribuía panfletos eleitorais na cidade de Cherbourg na terça-feira.
Na noite de há uma semana, no final da primeira volta, vários focos de violência rebentaram em diversas cidades – com a capital, Paris, e como é tradição, a liderar os protestos.
O decisivo segundo turno deste domingo deve fazer com que o RN, de extrema-direita, se torne o maior partido no Parlamento, alcançando ou não os 289 assentos necessários para uma maioria absoluta para formar o próximo governo. Tanto o grupo centrista do presidente, Emmanuel Macron, como a coligação de esquerda, a Nova Frente Popular, retiraram mais de 200 candidatos da segunda volta, num esforço conjunto para limitar os lugares da extrema-direita.
As projeções das sondagens sugerem que o RN terá o maior número de lugares na próxima Assembleia Nacional. Se obtiver os 289 lugares, Macron deverá nomear o presidente do RN, Jordan Bardella, como novo primeiro-ministro de França. O mesmo deverá suceder se os extremistas não obtiverem a maioria absoluta, mas tiverem uma maioria relativa significativa – o que fará com que Bardella possa ter dificuldade em fazer passar um governo seu no Parlamento. Mas, Macron poder tentar construir uma coligação com moderados e, eventualmente, escolher um primeiro-ministro de centro-esquerda, se essa maioria absoluta não se verificar – na tentativa de criar uma ‘geringonça’
Segundo os analistas, se não houver um partido com um mandato claro para governar, Macron poderá nomear um governo de especialistas não filiados em partidos políticos. Um tal governo ocupar-se-ia, provavelmente, sobretudo dos assuntos quotidianos para manter a França a funcionar e esperar que chegue a próxima votação para a presidência – o que só sucederá, em princípio, em maio de 2027. Dentro dos cenários possíveis – e se houver uma maioria absoluta dos extremistas de direita – está também a demissão de Macron.
Se as conversações políticas demorarem demasiado tempo, devido às férias de verão e aos Jogos Olímpicos de Paris, o governo centrista de Macron poderá manter um governo de transição enquanto aguarda novas decisões.
A república francesa moderna conheceu três coabitações, a última das quais durante o mandato do presidente conservador Jacques Chirac, com o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, de 1997 a 2002. Refira-se que há também a possibilidade de haver aquilo a que se chama parlamento suspenso – sem um partido dominante. Esta situação exige que os deputados cheguem constantemente a consenso.
Para todos os efeitos, não há nenhum cenário que pareça ser suficiente para retirar a França da crise em que caiu desde que Emmanuel Macron decidiu a dissolução da Assembleia – na sequência dos maus resultados do seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu.
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