Amazon Web Services: Como uma tecnológica mundial impulsiona o ecossistema português

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De grandes a pequenas empresas. A AWS não tem medo de apostar, ou não tivesse a casa-mãe nascido numa garagem. A tecnológica mundial tem presença em Portugal e tem ajudado o ecossistema português a desenvolver, sem medos, na frente da Inteligência Artificial.

Quem está no sector diz que ‘ela’ anda por aí há muito mais que meia dúzia de anos, e não tem medo de ‘a’ tratar por tu. Afinal de contas, trabalham quase intimamente com a Inteligência Artificial (IA) todos os dias, só lhes faltando o inatingível: passar para o lado de dentro do computador.

Apesar de ter muitos dias para ser celebrada, conta-se esta terça-feira, 16 de julho, o Dia da Valorização da Inteligência Artificial. Por isso mesmo, o Jornal Económico (JE) foi descobrir o que uma das maiores tecnológicas impulsionadoras deste campo de estudo e também tecnologias e funcionalidades, a Amazon Web Services, tem feito em território nacional. Para isso, precisámos de conhecer as startups e empresas são apoiadas pela AWS.

Exemplo de um unicórnio com Inteligência Artificial

A OutSystems não é uma empresa desconhecida do público português, sendo um dos primeiros unicórnios nascido em território nacional. Apesar de ter uma grande dimensão, o ambiente vivido dentro da organização mantém-se fresco. “Ainda temos um espírito de startup, o que nos deixa muito contentes”, diz Rodrigo Coutinho, cofundador da OutSystems e AI Product Manager, ao JE.

“É surpreendente ver que ainda conseguimos manter o espírito em que as pessoas ficam entusiasmadas quando há uma novidade, ou um projeto novo, e se juntam para resolver um problema, para depois conseguirem chegar à solução sem se preocuparem sem burocracias”. Entre algumas palavras, e dentro de uma pequena sala nos escritórios da AWS em Lisboa, Rodrigo ia sorrindo. “É engraçado porque estou a descrever uma situação que aconteceu ainda hoje de manhã”, ri-se.

Questionado sobre o aborrecimento no mundo da tech, Rodrigo Coutinho diz-nos que isso é impossível. “Há sempre novas vertentes [dos problemas], e agora com o aparecimento destas novas tecnologias, que veem abanar a forma de pensar no desenvolvimento de software…”. Mas rapidamente remata: “Para nós, isso são ótimas notícias. São mais ferramentas que temos para ajudar à nossa ambição, e têm ajudado todas as empresas a inovar através de software”.

A ligação entra o unicórnio e a AWS não é nova. Conta Rodrigo Coutinho que “a relação começou em 2007, numa altura em que escolhemos passar várias infraestruturas para a cloud“, precisamente a razão pela qual surgiu esta vertente da Amazon em 2006. Só mais tarde, em 2013, é que a OutSystems viria a ter a sua primeira oferta de cloud.

Com o surgir daquela que apelidam de “IA tradicional”, a empresa portuguesa começou a criar “componentes que ligavam aos serviços da AWS”, o que acabava por permitir que os seus clientes utilizassem estes serviços “de forma low-code e muito fácil”.

O último exemplo de inovação dentro da OutSystems, que conta com o apoio do serviço de cloud da Amazon, é o AI Agent Builder, um serviço “que permite aos clientes criar aplicações que têm IA de forma muito simples, que utiliza modelos da AWS.

E uma empresa mais pequena?

Certo é que a AWS não discrimina a empresa que procura apoio ou soluções com base no seu tamanho ou no que ela é. Convém lembrarmo-nos que a Amazon foi desenvolvida numa garagem como um marketplace para livros, sendo hoje uma empresa com uma capitalização de dois biliões de dólares e com várias vertentes.

Uma das empresas portuguesas que conta com o apoio da AWS é a Visor.ai, cujo produto “permite reduzir os custos e a carga de trabalho das empresas ao automatizar as interações mais comuns e manuais”.

Conta-nos Afonso Fonseca, diretor de produto da Visor.ai, que o arranque da empresa aconteceu com os assistentes virtuais, uns tais de chatbots. “Os assistentes começam a ganhar conhecimento sobre o know-how da empresa e respondem às questões mais frequentes. Este é um serviço que não se vê, mas conseguimos libertar carga de algumas pessoas”, diz o responsável ao JE.

Entre as suas funcionalidades, a Inteligência Artificial permitiu que a Visor.ai permitisse “auditar” a conversa de um contact center. Como funciona? Esta layer de IA, explica Afonso Fonseca, permite validar a performance do assistente, se este apresentou todas as soluções. Mas há outras, como a extração de informação a partir de documentos, de forma a criar ‘sabedoria’ ao sistema.

Quando entra a AWS nesta equação? Segundo o diretor de produto, “desde sempre”. Apesar do grande avanço da IA, “a extração de documentos, reconhecimento de imagens e transcrição de voz, são ferramentas que conseguimos dar o passo com a AWS”.

“Estas ferramentas foram evoluindo ao longo destes oito ano, e temos tentado acompanhar. A evolução das aplicações da AWS foram acompanhando as tecnologias. Para nós, enquanto startup, isso é relevante porque queremos crescer rápido”, afirma Afonso Fonseca.

Um dos grandes apoios da startup nacional tem sido a plataforma BedRock da tecnológica. “A BedRock tem modelos que vão sendo lançados e estão constantemente a atualizar com novos. Assim, nós conseguimos acompanhar e ter sempre os modelos mais atualizados.

Onde fica a educação na Inteligência Artificial?

O ISEG, em Lisboa, foi uma das primeiras universidades a aventurar-se no mundo da Inteligência Artificial. Como? Simples: lançou uma pós-graduação em Applied Artifical Intelligence and Machine Learning.

Segundo Jorge Caiado, docente do ISEG e coordenador deste curso, os colaboradores “não são necessariamente académicos, mas sim pessoas ligadas a empresas”. No fundo, são pessoas que lidam com IA diariamente, têm experiência no mercado de trabalho e que podem passar conhecimentos aos futuros graduados.

Questionado pelo JE sobre este posicionamento, algumas vezes visto como pouco ortodoxo, Jorge Caiado explica: “Nestas áreas não é possível fazer formação só com conhecimento académico. É preciso ter pessoas que falam mesmo daquilo que fazem”. O coordenador lembra ainda que é fácil estar desatualizado no que toca a estes assuntos de tecnologia devido à rápida passagem temporal e avanços das empresas. “Como perde atualidade, é preciso que quem saiba, ensine”.

Além de Jorge Caiado, também Eliano Marques preside à coordenação desta pós-graduação, sendo ainda Chief Product & AI Officer na Tracer. Uma das vantagens deste curso, que segue para a quarta edição, conforme nos explicam, é a sua moldabilidade. “É uma pós-graduação que pode ser adaptada ou customizada”, conforme o avanço da tecnologia.

Não sendo negacionista da tecnologia, e abraçando-a de braços abertos, Jorge Caiado conta ao JE que o ISEG criou uma comissão e um regulamento para tentar ‘controlar’ o uso da Inteligência Artificial por parte dos alunos. Um dos exemplos é evitar tentos trabalhos escritos, optando pela apresentação do mesmo e promover a discussão dos temas. “Considero-me um utilizador moderado destas ferramentas e acho que são bastante úteis”, referindo-se, por exemplo, a tecnologias como ChatGPT. “Não vale a pena limitar a utilização. Acho que as devemos potenciar. Todas as ferramentas têm os seus riscos, mas nós queremos acelerar o processo de aprendizagem”.

E onde entra o elo de ligação entre a AWS e ISEG? No formato de aprendizagem. É que a AWS é uma das parceiras desta pós-graduação, disponibilizando as plataformas necessárias à aprendizagem destes alunos, de forma gratuita.

Uma mulher sem medo à frente da AWS Iberia

Embora ainda parcas, Suzana Curic, country leader AWS Iberia, promete visitar mais vezes Portugal. Numa das suas passagens por Lisboa, o JE falou com a mais recente mulher a comandar o motor gigante que é a AWS, desta vez no mercado ibérico.

Abordando o último grande investimento feito em território ibérico, na vizinha Espanha, na ordem dos 15,7 mil milhões de euros, Suzana Curic admite que este é um compromisso com a região [Aragão], que tem mostrado vontade de crescer desde novembro de 2022.

“Quando queremos fazer um investimento destes [infraestrutura de cloud], olhamos para vários fatores: acesso a um vasto terreno; acesso a energia renovável, com Espanha a posicionar-se num alto padrão europeu; um sólido ecossistema empresarial, sociedade e comunidade; sermos bem recebidos pelos governos locais”, são as razões apontadas ao investimento.

No entanto, a country leader lembra que o investimento não é só infraestrutura, sendo também um objetivo da AWS impulsionar a economia local. “Estes 15,7 mil milhões de investimento representam uma contribuição de 21,6 mil milhões de euros para o Produto Interno Bruto, vão suportar 70.500 empregos diretos e outros tanto indiretos”.

Apesar de um investimento desta magnitude não estar nas cartas para um futuro próximo em Portugal, a AWS não esquece o seu papel no tecido empresarial. “A nossa visão é que todas as empresas se tornem empresas de Inteligência Artificial. Vemos isso de vários ângulos, todos os tamanhos e todas as indústrias”.

Por isso mesmo, e considerando Portugal como um player importante, é que a AWS tem apostado nas empresas que constituem o tecido empresarial nacional, sejam elas de grande dimensão (OutSystems), de pequena ou média dimensão (Visor.ai) ou mesmo fora da indústria tecnológica (educação no ISEG).

Relembrando um estudo divulgado este ano, Suzana Curic admite que as empresas nacionais estão entre os maiores adeptos de IA e IA Generativa. Exemplo disso é o facto de 35% das empresas já adotarem estas soluções, com muitas mais a apostarem na automação. Este mesmo estudo que a country leader refere mostra que se as empresas portuguesas instalarem tecnologias avançadas podem fazer com que a economia cresça 61 mil milhões de euros até 2030, medido em Valor Acrescentado Bruto.

“Queremos dar hipóteses aos nossos clientes. Não acreditamos num único modelo. Acreditamos que há novas tecnologias, com usos diferenciados e com diferentes níveis de especialização. Por isso mesmo, precisamos de dar escolhas aos consumidores”, aponta Suzana Curic.

Uma da partes mais importantes que a líder ibérica faz questão de referir é que “todos os modelos, dados e relatórios estão fora do acesso da AWS. Só o cliente tem acesso a isso. A compliance e a segurança são muito importantes, e acaba também por ser esta a nossa visão da IA Generativa, em que queremos que a adoção destas tecnologias continue a fazer com que as pessoas se sintam seguras”.

“A IA é económica. Por essa razão, estamos a investir no fundo da cadeia e nos chips para treinar modelos”, explica. Mas a responsável para o mercado ibérico vai mais longe: “95% daquilo que desenvolvemos provém das necessidades dos clientes. Isso quer dizer que 5% do que lançamos no mercado é para antecipar as necessidades dos consumidores”.

Como é que a AWS tem ajudado Portugal?

A Amazon tem lançado vários programas em território nacional, mostrando que Portugal não é um país esquecido no que toca à introdução e avanço das tecnologias.

A título de exemplo, a AWS Re/Start está atualmente presente em quatro cidades: Lisboa, Porto, Matosinhos e Amarante. O sucesso tem sido de tal forma que os graduados deste mesmo programa são quase introduzidos assim que terminam a formação, estando muitos a trabalhar para grandes empresas do sector tecnológico.

Outro exemplo está intimamente ligado à educação, o AWS Academy. Este programa está presente em formato de protocolos com diversas instituições nacionais, entre os quais Instituto Politécnico do Porto, Coimbra, Santarém, Castelo Branco, Leiria, Viana do Castelo e Bragança; Instituto Superior de Engenharia do Porto, ISEG, NOVA IMS, ISCTE-IUL, Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, Universidade de Coimbra, Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, CESAE DIGITAL,.

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