ANÁLISE | Deusa de Bérgamo é musa para Amorim

6 meses atrás 52

Se a Atalanta é La Dea (a Deusa), devido à figura da mitologia grega que originou o nome do clube, então tem em Gian Piero Gasperini a figura de um messias.

O clube, embora histórico e centenário, subiu a pique quando este treinador chegou. Desde aí (2016/17), deixou de alternar entre os dois principais escalões de Itália e passou a alternar entre as diferentes competições europeias, chegando mesmo a ser sensação mundial pelo estilo frenético e goleador, na mesma altura em que fez da sua primeira participação na Champions um verdadeiro conto de fadas.

Mesmo sem títulos, Gasperini conseguiu tornar-se lenda viva na pequena comuna de Bérgamo e inspirar outros pensadores do futebol, entre eles o treinador do Sporting. Antes de um jogo em que sofreu a sua primeira e única derrota caseira da temporada, Rúben Amorim admitiu ter tido o técnico italiano como «referência». Nesse dia, mostrou ainda ter muito para aprender...

Hoje a Atalanta já não é cara das maiores goleadas de cada fim de semana. Já não chega à marca dos 100 golos por época, nem atrai tanta atenção. Mudou, mas apenas porque foi forçada a tal. Pura adaptação de quem continua competitivo mesmo após perder as figuras maiores - sina que os clubes portugueses tão bem conhecem.

Atalanta já criou sarilhos em Alvalade @Kapta+

Só este verão, depois de um quinto lugar na Serie A, viu sair peças como Hojlund, Demiral, Boga, Maehle, Pessina e Malinovskyi, todos eles internacionais e importantes, mas substituiu-os bem o suficiente para continuar uma equipa competitiva, tanto que já foi a Alvalade vencer (1-2) e terminou no primeiro lugar do grupo que tinha também o Sporting.

Como joga a Atalanta?

Se a Atalanta é Deusa e Gasperini o messias, então é possível que os devotos adeptos deste emblema tenham um livro sagrado com mandamentos orobici. Quiçá frases como jogarás com três defesas, ou não utilizarás alas subidos para desequilibrar pelas. Dados que identificam o clube ao ponto de parecerem regras.

qGasperini foi uma referência para mim

Rúben Amorim

Sim, três defesas. Tal como a Atalanta que conquistou corações ou... o Sporting de Amorim. Sistema tático tão italiano, mas que não tem nada de catenaccio, pois a Atalanta nunca foi uma equipa virada para a defesa e provavelmente nunca será, mesmo que tenha evoluído nesse departamento. Continua a preferir o 3x5x2 com que ficou célebre, mesmo que agora alterne frequentemente para um ataque a três.

Os alas continuam preponderantes. À direita é Zappacosta que dá a largura desde que Hateboer começou a sofrer com lesões, à esquerda é Matteo Ruggeri. Pelo meio, Koopmeiners fez-se figura e complementa na perfeição Marten de Roon, oferecendo a criatividade (e outras valências ofensivas) que o seu compatriota nunca teve, enquanto Éderson se vai agigantando cada vez mais como uma peça fulcral.

Ademola Lookman esteve endiabrado na última visita a Lisboa @Kapta+

Mais à frente, Lookman representa a versatilidade dos caminhos ofensivos. Foi o artilheiro da equipa em 22/23, adaptando-se bem à posição de ponta de lança, mas é graças à sua capacidade como extremo que Gasperini pôde apostar num ataque mais fluído, em detrimento da aposta nas valências físicas de avançados diferentes. O nigeriano tem feito dupla no ataque com De Ketelaere, belga que cada vez mais se afasta do estatuto de promessa - é caso sério e, de momento, melhor marcador do plantel.

Sem bola, falamos de uma equipa altamente pressionante. Não é raro ver quatro ou cinco jogadores atacar o portador da bola em tentativa de recuperação rápida em zonas adiantadas, permitindo à defesa, constituída pelo capitão Tolói, o fiável Djimsiti e o impressionante Giorgio Scalvini, jogar com a linha muito subida.

É uma Deusa em constante adaptação, mas que mantém vários comportamentos antigos. O Sporting revê-se numa boa parte deles, mas já revelou dificuldades na hora de os tentar contornar...

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