André Santos e a depressão. “A eutanásia dos animais é muito dura. Em 12 anos, já vi muitos morrer”

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O veterinário André Santos é o 20.º convidado do Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental

"Se tiver de identificar um fator preciso, não consigo, mas talvez o luto de dois cães e uma relação complicada de acabar que tive."

"Percebi que precisava de ajuda quando vi que continuava a sentir-me triste, não estava a ver uma luz ao fundo do túnel."

"Não sei dizer se foi da sertralina e senti o efeito placebo, ou se foi a sertralina, a terapia, fazer exercício e tentar mudar a minha forma de pensar."

"Os antidepressivos não nos tiram da chuva, são um guarda-chuva. Vão proteger-nos da chuva, mas nós temos de aprender a sair da tempestade."

"Medicina veterinária tem uma pequena agravante, que é a eutanásia. E a eutanásia é muito dura. É ver as pessoas completamente sem chão."

"Numa semana podem ser duas eutanásias e mais dois animais em urgência que morrem. Tudo bem. Mas se forem duas semanas, um ano, dez anos, 12 anos..."

"O que resulta comigo é uma dieta: o que como, o que oiço, o que digo, com quem estou e se faço terapia. Tudo isso junto faz imensa diferença."

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O veterinário André Santos é o 20.º convidado do Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

O veterinário André Santos é o 20.º convidado do Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Os 469 mil seguidores de André Santos no Instagram já sabem: é difícil encontrar um vídeo ou uma foto do veterinário sem um cão, um gato ou outro animal de companhia que lhe passe pelo consultório. Na esmagadora maioria das vezes, são fotos e vídeos engraçados e felizes — como o que acabou republicado por uma outra página internacional, a 9GAG, com mais de 57 milhões de seguidores. Mas o médico também já se deixou ver em lágrimas, depois de ter sido obrigado a eutanasiar um gato que era seu doente no hospital.

Na verdade, o momento acabou por servir de pretexto para que André Santos falasse sobre saúde mental e da sua própria fragilidade, mas, sobretudo, para deixar um alerta sobre o impacto emocional da profissão. Os dados de um estudo publicado no ano passado mostram que mais de metade dos veterinários têm sintomas de ansiedade, depressão e stress — sintomas graves para mais de 25%. E as estimativas apontam que, entre eles, a taxa de suicídio é quase quatro vezes mais alta do que na população em geral.

Nesta entrevista inserida na série “Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental“, uma iniciativa do Observador e da FLAD, agora incluída no projeto Mental, André Santos conta que parte da razão está, precisamente, na eutanásia, porque “é impossível separar o papel de um veterinário no luto dos donos”, que pode ser mais ou menos complicado consoante a forma como todo o processo é gerido. “Será que fiz o correto? Será que comuniquei aos donos da forma correta?”, questiona muitas vezes. E explica: “Estamos ali num consultório que está embebido em emoções muito fortes, negativas, que são normais. E numa semana podem ser duas eutanásias e mais dois animais em urgência que morrem. Tudo bem. Mas se forem duas semanas, um ano, dez anos, 12 anos de profissão, que é o que eu tenho… já vi muitos animais morrer e já eutanasiei outros tantos.”

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Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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