Antigo alto funcionário da ONU lamenta diminuição da legitimidade

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Num evento intitulado "Como é que um mundo dividido pode enfrentar os conflitos?", organizado hoje em Londres pelo centro de estudos britânico Chatham House, o diplomata britânico, que deixou as funções na organização multilateral este verão, lamentou que "quase nenhum conflito esteja a ser resolvido" e identificou alguns problemas. 

"O elefante na sala é a impunidade" perante crimes internacionais, salientou Griffiths, referindo o caso da morte de trabalhadores humanitários. 

"O número de mortes está a aumentar e não há praticamente ninguém que tenha sido investigado, indiciado ou condenado por essas mortes. Então, porque não matariam outro trabalhador humanitário que está a ajudar o vosso inimigo? Porque não vão sofrer consequências por isso, e é uma vergonha", denunciou.

Outra contrariedade, referiu, é a "diminuição" da legitimidade da ONU, organização para a qual trabalhou, nomeadamente entre 2018 e 2021 como enviado especial para o Iémen e entre 2021 e 2024 como subsecretário-geral dos Assuntos Humanitários, a convite do secretário-geral, António Guterres.

"A geopolítica, a divisão [resultante da guerra] da Ucrânia paralisaram a vontade e a capacidade da ONU de participar em esforços diplomáticos ou de mediação que serão inevitavelmente controversos e, como resultado, estão agora muito reduzidos", explicou Griffiths.

Segundo este experiente mediador de conflitos, é difícil para a ONU intervir como um intermediário devido às acusações de parcialidade de partes envolvidas em certos conflitos que marcaram ou marcam neste momento o panorama internacional.

Por exemplo, Guterres tem sido duramente criticado pelas autoridades israelitas, atualmente envolvidas em ofensivas militares na Faixa de Gaza e no Líbano, que têm pedido repetidamente a demissão do líder da ONU.

Num discurso proferido na sexta-feira a partir da tribuna da Assembleia-Geral da ONU, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou a organização multilateral de antissemitismo e de hostilidade contra Israel.

Além da necessidade de reforma da organização, nomeadamente do Conselho de Segurança, Griffiths disse que, "por causa da Ucrânia e de Gaza, o sentido de validade e a autoridade moral do Ocidente está a esvair-se".

Sobre o atual conflito no Médio Oriente, Griffiths alertou para o risco da continuação da ocupação militar em Gaza e, agora, no Líbano.

"É óbvio para qualquer pessoa que tenha passado algum tempo em guerras e a lidar com grupos armados e grupos terroristas que este tipo de guerra terrestre geralmente não funciona. Sim, mata-se quem se quer matar, mas cria-se uma geração de 'jihadistas', como ouvimos tantas vezes no caso de Gaza e agora no caso do Líbano e, provavelmente, da Síria por arrasto", anteviu.

Para o diplomata britânico, "a parte essencial da segurança é a esperança, um horizonte para as pessoas verem que há algo melhor a caminho".

"A ausência da esperança do povo palestiniano e agora do povo libanês é um pecado absoluto, pior do que um crime", frisou.

Para Griffiths, é necessário que sejam realizadas publicamente negociações sobre o pós-guerra em Gaza e na Cisjordânia e a criação do Estado da Palestina e envolver os palestinianos e os países árabes da região. 

"Não está a acontecer em público, está a acontecer à porta fechada", criticou, defendendo que "se se quer acabar com uma guerra, é preciso apresentar uma visão do que é melhor do que uma guerra, e apresentá-la publicamente, e trabalhar calmamente com as partes". 

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