Ao pessimismo nas ruas de Portimão, Raimundo responde "olhe que não"

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A tarde começava a cair no arranque da caminhada comunista pelas ruas da cidade algarvia, com paragem das cerca de três dezenas de apoiantes ao fim de poucos metros na pastelaria Trigo Bom, onde o secretário-geral do PCP começa de imediato por pedir desculpa por achar que pisou uma senhora.

"Não, não pisou", responde-lhe a cliente, para logo assumir um outro desgosto. "Quero muito que isto dê a volta. O meu voto está sempre lá, mas é sempre a mesma coisa", confessou, pessimista e de voz embargada.

Paulo Raimundo dá-lhe esperança para o futuro com uma tirada do passado, assinada pelo histórico líder comunista Álvaro Cunhal em 1975. "Como dizia o meu camarada, 'olhe que não, olhe que não'. Tenha esperança e confiança. Há forças para isso", frisa, antes de se despedir com um beijinho e um abraço.

Atravessou a rua e entrou de seguida noutro estabelecimento comercial, onde a Dona Anabela já o esperava para uma breve visita. Com uma idade por definir nos cabelos brancos (que diz não pintar) e uns olhos cuja cor "depende do vestido", enaltece-lhe a objetividade, a juventude, a "dicção muito simpática" ou as prestações em entrevistas e debates.

"O senhor está a fazer um bom trabalho, desejo-lhe muitas felicidades e com muita elegância e honestidade", afirma a Dona Anabela. O líder comunista agradece, quase envergonhado. "Muito obrigado. Elegância vamos tentando fazer por isso, mas honestidade pode ter a certeza", garante, antes de seguir em frente na arruada.

Aos jornalistas, a quem até dá beijinhos, Dona Anabela não poupa elogios a Paulo Raimundo, mas não lhe entrega o voto: "Não, ainda não. Não lhe vou dizer isso, eu mentia... No entanto, tenho de o avaliar e é nesse âmbito que estou a falar. Gostei, porque não anda com rodeios. É um homem com preparação, mais do que o Pedro Nunes [aludindo ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos]. Disse ao Pedro Nunes que não acreditava nele!"

Sempre ao ritmo das tradicionais músicas do partido, que soam a partir de uma coluna de som portátil nas mãos de um dos militantes, Paulo Raimundo continua até à Associação Sénior Autodidata de Portimão. Aqui, um dos idosos gaba-se ao líder comunista da turma para estrangeiros: "É para os integrar na sociedade".

Entra sorridente numa das salas onde decorre uma aula, para surpresa dos alunos presentes. "Acho que vocês não conhecem", confessa o guia da visita, mas um senhor, com pronúncia estrangeira, chega-se à frente e diz "Raimundo", provocando alguns risos antes de esclarecer de seguida: "Nós não votamos".

No percurso até ao largo junto da câmara municipal, pára para entregar "um documento da CDU com os candidatos" a um cidadão. Quem o recebe é António Almeida, de 62 anos, que a Lusa desafia a mostrar os seus conhecimentos sobre o secretário-geral do PCP.

"Sei [quem é]. É o líder da CDU e a menina que acabei de conhecer deve ser a cabeça de lista pelo Algarve [Catarina Marques]", afirma, sem as dúvidas que surgem de seguida quando se lhe pede o nome de quem o abordou. "Boa... Tem um nome fantástico. Deixe-me ver", e começa a remexer no documento, mas lá lhe é dada uma ajuda com o nome de Paulo Raimundo: "Exato, exato! A gente vai guardando os nomes, mas ele é relativamente novo à frente do partido".

Mais a sério, elogia "as causas", bem como a "consistência" da CDU na defesa do interesse público e defende que "faz falta à democracia". Porém, quanto à questão do voto, mostra que o segredo ainda é a alma do negócio: "O voto continua a ser secreto, gosto dessa parte".

Paulo Raimundo passa por uma outra loja de comércio tradicional e volta a assomar o pessimismo nas vozes de quem o interpela. "O comércio tradicional tem vindo a fechar", diz a senhora do estabelecimento, a quem Paulo Raimundo admite que "faltam várias coisas" para melhorar a situação, mas deixa um desejo: "Tudo a correr bem".

Ao fim de cerca de 30 minutos, Paulo Raimundo encerra a arruada com um breve discurso, no qual agradece o "contacto caloroso" e deixa novo apelo aos apoiantes para afastarem o pessimismo relativamente às eleições legislativas de 10 de março: "Deixem passar essas sombras no ar, porque estamos aqui a construir todos os dias o resultado eleitoral".

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