"Ministros falham na comunicação, decisiva num Governo minoritário"

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O antigo líder do Partido Social Democrata (PSD) Luís Marques Mendes avaliou, este domingo, o primeiro mês de Governo da Aliança Democrática (AD), que tomou posse a 2 de abril, falando, nomeadamente, da 'luz verde' do Parlamento para abolir portagens nas ex-SCUT ou da polémica com o ministro da Defesa, Nuno Melo, sobre a ideia do serviço militar obrigatório para jovens que cometeram pequenos delitos.

"Nem acho que Nuno Melo fez bem ao falar dessa ideia - porque agora é ministro, e não anda a expor ideias académicas -, mas também não acho que seja razão suficiente para o crucificar na praça pública", afirmou no seu espaço de comentário na SIC Notícias, referindo-se à justificação dada por Melo, de que se tratava de uma hipótese académica.

"Não é uma proposta, não vai ser uma medida", lembrou, defendendo que achava que a ideia em causa não era boa. Mas o social-democrata apontou ainda o dedo ao Governo da AD, dizendo que também se notava que nesta matéria "não há grande articulação dentro do Governo, porque a ministra da Administração Interna veio dizer que era uma proposta de todo o Governo. Afinal, nem sequer proposta havia".

Mas Marques Mendes foi mais longe e considerou que o "mais importante" não era o episódio em si, mas sim o que este representava. "Nuno Melo é um grande parlamentar e um político com grande traquejo. E eu acho que ele ainda não vestiu a pele, o fato, chamemos-lhe assim, da função que agora está a exercer, de ministro da Defesa. Acho que ele ainda está um bocadinho naquela lógica política e parlamentar. [Ser] ministro da Defesa é uma coisa muito diferente. Acho que ele ainda não vestiu este fato e deve vesti-lo rapidamente. O que significa mudar de comportamento e discurso", explicou, justificando que estas polémicas - com ou sem exagero - não ajudavam as Forças Armadas nem aquilo que é "essencial, a valorização", setor que tem sido desvalorizado por parte do poder político na sua opinião.

"É preciso inverter esta trajetória. Até porque depois da guerra na Ucrânia as questões da defesa e segurança ganharam uma segurança acrescida. E vão ganhar ainda mais no futuro. Se Donald Trump ganha as eleições nos Estados Unidos? Ele despreza a Europa e o pilar europeu da NATO. Portanto, os europeus vão ter de dar mais atenção a estas questões", apontou, 'aconselhando' Nuno Melo a ouvir os chefes militares.

Aprovada audição de Nuno Melo sobre serviço militar obrigatório

Aprovada audição de Nuno Melo sobre serviço militar obrigatório

A comissão parlamentar de Defesa Nacional aprovou hoje por unanimidade dois requerimentos do Chega e da IL para a audição urgente do ministro da Defesa sobre o serviço militar obrigatório como pena alternativa para jovens que cometam pequenos delitos.

Lusa | 16:50 - 02/05/2024

Confrontando sobre o 'silêncio' do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e se este poderia ser um sinal de embaraço, Marques Mendes considerou que este estava a falar pouco. "E, nos dias que correm, acho que isso é positivo. Uma vantagem", declarou, salientando, no entanto, que tem sido "assertivo" quando fala. "Como esteve bem em visitas. Como esteve bem a desmontar aquilo que podia ser uma bomba muito séria, que era a questão das indemnizações das ex-colónias. Ele desmontou bem isso. Quer na parte política, quer no discurso, [Montenegro] vestiu o fato de primeiro-ministro e tem-se saído bem", afirmou, lembrando no entanto as falhas de comunicação no Executivo.

"Uma parte grande dos ministros está a falhar no plano da comunicação. Em qualquer Governo a comunicação é essencial. Num Governo minoritário não é essencial, é decisivo", afirmou, exemplificando com as 'falhas' - por "excesso", como no caso de Nuno Melo, ou por defeito, como por exemplo no caso do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, em relação ao défice. "Ele até pode ter razão, mas da forma como as coisas foram colocadas - é a palavra dele contra a de Fernando Medina. Fica a sensação de que é combate político", afirmou, sublinhando no entanto que o atual responsável pela pasta das Finanças, que teve uma rápida resposta do seu antecessor, "é muito competente". "Acho que devia mais tratar da sua atuação como ministro das Finanças, e deixar o combate político para outros", atirou.

O comentador considerou que no plano das decisões, o Executivo tem atuado "pouco", dado que num mês foram tomadas duas decisões - uma em relação ao IRS e também decisões para acelerar a aplicação do PRR. "Duas decisões em 30 dias é curto. É preciso fazer mais. Nestes 30 dias eu gostaria - e acho que o país também - que já tivesse sido anunciada, por exemplo, a localização do novo aeroporto. Dava um sinal de coragem e capacidade de decisão", exemplificou, sublinhando, no entanto, que um mês apenas dava para "sinais" e não para um balanço" do Executivo.

E os "sinais do outro lado"?

Marques Mendes apontou ainda que também "do outro lado", da Oposição, há sinais negativos. "O regresso das coligações negativas, como houve na história das portagens. É a democracia a funcionar, mas aqui acho que é a funcionar menos bem", avaliou.

Lembrando a 'luz verde' dada pela Assembleia da República à proposta do PS, que só 'teve luz' devido aos votos do Chega, Marques Mendes considerou que abolir por completo as portagens em questão era "um desastre". "É preciso que as pessoas saibam que aquilo são receitas do Estado, não das concessionárias. O Estado vai perder milhões de receita. O que significa que o Estado vai ter menos verbas para fazer a conservação e manutenção daquelas autoestradas", alertou.

"Ainda vamos ter uma situação que está a acontecer em Espanha, onde houve abolição de portagens há uns anos, e há uma grande polémica porque o Estado não tem capacidade para manter e conservar o que tem", referiu.

Dizendo que este era um "primeiro problema sério", Marques Mendes reforçou ainda algumas críticas em relação aos socialistas. "É difícil compreender que o Partido Socialista esteve oito anos no Governo e foi sempre contra a abolição destas portagens. E agora está na Oposição e já é a favor e toma a iniciativa", criticou. Luís Marques foi confrontando com esta decisão ter sido uma das 'bandeiras' de Pedro Nuno Santos, que foi eleito secretário-geral socialista em dezembro. "Há uma mudança de líder. Não estou a dizer que não tem legitimidade. Mas para uma grande parte das pessoas é difícil de compreender", disse.

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