Argentina consegue cortar reticências dos investidores face ao risco

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Num contexto de desentendimento político com Espanha e de excedente fiscal, o regime de Javier Milei considera que o milagre económico está mesmo à sua frente.

No quadro de um desentendimento institucional entre a Argentina e a Espanha – que com certeza será rapidamente sanado – o jornal espanhol “El Economista” traça um cenário sobre as medidas económicas lançadas desde que o atual presidente, Javier Milei, chegou ao poder. Há cerca de um mês, o presidente argentino anunciava o registo de um excedente fiscal no primeiro trimestre deste ano.

Ao lado do ministro da Economia, Luis Caputo – acusado de ser o ‘pai’ da recessão que está a afundar a economia, muito por via da tentativa de controlo da inflação – e combatendo as críticas de muitos economistas face ao rumo da política económica, Milei disse que “o primeiro excedente argentino num primeiro trimestre desde 2008” pode ser o início do relançamento da economia.

O excedente deu-se muito por via do corte na despesa – o que, como chamaram a atenção vários economistas, tem o reverso da medalha: o aumento do desemprego. O que, em termos teóricos, não é mau para o combate à inflação por via da diminuição do consumo interno. Se o novo presidente conseguir estabelecer uma das suas metas programáticas – acabar com o Estado social – o aumento do desemprego não terá nenhum forte efeito nas contas da despesa.

“Sabemos que falta muito caminho por percorrer (…). Mas a inflação está a desabar”, afirmou o presidente quando deu a conhecer o excedente fiscal. Do seu lado está também a economia que ‘rola’ nos mercados mobiliários. Num quadro que se repete há décadas quando os analistas observam as economias da América Latina, a chamada economia de casino disparou desde que Milei chegou ao poder. Assim, o S&P Merval, o principal índice da Bolsa de Valores da Argentina, subiu 54% desde a posse de Milei em dezembro de 2023.

Mas o mais inesperado é que o risco país associado à Argentina tem vindo a melhorar – apesar de o ambiente social ser, a acreditar-se na imprensa argentina, extremamente cristado. O risco da Argentina – medida que não é pura matemática, incorporando outro tipo de perceções – registou uma queda recente de mais de 1.700 pontos: saiu dos 4.281 pontos em 8 de dezembro – último dado antes de o economista de extrema-direita assumir a Casa Rosada – e cotou há dias nos 2.542 pontos. Para muitos analistas, o risco país é um indicador que merece reservas – dado que nem tudo o que incorpora tem uma mensuração sem riscos.

De qualquer modo, parece estar a assistir-se a um ‘combate’ entre os dados económicos e o ambiente político que o rodeia. O jornal espanhol ”El Economista” dá nota desse ‘combate’. E, depois de afirmar que “a economia da Argentina está numa situação muito delicada”, marcada por uma “inflação que continua extremamente alta” e por uma economia “em território recessivo”, com o “risco de incumprimento a assombrar a dívida do país”, trata de elencar o que de bom está a suceder na Argentina.

Entretanto, a passagem de Milei por Espanha para participar no congresso mundial das extremas-direitas organizado pelo Vox, continua a dar que falar. Mas a maioria dos analistas afirma que, a curto prazo, a Argentina – intimamente ligada a Espanha nomeadamente por via da economia – e a Espanha acabarão por entender-se. A não ser que Milei descubra noutro lugar um apoio inesperado às suas políticas – mas isso só se tornará evidente no início de novembro.

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