Armindo Monteiro: “Devemos ter a ousadia de não sermos pobres”

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A CIP foi ao Porto para realizar o congresso ‘Mais economia para todos’ e para dar conta de que a batalha da competitividade e do crescimento ainda está longe de ter sido ganha. Antes pelo contrário.

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Armindo Monteiro, lançou um repto aos empresários e decisores que encontrou no congresso ‘Pacto Social. Mais economia para todos’, que reúne centenas de empresários, académicos, pensadores, gestores e administradores no Edifício da Alfândega do Porto. “Devemos ter a ousadia de não sermos pobres”, afirmou, para reforçar um indicador que o tem acompanhado desde que, há poucos meses, tomou conta da confederação: Portugal cresce pouco, cresce menos que o seu potencial – e tudo tendo a tornar-se endémico e impossível de reverter.

Num contexto em que o país está a três dias de entrar em campanha eleitoral, Armindo Monteiro não esconde que está ali para falar diretamente para os decisores – que quer evidentemente influenciar e a quem não deixará de ‘aborrecer’. Isto, na medida em que lhe for possível: todos os partidos com grupos parlamentares na Assembleia da República foram convidados a estar presentes e a tomarem parte como oradores, mas as ‘franjas’ – PCP, Bloco de Esquerda e Chega de André Ventura – declinaram.

A tese ’desenvolvimentista’ de Armindo Monteiro – que é, afinal, o pacto social que apresentou como movimento distintivo da sua ação enquanto presidente da CIP, assenta em três linhas de força: medidas de estímulo às empresas (onde consta o reforço dos capitais próprios e os ganhos de competitividade como elementos essenciais; aumento do rendimento das famílias; simplificação de procedimentos e eliminação dos custos de contexto.

“Temos que exigir a quem se prepara para liderar o país” que Portugal passe a crescer mais que aquilo que tem conhecido até agora – e basicamente desde que o país deixou o grupo triste das autocracias. “Conseguimos descolonizar, conseguimos democratizar, mas não desenvolver”, afirmou Armindo Monteiro, referindo-se diretamente ao ‘sonho’ de Abril, os três D’s.

Admitindo que “há palavras que estão gastas, já não falamos em reformas”, o presidente da CIP exige (é esta a palavra) um “quadro de desenvolvimento mais favorável” que só será conseguido “pela confiança”: “Portugal só cresce se cooperarmos”, afirmou. Admitindo que “não queremos soluções fáceis, queremos soluções que funcionem”, chamou a atenção que é a favor de uma “economia competitiva” mas que não perca o rumo do outro lado dos interesses: é também a favor de “uma economia com responsabilidade social”. “Queremos uma economia de pessoas e não de máquinas” – que, por outro lado, ‘destrua’ “a macrocefalia do território, que não faz sentido”.

Como também não faz sentido, disse ainda, “combater as grandes empresas, as empresas verdadeiramente internacionais”, que não são apoiadas – desde logo porque as grandes, as pequenas e as médias estão sob a alçada de “um Estado que as asfixia” – o mesmo sucedendo às pessoas. A Irlanda, como não podia deixar de ser, voltou a servir de exemplo.

Finalmente, e lançando o debate que se seguiria, Armindo Monteiro elencou os seus elementos quer servem para demonstrar – e principalmente para explicar – a endémica falta de crescimento da economia. Que desde logo se manifesta pelo facto de a convergência com a União Europeia ser um desastre: o país estava (em termos de PIB per capita) nos 85% há 25 anos e neste momento está nos 78,8%. O investimento em percentagem do PIB está acima dos 27% na União Europeia, mas não vai além dos 24% em Portugal. Os investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D) é de 1,7% do PIB em Portugal, que comparam com os 2,4% na União (o dobro!) A carga fiscal, que era de 30,8% há cerca de 20 anos, é agora de 36,2%.

Tendo citado Rui Veloso, um autor local, e os Pink Floyd, autores de um muro que souberam deitar abaixo e que nunca chegaram a atuar em Portugal, Armindo Monteiro quer uma espécie de revolução tranquila que de uma vez acabe com fatores que, tantos anos depois, já se transformaram num conjunto de estigmas a que, em conjunto, é necessário escapar.

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