Ataque a escola em Gaza. UNRWA critica "normalização do horror"

3 meses atrás 6683

Mohammed Saber - EPA

Dezenas de pessoas morreram depois de, na quinta-feira, as forças israelitas terem lançado um ataque aéreo sobre uma escola da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA) no centro de Gaza. Poucas horas depois, António Guterres condenou o ataque, classificando-o como um "exemplo horrendo" do que os civis passam neste conflito. Na mesma linha, o diretor de planeamento da agência lamentou que os incidentes com vítimas em massa, causados pela ofensiva israelita, estejam a normalizar-se no Ocidente.

Os ataques israelitas que fazem várias vítimas mortais e feridos estão a normalizar para os países ocidentais e a promover um sentimento de fatalismo mesmo em Gaza. A opinião é de Sam Rose, responsável da UNRWA.

“Considerando que todos vivem em condições apertadas e espaços sobrelotados, sempre soubemos que seria inevitável haver incidentes como o que aconteceu durante a noite na escola de Nuseirat”, começou por comentar, em entrevista ao Guardian.

Acabado de regressar a Londres, depois de cinco semanas em Gaza, Rose explicou que só naquela escola da UNRWA estavam abrigadas cerca de seis mil pessoas.

“Existem regras de guerra que apelamos a que todos os lados do conflito adiram para proteger a inviolabilidade das nossas instalações. Existem também princípios de distinção e de proporcionalidade”.

Segundo o responsável da agência da ONU, a maioria dos desalojados estariam abrigados no “pátio da escola nas condições mais desesperadas e não terá havido nenhum aviso de que ia ser lançado um ataque”, até porque “aconteceu a meio da noite, por volta das 2h00”.

“Já vimos isto várias vezes, a ponto de quase se normalizar”, lamentou. “Em conflitos anteriores, ataques como este causariam choque e indignação e seriam lembrados para sempre”.

Agora parece, criticou ainda, que “neste conflito este ataque será substituído por outro dentro de alguns dias, a menos que tudo chegue ao fim”. Nesse sentido, “quase se torna comum e mundano que estas coisa estejam a acontecer”. “Normalizamos o terror”, acrescentou.

No rescaldo do bombardeamento ao edifício, na quinta-feira, a UNRWA acusou Israel de ter atacado "sem aviso prévio" a escola da organização na Faixa de Gaza.

"Mais um dia horrível em Gaza. Outra escola da UNRWA transformada em abrigo foi atacada, desta vez em Nusseirat", declarou o comissário-geral da agência da ONU, Philippe Lazzarini, na rede social X.

As forças israelitas não fizeram qualquer "aviso prévio, nem aos deslocados nem à UNRWA", acrescentou, assegurando que a agência da ONU transmitiu os pormenores desta escola ao "exército israelita e outras partes do conflito".

“Consequências humanitárias dramáticas”
Só em três semanas, cerca de um milhão de pessoas se deslocou para tentar escapar ao combates em Gaza. Situação que, segundo Sam Rose, teve “consequência humanitárias dramáticas”.

Em algumas zonas do território a situação está “fora de controlo” e a UNRWA tenta “entregar ajuda numa zona de guerra”.

Entre ataques e deslocações na procura de abrigo, os palestinianos em Gaza tentam “compartimentar” as suas vidas para “se protegerem do horror”. O responsável da agência da ONU para ajuda humanitária aos palestinianos admitiu à publicação ter ficado impressionado “com o grande número de pessoas de muletas e de cadeiras de rodas, com membros perdidos, com feridas”.

“Haverá consequências psicológicas a determinada altura”, acrescentou, referindo que há famílias palestinianas que, desde o início do conflito, já se mudaram dez vezes.“A necessidade que estas pessoas têm de se ajustar repetidamente às realidades da vida em Gaza é algo que ninguém deveria ter de suportar”.

A ONU tem cerca de 300 escolas em Gaza, mas nenhuma está a funcionar normalmente desde 7 de outubro, tendo-se transformado em centros de acolhimentos para refugiados e deslocados que fogem do conflito. Estes edifícios, segundo explicou Rose, são muito procurados pelos civis deslocados porque têm painéis solares e centrais de dessalinização, o que permite maior extração de água.

Para além da normalização dos ataques e das vítimas em massa, Sam Rose condena o inadequado acesso de ajuda humanitária aos palestinianos em Gaza. A somar à insuficiente quantidade de mantimentos que chega ao território através de Kerem Shalom, a única passagem aberta, a entrega de ajuda pelas organizações é dificultada pelos combates.

“O que acontece em Gaza é que as coisas estão a piorar incrivelmente rápido, por isso as pessoas passaram de condições relativamente estáveis para a fase cinco de fome num curto período de tempo”
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